quarta-feira, 27 de novembro de 2019

Voo 3562 NATAL COM CHAMPANHE.






Ângelo Foro
Esp.MMA
25-11-1972



eu com Deus – Natal com Champanhe
Se o Natal existe então hoje para mim é Natal e, claro tenho razões muito fortes para o celebrar com champanhe, até cair para o lado. Mas vale mais cair para o lado com o “meu champanhe” que com um tiro.
Eu não acredito no Satanás. Esse deus serviu sempre para desculpar Deus quando ele se ausentava para as suas diversões com o conhaque.
É que Deus criou o mundo e depois o homem que depois o abandonou.
Mas faz hoje 47 anos que Deus sentado no seu trono, fez uso dos seus poderes como é conhecido de: Omnipotente e Bondoso. a minha sorte foi ele ter regressado de férias o dia anterior.
25-11-1972
Vou fazer uma evacuação na zona de Bula, Guiné e;
Saem dois helis; um eu com missão de evacuar e um heli canhão a fazer proteção.
Enquanto o heli-canhão está na zona a fazer fogo, nós andamos aos círculos a espera de ordem para aterrar e proceder a uma evacuação.
Aterramos e surge logo tropas a “evacua”, mas também um graduado que estava passado da cabeça e um soldado estava a comandar o que se conseguia fazer. E pede-me de forma comovente que o ajude a ir buscar pessoas em situação muito delicada. Nisto do outro lado da bolanha começa a chover metralha. O meu heli levantou voo e eu fiquei.
FOI O CAPIM QUE ME SALVOU
Dirijo-me pra a mata e passo e vejo homens já desafortunados da vida, quando uma voz “escondida” me chama para seu lado, com o objetivo de nos ajudarmos cada segundo que passava parecia uma eternidade. eu penso que minha vida ia terminar ali e começo a criar pensamentos meus enquanto que eu e o soldado meu companheiro, assistíamos aos acontecimentos e pensar num plano.
Poucos minutos a seguir uma parelha de G91, bombardeia o outro lado da bolalha e quase logo a seguir aparece o meu heli e sou evacuado com mais cinco companheiros. Não me lembro como os ajudei a subir para o heli. Não sei como o combustível do heli deu para tanto tempo, ou então era a ansiedade que fazia o tempo "esticar".

segunda-feira, 11 de novembro de 2019

Voo 3560 MAGUSTO DE S. MARTINHO DO NÚCLEO DO PORTO DA AEFA.






Manuel Pais
Esp.EABT
V.N.Gaia

A Direcção do Núcleo do Porto da AEFA , levou a efeito o seu tradicional Magusto de S. Martinho na Quinta da Costa do nosso Amigo e colega Manuel Batista , que não poupou esforços para que tudo corre-se bem e que no final , e após agradável confraternização , todos saíssem satisfeitos 
Á Direção do Núcleo os nossos Parabéns 





Voo 3559 A PRIMEIRA INCORPORAÇÃO FEMININA DA FAP.





Victor Barata
Esp.Melec.Inst./Av.
Vouzela

A 11 de Novembro de 1991, há exactamente 25 anos, a Força Aérea recebeu pela primeira vez uma incorporação com mulheres. O que teve grande cobertura mediática.
Amanhã, o Centro de Formação Militar e Técnica da Força Aérea, na Ota, assinalará a efeméride recebendo todos os elementos do grupo original que possam deslocar-se até esta Unidade. Ser-lhes-á proporcionado um dia em cheio.
Publicaremos as fotografias do evento de amanhã assim que pudermos. Para já deixamos-lhe estas que recuperámos. Têm 25 anos!









domingo, 10 de novembro de 2019

Voo 3558 ÍNDIOS!





