sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Voo 2553 A MINHA NAMORADA (2ª parte)








Victor Sotero
Sargº.Môr EABT
Lisboa




Aproveitando o espaço aéreo menos intenso, preparo-me para mais uma aterragem e dar por concluída a segunda parte do voo 2525, de 17 de Outubro de 2012, A MINHA NAMORADA.
Assim, saúdo o “Comando”, a “linha da Frente” e todos os “Zés” que saudosos das nossas “aventuras” nos vão espreitando.
Na manhã do dia 8 de Fevereiro de 1968, com três dias de detenção às costas, o navio “ UÍGE atracava no Porto de Luanda onde já nos esperavam os “machibombos” que nos levariam para a B.A.9.
No dia seguinte, ficaria a saber que iria para o “mato”. Era colocado no Aeródromo Base nº3, no Negage.
Já com alguns aerogramas que me foram dados em Lisboa pelas senhoras do Movimento Nacional Feminino, escrevo para a minha namorada e digo-lhe que poderia começar a escrever para o S.P.M. 4036.

Legenda: O Aerograma era o tipi de correspondência distribuído pelo Movimento Nacional Feminino, para ser utilizado pelos militares, gratuitamente, na comunicação com familiares e amigos.
Foto: Cortesia do Fernando Moutinho.


 Apenas esperava o transporte e por lá ficaria durante o tempo da minha comissão.
 Fiquei a saber que o NORDATLAS às Segundas e Sextas-feiras passaria pelo A.B.3 e para alem do material e mantimentos para a Unidade, levaria também o correio não só para a Força Aérea mas também para os militares do Exército.
Também normalmente às Quartas-feiras o Comandante iria a Luanda no B. C. e transportaria o correio que estivesse disponível.
Chegado ao A.B.3, e sem esperar, eu já tinha correio da minha namorada. Teria também sido transportado no NORD que me levou desde Luanda. Afinal, o meu baptismo de voo, já que tinha faltado ao embarque de D.C.6.
Passavam-se os dias, semanas, meses.
Um dia, a minha namorada surpreende-me com a seguinte proposta:  “Já namoramos à muito tempo. Quero ser a tua noiva. Podes comprar aí o anel?”
Concordei com a proposta mas disse-lhe que comprasse antes o anel em Lisboa pois teria por onde escolher.
 Uns dias depois, dizia-me numa carta: “Já comprei o anel. É em ouro branco e tem uma madrepérola. É muito bonito. Custou 900$00. Quando puderes, manda-me o dinheiro.”...e pouco tempo depois, eu enviava-lhe o dinheiro.
Eu escrevia sempre aerogramas. Da São, eu recebia sempre cartas perfumadas. O envelope era sempre escrito a verde e por detrás, no fecho da carta, uma pequena flor.
Passou-se algum tempo até que um dia, não sei se devido ao mau tempo ou por ter feito a volta ao contrário, o NORD atrasou-se chegando ao Negage muito próximo do meio-dia.
Eu estava de Cabo de Dia.
Muito à pressa, o S.P.M. retirou os sacos de correio do avião e fez a entrega ao Primeiro-Sargento da Secretaria, dos sacos que se destinavam ao A.B.3.
Para entregar ainda na hora de almoço o correio, foi-me pedida a ajuda para separar. Era fácil e rápido apesar do muito correio que sempre havia para os Clubes.
Passei para o monte alguns aerogramas que se destinavam a mim. Depois, duas cartas escritas a verde com a tal florinha desenhada no remetente.
Pasmei quando vejo uma outra carta. A mesma caligrafia, o mesmo verde, a mesma flor. Não era para mim. Destinava-se ao Clube de Praças, era para um P.A.. Nunca a viu porque rapidamente a envolvi no meu monte da separação que se destinava ao Clube de Especialistas.
Terminada a separação do correio, apressadamente, dirigi-me para a messe não sem antes retirar a carta e a meter no bolso sem ninguém ver.
Logo que me foi possível, abri a carta e fui lendo.
A minha “noiva” era madrinha de guerra! Nunca me tinha dito nada. O destino quis que aquela carta me viesse ter às mãos. Guardei a carta no armário e fui esperando pelo final da comissão sem nunca ter feito qualquer comentário ou alguma pergunta.
No dia 16 de Março de 1970 embarcava em Luanda num D.C.6 de regresso à Metrópole.
A minha “noiva” juntamente com familiares meus estava na manhã do dia 17 no A.B.1 esperando por mim.
Fui convidado pelos pais não só para jantar mas também para irmos ver uma revista ao Variedades, no Parque Mayer. Eu esperava pela melhor oportunidade....e foi nessa mesma noite que mostrei a carta aos pais. Ficaram indignados! Despedi-me e fui para casa. No dia seguinte a minha “ex-noiva” entregava-me o anel de noivado.
Anos mais tarde encontrei-a. Vivia e penso que ainda vive no mesmo local. Tinha casado e era mãe de um rapaz.
 Despeço-me do “Comando”, da “Linha da Frente” e de todos os “Zés” com um

Até breve.


 Obs. Na foto, a minha noiva.

 Nota.:- Uma palavra de muito apreço a todos os militares que passaram pelos S.P.M e que tiveram trabalho muito meritório. Um grande serviço prestado aos militares no Ultramar.



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