Victor Sotero
Sargº.Môr EABT
DAMAIA
Meu Comandante:
As minhas saudações ao “Comando”, à “Linha da Frente” e a todos os “Zés” que nos vão deitando o olho por esta base.O Hospital da Força Aérea é hoje um local de encontro de “Velhas Glórias” que por efeitos de “maleitas” ou não, lá se deslocam.Por vezes, quando se encontram, há sempre motivo a momentos de recordação.
Alegres conversas, porque “recordar, é viver”.
Desloquei-me um dia destes ao hospital. Fui tirar sangue para umas análises de rotina.
Por lá encontrei para além de outros, o nosso bloguista Miguel Pessoa. Foi aqui que uns dias antes o conheci.
Depois de uma alegre conversa, desloquei-me ao bar geral para tomar o pequeno almoço. Encontrava-me ainda em jejum e eram quase 11 horas.Como em quase todo o lado, também aqui o que se compra, é a pré-pagamento.No espaço de tempo em que estou a ser servido, dou uma vista de olhos pela sala, procurando o local onde me sentar e com quem dou de caras?
Legenda: O Avô HAVARD “T6-G”
Legenda:A tia Dornier “DO 27”
Legenda: A Tia Auster
O “avô” Harvard, a “tia” Dornier e a “tia” Auster, faziam agora parte da minha companhia. Tomavam também o pequeno almoço.O “avô” Harvard banqueteava-se com uma sandes de presunto tendo na sua frente uma garrafa de cerveja.
A “tia” Dornier e a “tia” Auster, deliciavam-se cada uma, com um pastel de nata e um sumo
-Por aqui?
-É verdade, disse o “avô Harvard. Hoje, viemos fazer um voo de rotina até ao Lumiar. Logo, regressamos a Sintra que é a nossa base de apoio. De vêz em quando temos que nos “soltar”, senão, ainda adoecemos!
-Ainda bem, quando os vi, até pensei que estivessem de “baixa”!
A “conversa” já ia longa quando me lembrei de lhes pedir que contassem alguma história boa ou má que tivessem recordado de África.
Após uns breves instantes, já um pouco inquieta, a “tia” Auster diz:
-Começa tú, velho e ronceiro Harvard. Tens muito mais para contar do que nós.
-Bem, eu tenho de facto muitas histórias, fiz muitas asneiras, mas também dei muito do meu suor em prol do meu País. Estou a lembrar-me de uma brincadeira que me ia saindo bastante cara.
Depois de umas “roquetadas” e no regresso à base, avisto uma pacassa. Dou meia volta e começo a fazer fogo ao animal enquanto este corria desalmadamente em zig-zag pela savana. Com entusiasmo, deixei-me levar e não me desviei de um velho imbondeiro tendo como “castigo” tocado com a ponta da asa direita onde ficou ainda um bocado.
Muito a custo, lá consegui chegar à base onde aterrei de emergência.
Claro que fui alvo de inquérito, averiguações. Eu tinha desrespeitado a segurança de voo.
Valeram-me os “Zés” de Abastecimento e os de Material Aéreo que em pouco tempo me deixaram de novo a voar. Estava como “novo” e pronto para qualquer outra missão. Uma semana depois, fui transferido para outra unidade.
E tú, Dornier? Não penses que te safas, a tua vida não foram só rosas, eu sei.
-Olha, meu “velho”, quem é que te acompanhava quase sempre?
-Quem é que te dava cobertura e te ajudava nas “roquetadas”?
Ao menos eu fiz de tudo. Fui ambulância, distribuí correio, transportei feijão, batatas, eu sei lá que mais. Até papelinhos eu deitava cá para baixo! Fui “pau para toda a obra”. Claro que também apanhei alguns sustos, mas sempre fui forte e resistente. É por isso que aqui estou “limpinha”, como nova e sempre pronta para qualquer festival.
A “tia” Auster não se conteve.
-Sabem? Eu andei sempre acompanhada. Um dia, tinha por missão levar um alferes do Exército onde se encontrava a sua companhia. Tinha combinado com o meu “Zé” que ao nascer do dia arrancaríamos. O meu par, já estava com o seu “Zé” e com o motor a trabalhar. Eu, estava com o Alferes e o meu “Zé” nunca mais aparecia. Sabia qual a camarata. Motor em marcha e lá vou eu pela estrada que dava para o alojamento. Havia ainda pouca movimentação na base. Fiz levantar muito pó avermelhado. Mesmo já no fim, vejo o meu “Zé”. Dei meia volta e lá regressei para a placa esperando por ele.
No regresso, depois da missão, toda a gente sabia o que tinha feito. Auto de averiguações, que me deram como resultado, três dias de prisão e uma transferência. Esperava ser despromovida, mas não. Havia falta de aviões.
Ai, minhas queridas “tias” e meu querido “avô”: -Como é bom recordar!
Obrigado por esta manhã que passou tão depressa.
Bom regresso a Sintra e acreditem que tive muito prazer nesta manhã que tão depressa não vou esquecer.
Posso dizer-lhes uma quadra em jeito de homenagem?
Meu Comandante:
Despeço-me como de costume, do “Comando”, da “Linha da Frente” e de todos os “Zés” com um até breve.
Sotero
VB:Olá Amigo Victor.
Que linda história nos contas destes velhos conhecidos ,que ainda hoje regateiam o seu estatuto com os mais novos. Ai que saudades tenho da minha “tia” Dornier 27…éramos tão amigos.