Francisco Serrano
Esp.MMA
Caparica
Lisboa


O meu ZINGARELHO, o meu cavalo alado companheiro de tantos momentos e aventuras.
Tanta dedicação e prazer nesta máquina voadora, quantos momentos de tensão no cumprimento das missões no teatro de guerra, mas também da adrenalina na embriaguez do voo naquela África enfeitiçaste, quantos percalços, quantas vidas salvas no limite nas mais adversas situações de perigo, ninguém era deixado para trás !
O pensamento é livre e voa como o vento, e recuo no tempo e volto a estar com aquela família que nos juntou para sempre , e lembro aqueles anos em que fomos soldados e irmãos.
Fomos jovens ÍNDIOS , não fizemos pacto de sangue , mas ficámos ligados por fortes laços de amizade como irmãos para toda a vida.
Grande abraço para todos.

















sexta-feira, 8 de novembro de 2019

Voo 3557 MONTAGEM E TESTES DO FIAT G91 NA GUINÉ.




Mário Santos
Alf./Pil
Loulé


Montagem e testes dos primeiros Fiats G-91 R4 a serem montados e em estado operacional na BA12 em BISSALANCA-GUINÉ. Abril de 1966.









domingo, 3 de novembro de 2019

Voo 3556 TARTIBO - DA RECONCILIAÇÃO Á TRAGÉDIA


Francisco Serrano
Esp.MMA
Caparica
Lisboa

Histórias de um tempo em que fomos soldados e irmãos .
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Após o regresso de África para quem tinha convivido com a realidade da guerra, era complicado a readaptação ao quotidiano num ambiente Pacífico.
O comportamento perante certas situações era confuso devido a traumas deixados por dois anos vividos sob momentos de alarme, ansiedade, angústia, e muitas e fortes emoções.
Aqui em Almada onde vivo , quantas vezes parei junto á porta de uma tabacaria e ficava olhando um senhor todo vestido de preto que ali trabalhava, sabia quem ele era, tinha algo para lhe dizer, mas quando avançava para lhe falar, hesitava e recuava sempre, e o tempo foi passando acabando por nunca conseguir fazê-lo.
É algo que ainda hoje me perturba por não saber se lhe causaria sofrimento ou alguma paz de espírito.
Mas recuemos para os nossos verdes anos 66/67 juventude plena de sonhos e ilusões, das paixões e amores velozes, mas o espectro da guerra colonial e a mobilização pairavam já no horizonte.
Poderia haver em alguns de nós um misto de curiosidade e descoberta por África, como jovens irreverentes de espírito aventureiro imaginávamos como seria experimentar a adrenalina no teatro de guerra.
Mas para os nossos pais era um momento que esperavam com angústia, e depois se seguiam dois anos de preocupação e saudade ansiosos pelo regresso sempre em sobressalto.
Sabemos como era o drama nos embarques dos contingentes militares nos cais de Lisboa, como se fosse o último adeus, o último abraço, o último beijo , num ambiente de desespero, dor , incerteza, e sofrimento.
Certo dia em amena cavaqueira numa conversa de grupo, o assunto era uma disputa amorosa, e eis que sem esperar sou surpreendido com dois fortes socos na cara pelo meu confrontante o Pedro, que de imediato se pôs em fuga tipo bate e foge, que me deixou sem reação.
Não fiquei com sentimento de vingança, mas as relações de convívio e amizade entre os dois terminaram ali , e assim o tempo foi passando sem mantermos qualquer contacto, cada um na sua vida profissional pois ambos filhos de famílias humildes havia que trabalhar cedo, ele como montador de toldos, eu como serralheiro mecânico na Indústria automóvel, e assim foi até a incorporação militar, eu na Força Aérea e ele no Exército.
Nas tripulações dos Helicópteros, pela nossa ação na cobertura por todo o território de intervenção militar, aterrando e descolando em todo o lado, picadas, no mato, em aquartelamentos, no interior de pequenos destacamentos, eram frequentes muitos encontros com amigos e conhecidos.
