Olvídio Sá
Esp.EABT
Chaves
Já fizemos uns quantos voos e outras tantas aterragens, quer isto dizer que, em segurança , não fora o comandante desta prestigiada nave um «Zé Especial». Para Ele aqui vai o meu reconhecimento, levando todo o comando o meu voto de felizes dias no conforto da lareira e desejo a todos quantos nos lêem, normais e muito boas aterragens.
Um qualquer sábado de 1971, em passeio pela Sanzala no N´gage, na sempre agradável companhia do «Zé» Especial Marques, Quando a tarde, de um Sol que tinha sido brilhante e quente, entrara já no declínio do seu dia a dia, com a natural modorra e deitando-se no horizonte Descortinámos um agrupamento de pessoas notando-se uma ténue nuvem amarelada, sendo esta tranquilizadora mancha resultante da famosa farda amarela que estava em uso por todo o pessoal da FAP.
Mais uma vez se repete o velho e ainda bem presente -RIFÃO-. Os «Zés» Especiais não podiam deixar de estar presentes, pois se estão em todo o lado! Sem nada falarmos um, dirigiu-se para lá o outro, segui-o.., Á medida que nos aproximávamos notávamos cada vez mais audíveis os toques e falares dos naturais e a respectiva dança (O Merengue). Com grande naturalidade voltamo-nos um para o outro e quase em uníssono dizemos:
- É um óbito!
E se bem depressa o pensámos mais rapidamente o fizemos, ambos nos dirigimos para o então mortório, estando este numa improvisada Eça não posso precisar mas não estarei longe da realidade se disser que na sua grande parte ou seja a coluna vertebral era à base de grades de -CUCA- a sempre apreciada cerveja.
Quando chegámos a este local pensámos o que era quase impossível, entrar na casa, a qual fora construída por blocos de adobe provavelmente em dias de maior felicidade (Para nós, claro. Para os familiares do morto … é do domínio deles essa que para nós –Cristãos -é a verdade incontestada.
Como não encontrámos outro meio, há que cumprimentar os «Zés» aí presentes, ao mesmo tempo que íamos empurrando sem que se notasse e, claro está que não foi grande a demora sem que tudo ou, para ser mais concreto, quase todos estivessem de pernas para o ar, entrando nós na casota sem que ninguém suspeitasse termos sido nós quem provocou esta hecatombe pois se até o morto estava no chão em desalinho, preocupados uns tantos naturais em colocá-lo no seu lugar cujo era bem ao centro com alguns e algumas bebendo a –CUCA- quente, ao que nós anuímos também. Um gira-discos tocava sempre o mesmo já que quem comandava as operações estava com uma mão na sua cerveja e com a outra tinha que fumar logo, quando o disco se calava o naturalmente homem de cor, que conversava com outro patrício o qual tinha uma «carraspana» parecendo igual à sua, este nem sequer mirava o disco , com o polegar e o seu indicador pegava no braço do gira-discos, levantava-o assim como o pousava onde calhava algumas vezes fora da respectiva merengada., apressando-se em colocá-lo no disco que logo que tocasse, todo mundo entrava de novo na dança e com uma cerveja na mão assim se foi esticando a noite até de madrugada. Só porque uma pessoa tinha falecido era motivo para entrar neste delírio cantando, dançando e bebendo até apanhar uma enorme «carraspana».
A tudo isto eu assisti …pois se no nosso «Puto» quando alguém parte sem retorno, se nos é muito querido choramos e gritamos enquanto que eles em sua terra reúnem-se os mais chegados, para cantar e dançar.
Será a razão nossa ou deles? Como nunca o saberemos, assim vamos vivendo enquanto nos deixam.
A Paz esteja com todos os que foram antes de nós.
Angola A.B. 3 N´gage 1968/1974
Res. Of. Chaves «Puto» Que crescerá...
