Victor Sotero
Sargº.Mor EABT
Damaia
Uma saudação ao "Comando" que heróicamente se tem mantido na sua cabine de pilotagem.
Uma saudação também para a "Linha da Frente" que está quase toda de férias.
Uma saudação ainda aos "Zés" que nos visitam mas que por vergonha ou falta de coragem não se apresentam a esta "Unidade".
Meu Comandante.
Hoje, está muito calor.
Talvêz por isso o meu subconsciente me tenha levado para terras por onde antes andei.
"Sorna", diriam alguns!
Mas não, a "missão" é para cumprir.
Num destes dias, sendo "nomeado" para Angola, viajei até Luanda, terra da Cuca e Nocal.
Estava já no Clube de Especialistas esperando pela minha colocação numa das Unidades da Região Aérea.
Sentado junto a uma mesa, tinha já por companhia um prato com lagostas e uma Nocal.
De repente e ainda sem ter dado uma "martelada" no cetácio, acordei.
Éram cerca de 03H10.
A noite estava quente.
Volto-me para um lado, viro-me para o outro. Não conseguia dormir.
Pela minha mente, um livro "imaginário" que comecei a ler, página a página. Desfolhei folhas uma a uma.

De repente, lembro-me de um "ZÉ", o "Beatnic".
Não me lembro do nome, mas fosse qual fosse, foi sempre o "Beatnic" que me ficou na memória.
Era um "Especial" de Comunicações.
A sua farda foi sempre o fato de macaco da farda amarela encimado pelo célebre "bico de pato".
O fato de macaco, não sei se alguma vêz foi lavado.
Para alem de sujo, eram nodoas por todo o tecido.
O "Beatnic" usava ao pescoço vários fios de sola, de corrente e até mesmo de cordão.
Em cada fio, uma pendureza. Corações, em lata, em sola.
Num, tinha escrito: "MAKE LOVE NOT WAR".
Era o tempo de Bob Dilan e das grandes manifestações que se iam fazendo sentir pelo mundo fora.
A sua maneira de andar era muito esquisita, muito desengonçada.
Olhava sempre para o chão abanando muito a cabeça e transpirando uma espécie de sorriso.
Foi de certeza num fim de semana de 1968.
Da minha camarata para um poste de electricidade, quando necessário, esticava-se um arame e lá se pendurava a roupa para secar ou para arejar.
Talvêz do lado do poste eu tivesse prendido o arame baixo de mais.
O "Beatnic" aproximava-se enquanto eu ia lavando a minha roupa.
De repente, um enorme barulho.
Olhando, vejo o "Beatnic" estendido no chão e com as mãos em redor do pescoço.
Tinha sido "apanhado", quase "estrangulado" pelo arame, na zona da garganta.
Estava todo esfolado e escorria algum sangue pelo pescoço.
Agarrei-o e quis levá-lo para a enfermaria, juntamente com o "ZÉ" Janica.
Em vão!
Pouco tempo depois, lá continuava o "Beatnic" com as suas caminhadas na sua ortodoxa maneira de andar.
O "Beatnic", sim, estava "cacimbado".
Nunca mais o vi, mas no meu "imaginário" livro de recordações, ele permanece não merecendo ser esquecido.
Meu Comandante
Do " Comando", da "Linha da Frente" e de todos os "ZÉS", despeço-me com um até breve.
Sotero