Arnaldo Sousa
Esp.MMA
Lisboa
Esp.MMA
Lisboa
Monte Real –Guiné
Faz este ano 54 anos que duas
esquadrilhas de aviões F86
"Sabre" descolaram de Monte Real com escala no Montijo (naquela época
era a única pista mais a Sul), Canárias e
Cabo Verde, rumo à Guiné AB2 , mais tarde chamada BA12.
As esquadrilhas eram formadas por 8 aviões , acompanhavam-nos uma vasta equipa técnica com vários especialistas que partiram em DC6 e Skymaster. Penso que passados estes anos vale a pena ler este elucidativo artigo do livro– Entre o Mar e o Ar –Trajecto de uma Vida da autoria do capitão
Cabeleira (1) na altura sargento e prestar justa homenagem a todos aqueles homens que fizeram a única missão mais longa por cima de mar na história dos F 86.
As esquadrilhas eram formadas por 8 aviões , acompanhavam-nos uma vasta equipa técnica com vários especialistas que partiram em DC6 e Skymaster. Penso que passados estes anos vale a pena ler este elucidativo artigo do livro– Entre o Mar e o Ar –Trajecto de uma Vida da autoria do capitão
Cabeleira (1) na altura sargento e prestar justa homenagem a todos aqueles homens que fizeram a única missão mais longa por cima de mar na história dos F 86.
Para que a primeira
travessia (única) MONTE REAL – GUINÉ BISSAU (aviões F-86 F “Sabre”), fique
para a história da Esquadra 51/201 (BA 5), como uma das missões de maior relevo
nos seus primeiros vinte e cinco anos de existência aqui deixo o seu registo
extraído do meu livro – “Trajecto de uma vida entre o mar e o ar – Memórias” .
1961 – “Ferry” Monte Real –
Guiné-Bissau . “Uma Travessia de Sucesso”
No início do ano os ventos que sopravam
de África não eram os melhores, já que os movimentos de libertação das
ex-Províncias Ultramarinas começaram a surgir, primeiro em Angola, a seguir
Guiné e por último Moçambique.
Não havia dúvida de que a presença de Forças Militares do Exército, Marinha e Força Aérea, eram inevitáveis e foi o que veio a acontecer, realmente.
Entretanto, na Base Aérea Nº5, mais concretamente na Esquadra 51 (Linha da Frente), começou a ouvir-se e a pairar a hipótese de uma formação de aviões F-86F “Sabre” fazer um “ferry” que à partida podia ser até ao arquipélago de Cabo Verde (ilha do Sal). À medida que o tempo ia passando mais se acentuava a ideia que a missão em termos de futuro próximo iria ser uma realidade.
Assim, continuando a haver a manutenção do 1º Escalão com o propósito de ser mantido o programa normal de operacionalidade da ESQ.51, também a partir desse momento começaram a ser escolhidas as aeronaves que pudessem dar mais garantias para a referida missão.
Não havia dúvida de que a presença de Forças Militares do Exército, Marinha e Força Aérea, eram inevitáveis e foi o que veio a acontecer, realmente.
Entretanto, na Base Aérea Nº5, mais concretamente na Esquadra 51 (Linha da Frente), começou a ouvir-se e a pairar a hipótese de uma formação de aviões F-86F “Sabre” fazer um “ferry” que à partida podia ser até ao arquipélago de Cabo Verde (ilha do Sal). À medida que o tempo ia passando mais se acentuava a ideia que a missão em termos de futuro próximo iria ser uma realidade.
Assim, continuando a haver a manutenção do 1º Escalão com o propósito de ser mantido o programa normal de operacionalidade da ESQ.51, também a partir desse momento começaram a ser escolhidas as aeronaves que pudessem dar mais garantias para a referida missão.
Os aviões tinham de possuir os seguintes
requisitos:
1. O
maior número de horas disponíveis para a próxima grande inspecção periódica
(célula / motor).
2. Os
equipamentos de todas as especialidades possuírem uma garantia de boa
operacionalidade.
