sexta-feira, 1 de outubro de 2010
Voo 1935 UMA HISTÓRIA À MODA DO ZÉ.
Victor Sotero
SargºMor EABT (Refº.)
Damaia
Meu Comandante
As minhas saudações ao "Comando" à "Linha da Frente" e a todos os "Zés" que nos visitam.
Pegando no meu "imaginário" livro de recordações, logo nas primeiras páginas dou com duas folhas, coladas pelo tempo.
A imaginação é fértil e como tal, uma panela com água a ferver, um pouco de vapor, alguma paciência e eis que as folhas se descolam.
Depois,...dou comigo a ler uma história que faz muitos anos me foi contada, já não me lembro por quem.
Introdução
Nos meus tempos de Soldado Aluno, a minha turma de Abastecimento, na segunda fase do curso passou a ter a disciplina de Física que nos era ministrada pelo então Tenente Sá Couto.
Legenda:Porta de transição do aquartelamento para o GITE (aulas).
Para alem das aulas, estava colocado no Concelho Administrativo da nossa casa mãe.
Homem de porte altivo, pouco sorridente e de certo modo algo militarista.
Aquando de Oficial de Dia, era dos poucos que mandava o Soldado Clarim entrar dentro das
Esquadrilhas e tocar o "Alvorada"
Com o eco, tornava-se horrível ouvir aquele toque pela manhã.
Claro que tanto o Oficial de Dia como o Soldado Clarim, ouviam sempre palavras "bonitas".
Mais tarde, como eu tinha sido colocado na Ota, foi meu chefe.
Era um homem afável, respeitador, educado e uma pessoa com quem se podia falar. Ligado ao principio da disciplina, não permitia que esta fosse quebrada.
Tinha para sua deslocação um Austim 850 verde escuro.
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Recuando alguns anos atrás, em 1960 ou 1961, era Comandante da Base Aérea nº 5 o Coronel Galvão de Melo. Na Formação,
encontrava-se colocado o Alferes Sá Couto.
Quando de Oficial de Dia, ordenava ao Soldado Clarim que tocasse a "alvorada" no corredor da camarata dos nossos "Zés"
Com aquele barulho todo, não havia timpanos que resistissem!
Qualquer um tinha que forçosamente ficar desperto.
Numa manhã gélida de um dia de Janeiro, com o calor das mantas, que convidavam a tapar a cabeça e como tal, a uma "gazeta" ao pequeno almoço, alguns "Zés", como já era costume, ficaram no fofo do colchão quente, esquecendo-se que o Comandante da Formação, normalmente, passava ronda pela camarata e claro, tirava o "algarismo" a quem ainda estivesse no quente da sua cama.
Era a primeira vêz que o "Zé Manel" tinha ficado sem o "algarismo".
Tinha por obrigação apresentar-se juntamente com os outros "Zés" a determinada hora, no gabinete do Comandante da Formação.
Aflito mas resignado, o nosso "Zé", bem como os outros companheiros, lá foram ouvindo o "sermão" do Comandante.
Como era apanágio deste oficial, sem dar muitas explicações, aplicou a cada um, 15 dias de dispensas cortadas.
Inconsolável, sem fazer grandes alaridos, deixou que todos saíssem do gabinete e dirigindo-se ao Alferes Sá Couto, perguntou:
-Ó meu Alferes, dá-me licença?
-Ouvi dizer que tinha uma motorizada para vender e eu gostava de lha comprar.
-Fazia-me muito geito e os meus "velhos" estão na disposição de me abonarem as "massas" para a comprar.
Era verdade que o nosso Alferes Sá Couto tinha comprado um mini 850 e queria desfazer-se da sua "Florette", coisa que ainda não tinha conseguido.
Muito triste, o nosso "Zé" disse:
-Pois é, meu Alferes o problema agora é que não posso ir a casa buscar a "massa" e lá perco esta oportunidade.
Rapidamente o "algarismo" foi retirado da lista.
Durante algum tempo o nosso "Zé Manel" evitava a todo o custo o Alferes Sá Couto, mantendo-o sempre à distância para não ser "agarrado".
Aliviado ficou o nosso "Zé" quando soube que o nosso Alferes ia ser transferido para a Ota.
Meu Comandante
Despeço-me com as minhas saudações Aeronáuticas do "Comando", da "Linha da frente" e de todos os "Zés" que por esta Base nos vão visitando.
Sotero
Nota.:-Não sei se esta história alguma vez foi publicada, pois noutros tempos havia um boletim da B.A.5, onde por vezes se publicavam"coisas" engraçadas.
O que sei é que ma contaram à muitos anos e penso que foi verdadeira.