António Loureiro
Fur.PA (Polícia Aérea)
Figueira da Foz
Dá-me licença senhor Comandante
Mantendo a tradição de umas dezenas de anos, um grupo de amigos nos quais eu me incluo, todos os sábados fazemos uma tainada, ou como alternativa, vamos a restaurantes que tenhamos a certeza de não sermos enganados, parafraseando o meu amigo Zé, O PREÇO NÃO INTERESSA, DESDE QUE SEJA BOM E BARATO.Depois de bem comidos e melhor bebidos, estala uma desconversa entre dois ex-militares da marinha, um, voluntário, especialista de electricidade com início de comissão em 69 no Norte de Moçambique como tripulante de um navio-patrulha, que ainda no mesmo ano rumou para a Guiné.
O outro, fogueiro, que fez um tempo obrigatório como reserva naval e foi para navegação comercial e depois para a pesca, com muito tempo nas rotas do nosso ex-ultramar, tanto no transporte de carga como de militares.Apesar de sermos todos amigos, a minha solidariedade ia em cheio para o que fez comissão na Guiné, mas como eram os dois da marinha, eles tinham obrigatoriamente que encontrar uma plataforma de entendimento, como em outras discussões idênticas.
A determinada altura, salta cá para fora um certo ressaibiamento, à boa maneira portuguesa, nada que me espantasse particularmente porque infelizmente, não é nada que outros não tenham dito ou pelo menos, envergonhadamente pensado.
Dizia o fogueiro, vejam lá este gajo, que foi passar umas férias à Guiné à nossa conta e por cima ainda recebe um prémio por stress de guerra, e eu, que andei toda a vida no mar, passei as passas do Algarve, naufraguei 3 vezes, andei a aturar patrões que não passavam de umas bestas, e não me é reconhecido o stress da entidade patronal.Confesso que nunca tinha ouvido tamanho argumento, mas não alterei a minha postura.
Estranhando o meu comportamento, o fogueiro virou-se para mim e "disparou", este gajo está muito calado, de certeza que tem alguma na manga, o que é que achas?
O que eu acho é que vocês estão com uma conversa de m... sem sentido nenhum e tu, estás a cantar de galo, porque não sabes e nem sonhas as dificuldades que o pessoal que por lá passou teve que aguentar, enquanto tu andavas no bem bom a passear de barco.
Amuou e acabou a conversa.É por estas e por outras que eu, como um não alinhado, continuo a pensar que possivelmente a magra "esmola" que o Estado dá aos ex-combatentes, não paga este ressaibiamento por parte muitos "senhores" que, não batendo lá com os costados, sempre que têm oportunidade, não têm pudor em manifestar a sua inveja e falta de respeito por aqueles que não foram para lá para passar férias mas sim DEFENDEREM as cores da bandeira de Portugal.
Pois é camarada Dâmaso, com que então passar férias!!!! pode alguma vez pensar-se que na Guiné se passava férias, como a foto demonstra, 6 baixas num grupo de 20 é obra, marca qualquer um, vais ter que carregar esse "fardo".
Deves ter convivido com Furriéis do meu CSM-69/70-Director Cap.Perestrelo, como o Mateus, Caeiro, Martins, Arraiano, Peixoto, Fonseca, Caldeira etc.Em meu entender, o dinheiro do tal "prémio", que mais tarde ou mais irá deixar de ser concedido por "falta de verba", seria muito mais bem empregue no apoio efectivo aos verdadeiramente deficiente das Forças Armadas, porque todos nós sabemos que nem sempre o critério do estatuto foi atribuído honestamente.
Pelo que de quando em vez aparece na televisão, são famílias inteiras a "carregarem" com as responsabilidades que podiam e deviam ser minoradas com um apoio decente e não com autênticas esmolas que o Estado vergonhosamente atribui, só para não dizerem que não dão nada.
Que fazer com povo de fraca memória? e com estes governantes também não vamos lá.
Foto:António Loureiro