É esse exercício que hoje vos trago, pois certamente alguns de vós participaram nesta história.
E a história pode intitular-se “A noite mais perigosa da minha guerra”
Ela passa-se em 1973, na Base da Bissalanca, mais propriamente na noite de S.João
Há festa entre o pessoal do Grupo121, pilotos, linha da frente, manutenção, bombeiral, ... Comemora-se Santos Populares.
De Lisboa chegou o NORD carregado com caixas de sardinhas.
Durante a tarde prepararam-se os assadores típicos da FAP (meio bidon a trabalhar a carvão e JP-4), as batatas, o tinto e as saladas.
A noite correu pelo melhor, comeu-se, bebeu-se e conviveu-se como só se consegue conviver nas noites africanas.
Já no fim do repasto, o Hélder chama-me a um canto, para que prove a aguardente especial que tinha vindo da sua terra.
É uma verdade indiscutível que, depois de uma sardinhada, é necessário uma bebida forte, sem a qual a digestão se torna lenta e difícil.
Apenas saído desta prova e já o Victor Barata, não querendo ficar atrás, apresenta-me um medronho de primeira.
E depois foi o Miguel o Mário e o Correia, cada um tentando mostrar que os bagaços das suas terras eram melhores que os restantes.
Por volta da meia noite a festa está a terminar, é tempo de ir dormir, que no dia seguinte a guerra continua.
Só que tenho de regressar a Bissau (a partir do meio da comissão passei a ser dos finos que dormiam na cidade) e o meio de transporte é a minha moto, uma bela, potente e roxa Yamaha 200, comprada com 16 notas da Metrópole num stand da Av da Liberdade ( a que vai do Palácio do Governador ao cais, agora Av Amilcar Cabral).
Cabe aqui um parêntesis para informar que a primeira vez que andei de moto foi no dia que a fui buscar ao stand, o vendedor tão assustado ficou que não ma queria vender, só as D. Marias o descansaram. (Tirei a carta uns meses mais tarde).
Voltando à história, ainda estive uma meia hora recostado naquelas grandes valas que existiam na Base para escoar a água das chuvas.
A ideia era tentar alinhar os gyros e pensar se havia de me meter ao caminho ou não (o problema não era o balão, que nesse tempo não existia).
Após profunda meditação e analisando os prós e os contras, resolvi meter-me à estrada.
Lembro-me apenas de sair à porta de armas e de posteriormente ter passado junto a um dos quartéis que existiam à beira da estrada, poucas referências para um trajecto de cerca de dez kilómetros.
Enquanto circulava de gás-à-tábua, o meu pensamento não parava de me alertar para que, ao chegar ao destino tinha que travar, travar, travar.
E assim aconteceu, consegui fazer os dez km sem bater em nada nem em ninguém (ou não fosse eu um “Tigre”), a terceira referência da viagem foi a porta da minha casa onde, a travar, a travar, acabei por bater, mas já muito devagarinho.
E tão contente fiquei de ter chegado (e parado) que nem sequer me lembrei que o passo seguinte era por o pé no chão, trambolhão da moto abaixo, a 0km/h.
Na manhã seguinte fui voar com um braço todo entrapado, e os Zés da linha foram promovidos a super especialistas da inspecção exterior, que as costas estavam doridas.
Hoje, 36 anos passados, o vicio das motos ficou, trambolhões só dei mais um, também a 0 km/h.
E ficou a saudade dos bons momentos passados na Base da Bissalanca.
VB.É verdade,foi uma noite de arromba.Se bem me lembro,havia uma pessoa que não estava habituada a beber e... Quem teria sido? Se a memória não me atraiçoou(não sei se foi nesta ou noutra festa) até houve alguém que entrou em "perda"para dentro do lago!?...
Recordar é viver e destas coisas se faz a história de cada um de nós.
Ó Matos, esta história da moto quando chegaste ao destino, quase que era boa para os apanhados!!!