Victor Barata
Esp.Melec/Inst./Av.
Vouzela
Um dia na Linha da Frente das DO 27,na BA 12.
O serviço de Mecânico Electricista de Instrumentos e Aviões na linha da frente das DO 27 na Base Aérea nº12,tinha a duração de 24 h, iniciando-se ás 13h de um dia e terminando à mesma hora do dia seguinte. Este período era interrompido pelo por do Sol do dia em que começava, para ser retomado com o nascer do Sol do dia em que terminava.
A equipa era constituída por um 1ºSargº.MMA,dois Mecânicos MMA, um Melec./Inst./Av. E um de Rádio.
O efectivo destas aeronaves operacionais, era normalmente de 10/12.
Em virtude do reduzido número de efectivos na linha, na Base, e do bom ambiente que sempre reinou esta família, o Mec.Elec. para além da sua especialidade dava saída e recebia aeronaves, fazia o ponto fixo, evacuações, transporte de correio e pessoal, Revis, etc. Bom, também era preciso fazer as horas de voo obrigatórias no semestre para que pudéssemos usufruir do prémio de voo que nos proporcionava mais algum “patacão”.
Em termos de reparações, só se faziam as mais rápidas, pois caso contrário o avião recolhia à manutenção e era dado com “fora de serviço” até que esta o remetesse à Linha como operacional.
Houve um curto período em que se fizeram algumas evacuações nocturnas, poucas, embora o pessoal do terreno dele necessita-se com muita assiduidade, o certo é que não havia condições de segurança para a execução de tais missões.
Sempre que saiamos para qualquer missão e aterrávamos numa das 47 pistas (se não estou em erro?...) existentes na Guiné, éramos tratados com um estatuto privilegiado pelo pessoal de terra. Procuravam proporcionar-nos uma confortável estadia, oferecendo-nos o que de melhor tinham. Apraz-me aqui ressalvar, que nunca em parte alguma que aterrei, alguém tivesse trato diferente entre o Piloto e o Mecânico, assim como o Piloto nunca pôs em evidência o seu estatuto em relação ao Mecânico, ou seja, a equipa nunca se separava.
Recordo um DO que foi fazer uma missão, não me recordo de que tipo, ao Olossato.
Quando chegou a hora de colocar o motor em marcha e fazer o ponto-fixo, o magneto esquerdo estava com queda de rotações excessiva .Não havia condições para a descolagem.
Pronto, parar o motor e deixar arrefece-lo ,cujo a temperatura, se a memória não me atraiçoo-a, era de 120º para a descolagem.
E como calibra-lo se não havia nenhum Time Light?
Deixei arrefecer o motor,o que demorou algum tempo,num clima já por si de altas temperaturas perder 120º…
Então lá abri o capot do lado esquerdo,retirei a vela do cilindro nº 1 e coloquei o dedo indicador da mão direita no orifício do cilindro deixado em aberto pela vela.Com a mão esquerda rodei o hélice lentamente até que o embolo do referido cilindro me pocasse a ponta do dedo, sinal de que o magneto esquerdo devia estar mais ou menos calibrado.
Vamos colocar a vela, fechar o capot, por o avião em marcha e esperar que a temperatura voltasse a subir até aos tais 120º.Estava nos limites e tolerância para efectuar o voo com segurança, vamos para o ar!
Fruto das Universidades da Ota e Paço de Arcos, fomos ,somos e seremos os EXEMPLARES ESPACIALISTAS DA FAP.
Com formação teórica de ano e meio nas Universidades da Ota e Paço de Arcos,”enviaram-nos”para a guerra reparar aviões, quando muitos de nós nunca os tínhamos visto!
As TO’s, “aqueles calhamaços” que identificavam as peças das respectivas aeronaves, através do seu part-namber, escrito em inglês quando muitos de nós só sabíamos o português…
Isto tudo aliado ao nossos 19 anitos e 1500 pesos de vencimento…SOMOS PARTE INTEGRANTE DA HISTÓRIA DA FAP.
Gostava ainda de deixar aqui alguns nomes de companheiros que me ajudaram a ser o homem que hoje me orgulho de ter serviço, como ESPECIALISTA, a Força Aérea Portuguesa
Madeira,(falecido em acidente aéreo)Sabino,Helder Patricio,Miguel Falcão,Pascoal,José Cabaço,António Sousa,Girão,Ferreira e tantos outros.