Ali naquela África longínqua estavam os jovens do nosso tempo, companheiros de escola, do trabalho, do bairro, e por vezes com laços familiares, primos, irmãos, cunhados, etc., era a juventude de uma geração sacrificada com tantos anos de guerra.
Em Cabo Delgado nas missões que cabiam á Esquadra de Helicópteros (Índios) com destino a Nangade, quase sempre voávamos ao Tartibo levando mantimentos e correio, como não tinha pista de aterragem só o Helicóptero podia fazê-lo.
O Tartibo como muitos outros era um buraco aberto no coração verde da selva Africana, e este ficava perto de Nangade a que pertencia como destacamento, com um grupo reduzido de militares, situava-se na fronteira com a Tanzânia na margem sul do Ruvuma em zona de passagem e infiltração dos guerrilheiros da Frelimo.
Rio Ruvuma cujas águas muito sangue levaram na sua corrente para o mar, lembro o Capitão Ventura Piloto Aviador que ali perdeu a vida mergulhando com o seu T-6 abatido por fogo antiaéreo .
Numa destas deslocações ao Tartibo uma surpresa me esperava; entre os camaradas que se aproximavam do Helicóptero para receberem os mantimentos e correio, uma cara me era conhecida, fixámos o olhar um no outro, indecisos sem nada dizer como que espantados.
Ali estávamos os dois, numa zona de guerra, que local tão marcante para o reencontro, o Pedro e eu , a quem ele presenteou cerca de quatro anos atrás com dois surpreendentes socos na cara por causa do namorico.
Qual vingança ? Qual pedir explicações ?
Depois de alguma hesitação de ambos, abraçámonos fortemente com uma enorme alegria num momento de grande emoção tão longe da nossa terra, o que estava para trás ficou esquecido e a amizade de novo reatada.
Assim nos fomos encontrando nas deslocações que ali ia fazendo, o Pedro era sempre o primeiro a aproximar-se do Helicóptero quando via que era eu o mecânico que lá vinha, pois também a partir daí mesmo não me pertencendo eu procurava sempre fazer esses voos para estarmos uns minutos juntos.
Mas como diz o ditado: "não há mal que nunca acabe , nem bem que sempre dure "
Até que um dia no reabastecimento habitual ao aterrarmos , o Pedro não comparece á chegada .
Notei um certo embaraço nos camaradas que sabiam da nossa amizade, e já preocupado perguntei : então o Pedro ?
Responderam : não soubeste que á dias sofremos um bombardeamento ?
Sim soube, respondi logo nervoso.
Pois o Pedro corria para o abrigo e foi atingido tenho morte imediata.
Gelei ! fiquei abalado e tentei manter a calma, foi curto este tempo de reconciliação e amizade, na guerra eram breves os momentos de alguma felicidade, só o tempo era lento parecendo durar um eternidade a chegada do dia do regresso.
Descolámos de volta para Muéda, ali ficavam estes bravos soldados na incerteza constante pela vida, quantos mais a perderiam futuramente ali naquele buraco ?
Terminavam assim tragicamente os momentos de alegria para os dois naqueles curtos espaços de tempo em que nem cortávamos o motor (turbina) do Helicóptero, mas era o suficiente para considerarmos um dia bom naquele ambiente tão pesado e adverso .
A rotina continuou , mas perdi a vontade de voltar aquele local ,sabia que á chegada já mais iria ver á frente de todos o amigo Pedro para aproveitarmos o máximo daquele pequeno momento.
Alguns anos depois do regresso deixei de ver o senhor de preto a quem nunca tive a coragem de abordar, era o pai do Pedro, queria ter-lhe contado tudo isto e não consegui, ainda hoje sinto alguma mágoa.
Achei por bem que não devia incomodar no seu recolhimento e dor, alguém que perdeu um filho no auge da juventude e tão longe de si , sem mesmo os restos mortais poder ter.
Que descansem em paz !
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Muéda de todos nós
Que pisámos o teu chão
Com tanto sangue regado
Dizemos com emoção
Que os mortos caminharão
Para sempre ao nosso lado
Mecânico de Helicópteros Moçambique 71/72