sábado, 4 de dezembro de 2010

Voo 2029 A VIDA TEM EPISÓDIOS BONITOS.



Victor Sotero
Sargº.Môr EABT
Damaia



Meu Comandante:
As minhas saudações ao "Comando", à "Linha da Frente" e a todos os "Zés" que nos visitam.

Dia 6 de Novembro de 2010

Amanheceu com Sol este sábado.
Praça de táxis do Príncipe Real.
Onze horas da manhã.
Toca-me o telemóvel.Uma voz estranha, fora do que me é normal houvir, desconhecida.
O nosso “Comandante” está em Lisboa e liga-me para um encontro.
Pergunto a mim mesmo; Será para me dar alguma “pissada”?
Não, o “Comandante” estava fazendo tempo para se encontrar com o João Carlos Silva.
De tarde, iam para uma reunião de trabalho da A.E.F.A., em Carnaxide.
-Onde estás?
-Estou no Jardim das Amoreiras.-Eu estou perto, estou no Príncipe Real. Aguarda que já vou ter contigo.
Desligo o verde do “autoclismo”, mostro as “esporas ao cavalo” e aí vou eu.
Junto ao Largo do Rato, de novo o telefone.
-Sim, “Comandante”, “à escuta, transmita, diga se me oiço”.
-Passei por ti na Escola Politécnica, vou dar a volta a S. Mamede. Vê se consegues parar aí no Largo do Rato.
Parei mesmo junto à sede do P.S. e momentos depois, o “nosso Comandante”.
Um forte e feliz abraço, daqueles que nunca se esquecem!...e falámos.
Convida-me para um almoço com amigos “Zés”. Recusei.
Estou a trabalhar.e falámos.

Despedimo-nos com um vigoroso abraço, não sem antes lhe desejar boa sorte para a operação que terá de fazer à vista.Que sorte! Não é todos os dias que um “Comandante” chama por um “subordinado” para lhe dar um abraço!
Lisboa está calma.
Enquanto o “Comandante” sobe pela Rua das Amoreiras, eu desço pela Rua de S. Bento.
Uma senhora “estica-me a mangueira”.
-Bom dia!
-Bons dias, retorqui.-Senhor motorista, ajude-me! Queria comprar umas flores, mas não conheço nenhuma florista para estes lados que esteja aberta.
Digo-lhe que no Cais do Sodré há uma florista junto à estação de comboios.
-É verdade, não me lembrava! Sim, vamos para lá e o senhor depois pode esperar?
-Claro que sim, minha senhora.
Em alegre “cavaqueira” chegámos.
Parei junto à florista e esperei.
Tinha comprado um ramo de rosas brancas.-Agora, agradecia que me levasse até à Rocha Conde de Óbidos.
Estacionei o mais próximo possível da muralha.
Uns breves momentos, talvez em oração e lança o ramo para as águas do Tejo. Regressa de semblante algo carregado.
Não lhe digo nada mas dou comigo a pensar numa criança que tivesse “partido” para outro lugar.
-Agora, se faz favor, vamos para a Praça do Chile.
-Cumpri a minha missão.Pelo espelho retrovisor, reparei na sua triste compostura. Ia em oração e nunca mais
lhe disse nada por uma questão de respeito em relação ao acto que tinha acabado de fazer.

-Chegámos ao Chile, onde é que a senhora deseja ficar?
-Mesmo aqui na paragem dos autocarros. Obrigada, disse-me a senhora.
-O senhor motorista é das pessoas mais educadas e respeitosas que tenho conhecido. Não teve sequer a curiosidade de saber o motivo porque tomei esta atitude e isso foi muito importante para mim.
O Senhor é católico, pergunta-me.
-Sim, sou.Abriu a mala e retirou um terço branco envolto num pequeno saco.
-É para si, comprei-o a semana passada em Fátima. Está benzido.

Legenda:Gare marítima da Rocha de Conde de Óbido

-Sabe, a minha mãe partiu para Angola, no Príncipe Perfeito, da Rocha Conde de Óbidos. Faleceu a semana passada e eu não tenho dinheiro para as viagens. Despedi-me dela assim!..
-Acho que não posso fazer mais nada.
-Senhor motorista, agradeço-lhe muito.
-Bem haja, minha senhora.
Emocionado, uma lágrima mais “atrevida” deslizou pelo meu rosto.
Do “Comando”, da “Linha da Frente” e de todos os “Zés” despeço-me como sempre, com um até breve.

Sotero

Nota.:-O terço que me foi oferecido por esta senhora, encontra-se à cabeceira da minha cama, em Marinhais.

VB: Pois meu amigo,cada um tem o que merece!