Esp.Melec/Inst./Av
Vouzela
Companheiros,á personagens na nossa
vida que pela sua conduta,que pelas mais variadas acções, nos marcam para
sempre.
Obviamente que nem todos nós podemos compartilhar da mesma ideia, mas uma das
regras deste blogue, é o respeito mutuo.
Esta foto recorda um dia de aniversário do Clube de Especialistas,em Bissalanca,tendo sido convidado o comando da BA 12 (71/72/73),á esq. é o 1ºCom Cor.Pil.Av. Gualdino Moura Pinto(Já Falecido) e á dirª Ten.Cor.Pil.Av. José Lemos Ferreira.
Pois bem, vou falar do Coronel Moura Pinto, como um verdadeiro líder, homem de
poucas falas,alto,magro, com grandes qualidades humanas.
Remota o ano de 1973, quando entre Março e Abril,a nossa Força Aérea perdeu
Grandes Homens,companheiros do dia/dia que lutavam pela mesma causa que nós mas
que o destino quis que partissem primeiro,TenCor.Brito, Major Montovani, Furriéis
Baltazar e Ferreira.
A instabilidade estava instalada, o receio, principalmente em quem operava com
aeronaves de pequenas velocidades, apoderou-se, por se desconhecer o tipo de
arma utilizada pelo PAIGC para abater os nossos aviões.
É nestas ocasiões que se distinguem os grandes COMANDANTES , o
coronel Moura Pinto mandou reunir na sala de operações os 42 pilotos presentes
na Base e,com a serenidade que lhe era virtude,foi dizendo:
"Havia garantia de que a arma
utilizada pelos guerrilheiros para abater as nossas aeronaves era um míssil”.
Em seguida afirmou ter duas certezas, uma, fruto das suas convicções pessoais, outra,
resultado da sua experiência de oficial:
A primeira era muito subjectiva e resumia-se numa frase:
Só é atingido
pelo míssil quem tiver esse destino traçado.
A segunda, também se dizia em poucas palavras:
Ninguém pode
ter medo do míssil, porque o piloto que vai voar com medo está mais
vulnerável e acaba por ser atingido.
Depois para reforçar a sua argumentação linear, recordou o ditado latino:"A sorte protege os
audazes".
Estas afirmações
no ambiente tenso que pairava na sala, tiveram um impacto extraordinário. Gerou-se
uma descompressão colectiva, embora estivessem todos ainda apreensivos. Faltava
na sala um único piloto,Furriel Santos,por se encontrar de serviço ás
operações.
Nesse momento a porta do fundo da sala abriu-se e entrou o piloto em falta,pedindo
licença para falar.Toda a assembleia virou a cabeça em sua direcção.O
comandante Moura Pinto autorizou-o a falar. Com desenvoltura,o Furriel
Santos informou ter recebido um pedido de evacuação de feridos graves de um
Batalhão do Exército que tinha sido atacado.Vinha pedir instruções.Diz-lhe o
Coronel Moura Pinto:
"Responda que se vai fazer a evacuação. Mande
preparar o helicóptero. Quem faz essa evacuação sou eu".
Voltou-se para a assistência e perguntou:
Meus senhores
quem quer colocar alguma questão?
Reinou o silêncio entre toda a gente.
Se não têm
perguntas, eu já disse tudo, e, como á coisas mais importantes a fazer, vou-me
embora.
Foi fazer a evacuação.
O desfecho desta reunião teve impacto fortíssimo no moral dos
pilotos,o animo passou a falar mais alto, abafando os últimos resquícios
do medo natural.
Descanse em paz, meu COMANDANTE!
Victor Barata
Melec/Av.Inst
Nota: Esta
passagem foi retirada do livro "A Força Aérea
na Guerra de África" de autoria de Luís Alves de
Fraga,Coronel da FAP na reserva (Editora Prefácio).