Comando desta Tertúlia-Linha-da-frente Tudo quanto escrevo é directamente vertido para posterior envio ao prestigiado Blog. O qual pode e deve ter um pouco de orgulho por tanto que tem feito por nós. Podemos todos gritar – BENDITA A HORA
É um espaço Cultural onde vezes sem conta vamos bebendo a sabedoria que nos é servida vinda dos mais diversos quadrantes.
É um espaço Noticioso pois muitas vezes é através dele que somos informados daquilo que aos «Zés» mais directamente respeita.
É um espaço de Lazer onde vamos ao fim do dia ou de tempos a tempos ler as mais diversas aventuras de um «Zé» sendo ou não personagem.
É um espaço de Procura onde podemos encontrar o que sem êxito foi procurado até à exaustão. Caso que comigo ocorreu quando, passados 38 anos venho a saber que um grande amigo –«Zé Especial -Marques de Leiria- está em França e com ele mantenho uma sã conversa via PC.
Se é certo que tudo o que ora escrevo vai directamente para o local de leitura sem que seja feito um único rascunho, ao caríssimo Blog o devo pois sei que a maioria é assim que procede. Mas, por outra razão essa ainda mais pesada neste imbróglio de palavras não rascunhadas é a minha doença que, em cada dia passado mais se agudiza e chama-se PSP. Não, não é nenhuma Polícia de Segurança Pública com a qual sempre estive em óptima harmonia. É, isso sim, Paralisia Supra-nuclear Progressiva cujos sintomas são os seguintes: abstracção de tudo o que possa fazer; não durmo e, como não consigo estar na cama , levanto-me todos os dias por volta das cinco horas e tomo um banho de água bem quente pensando que assim dormirei o que falta para ainda ser dia, só a poder de muito esforço é que lá consigo virar-me na cama, começo a escrever com letras maiúsculas e bem gordas para acabar numas tão raquíticas e pequeninas que nem eu consigo ler o que então escrevi, correm-me as lágrimas dos olhos sem que esteja a chorar, tenho muita dificuldade em sentar ou levantar-me, não sei comer sem deitar muita comida para o chão e desequilibro-me com muita facilidade estatelando-me no chão. Já fui ao hospital não sei quantas vezes com a cabeça partida pois, por cair de pé ou seja do chão a cabeça, os cotovelos e as partes mais salientes são sempre mais vulneráveis que as demais, até uma clavícula parti e, no dia vinte e quatro, depois de ter subido as escadas que são dezasseis degraus não me agarrei a nada e trazia as nãos cheias de diospiros somei a andar para trás quando ia no décimo degrau, nem pensei em segurar-me e lá fui eu fazer massa com os diospiros. Lá foi mais um golpe na cabeça e umas dores que hoje sinto no lugar onde me doía a clavícula fracturada já que foi no mesmo lugar. O Esquerdo.
Com tudo isto como podia eu estar presente no almoço-convívio? Se é certo que, a minha mulher a qual ainda é e será sempre a mesma, muito me incentivou e me levava no automóvel eu e posteriormente ela, achamos por bem não ir.
Para toda a tripulação deste tão grande e belo voo envio o meu abraço, o qual é extensivo a toda a gente que vos é querida
O Zé Especial.
Olvídio A. A. Sá
VB: Amigo e Companheiro Olvídio, agradecemos as tuas palavras amigas sobre a postura deste nosso espaço.
É trabalho de uma equipa coesa de quatro elementos que amam a causa do “ZÉ ESPEC IAL” e, consequentemente a nossa FAP.
Não é fácil despender de algumas horas no nosso dia/dia para para podermos dar resposta ao tráfego que diariamente aqui “aterra”,mas conseguimos sempre um pouco de tempo para tal.
Deixou-nos um pouco triste o teu estado de saúde não ser o melhor, mas por outro lado analisamos que o teu estado de espírito é muito forte para enfrentares a situação.
Um forte abraço para ti