quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Voo 2730 O GRANDE COMANDANTE MOURA PINTO.




Victor Barata
Esp.Melec/Inst./Av

Vouzela




Companheiros,á personagens na nossa vida que pela sua conduta,que pelas mais variadas acções, nos marcam para sempre.

Obviamente que nem todos nós podemos compartilhar da mesma ideia, mas uma das regras deste blogue, é o respeito mutuo.


Esta foto recorda um dia de  aniversário do Clube de Especialistas,em Bissalanca,tendo sido convidado o comando da BA 12 (71/72/73),á esq. é o 1ºCom Cor.Pil.Av. Gualdino Moura Pinto(Já Falecido) e á  dirª Ten.Cor.Pil.Av. José Lemos Ferreira.

Pois bem, vou falar do Coronel Moura Pinto, como um verdadeiro líder, homem de poucas falas,alto,magro, com grandes qualidades humanas.
Remota o ano de 1973, quando entre Março e Abril,a nossa Força Aérea perdeu Grandes Homens,companheiros do dia/dia que lutavam pela mesma causa que nós mas que o destino quis que partissem primeiro,TenCor.Brito, Major Montovani, Furriéis Baltazar e Ferreira. 
A instabilidade estava instalada, o receio, principalmente em quem operava com aeronaves de pequenas velocidades, apoderou-se, por se desconhecer o tipo de arma utilizada pelo PAIGC para abater os nossos aviões.
É nestas ocasiões que se distinguem os grandes COMANDANTES , o coronel Moura Pinto mandou reunir na sala de operações os 42 pilotos presentes na Base e,com a serenidade que lhe era virtude,foi dizendo:

"Havia garantia de que a arma utilizada pelos guerrilheiros para abater as nossas aeronaves era um míssil”.

Em seguida afirmou ter duas certezas, uma, fruto das suas convicções pessoais, outra, resultado da sua experiência de oficial:
A primeira era muito subjectiva e resumia-se numa frase:
Só é atingido pelo míssil quem tiver esse destino traçado.
A segunda, também se dizia em poucas palavras:
Ninguém pode ter medo do míssil, porque o piloto que vai voar com medo está mais vulnerável e acaba por ser atingido.
Depois para reforçar a sua argumentação linear, recordou o ditado latino:"A sorte protege os audazes".
 Estas afirmações no ambiente tenso que pairava na sala, tiveram um impacto extraordinário. Gerou-se uma descompressão colectiva, embora estivessem todos ainda apreensivos. Faltava na sala um único piloto,Furriel Santos,por se encontrar de serviço ás operações.
Nesse momento a porta do fundo da sala abriu-se e entrou o piloto em falta,pedindo licença para falar.Toda a assembleia virou a cabeça em sua direcção.O comandante Moura Pinto autorizou-o a falar. Com desenvoltura,o Furriel Santos informou ter recebido um pedido de evacuação de feridos graves de um Batalhão do Exército que tinha sido atacado.Vinha pedir instruções.Diz-lhe o Coronel Moura Pinto:
 "Responda que se vai fazer a evacuação. Mande preparar o helicóptero. Quem faz essa evacuação sou eu".
Voltou-se para a assistência e perguntou:
Meus senhores quem quer colocar alguma questão? 
Reinou o silêncio entre toda a gente. 
Se não têm perguntas, eu já disse tudo, e, como á coisas mais importantes a fazer, vou-me embora.
Foi fazer a evacuação.
O desfecho desta reunião teve impacto fortíssimo no moral dos pilotos,o animo passou a falar mais alto, abafando os últimos resquícios do medo natural.

Descanse em paz, meu COMANDANTE!
Victor Barata
Melec/Av.Inst
Nota: Esta passagem foi retirada do livro "A Força Aérea na Guerra de África" de autoria de Luís Alves de Fraga,Coronel da FAP na reserva (Editora Prefácio).