3. Instalar
“drops” (depósitos externos) de 120 galões, a fim de cada aeronave atingir
o pleno total de combustível – JP4 (1.075 galões).
4. Cada
aeronave tinha de efectuar um voo (ou mais) de experiência para verificação de
todos os sistemas, consumo dos “drops” e até a sua própria autonomia.
Na preparação dos aviões para esta
missão houve uma tarefa que ultrapassou todos os cálculos previstos em termos
de “mão-de-obra directa”, que foi a instalação dos “drops” de 120 galões.
Houve uma justificada razão para a imprevista situação, que foi a seguinte:
Quando da chegada das aeronaves à Base
Aérea Nº2 – OTA (Agosto – 1958), todas traziam instalados os “drops” de 120
galões, mas foram de imediato retirados e nunca mais voltaram a ser montados
nos aviões, uma vez que os voos efectuados em Portugal e na Europa não
necessitavam da sua utilização.
Como o “teste de fugas” dos depósitos só
podia ser realizado no avião, é fácil concluir que várias mudanças tiveram de
ser realizadas, dado o longo período em que o sistema esteve desactivado.
Há um outro pormenor que não quero
deixar de registar, que era o facto de haver um parafuso principal de fixação
do “drop” de 120 galões ao seu suporte (na asa), em que tinha de ser
dado um torque (esforço de rotação) com chave dinamómetro (força) no valor de 1.500
lbs.. Como se compreende o esforço solicitado era muito grande (em sucessivos
parafusos) e por acordo mútuo o torque só era dado por mim (Cabeleira) ou
colega Lino Carneiro. Acontece, que nesse mesmo período todo o pessoal andava a
tomar as vacinas necessárias (febre amarela, varíola, etc.) e com o esforço despendido
começaram a aparecer ínguas nos sovacos / axilas, o que nos assustou,
naturalmente, mas depois de medicados tudo se foi normalizando e voltaram os
níveis de confiança que tanto eram necessários no momento.
Devo acrescentar que para além da especialidade
MMA, colaboraram também na instalação dos “drops” de 120 galões, os MELEC
e MARME.
Concluindo, as horas do dia ou da noite
e até Sábados e Domingos não contavam para a execução desta tarefa, o
importante era o aprontamento das aeronaves para a missão, e esse desiderato
foi amplamente conseguido por todos os intervenientes (pilotos e mecânicos).
Com o planeamento e embalagem do
material sobressalente julgado necessário para este tipo de missão, estava
concluído nos primeiros dias de Agosto, todos os preparativos da “Operação
Atlas” (nome de código para o Destacamento 52 da BA5), e, naturalmente, foi
aguardada com muita ansiedade e expectativa o momento da partida que chegou.
Aeronaves escolhidas para o “raid”:
F-86F
|
“Sabre”
|
- Nº
|
5307
|
F-86F
|
“Sabre”
|
- Nº
|
5314
|
F-86F
|
“Sabre”
|
- Nº
|
5322
|
F-86F
|
“Sabre”
|
- Nº
|
5326
|
F-86F
|
“Sabre”
|
- Nº
|
5354
|
F-86F
|
“Sabre”
|
- Nº
|
5356
|
F-86F
|
“Sabre”
|
- Nº
|
5361
|
F-86F
|
“Sabre”
|
- Nº
|
5362.
|
Obs.: - No voo Monte Real – Montijo,
seguiram mais dois (2) aviões F-86F, que ficaram de reserva à missão.
As duas aeronaves foram levadas para a
BA6, pelos seguintes pilotos:
§ 1SAR Pil – José
Carlos Alves Patrício
§ 2SAR Pil – Eugénio
Vieira Bolais Mónica.
Participou na “Travessia” Monte Real –
Guiné-Bissau o seguinte pessoal:
Pilotos
§ Capitão Pilav – Ramiro
de Almeida Santos – Chefe de Missão
§ Capitão Pilav – José
Fernando de Almeida Brito
§ Tenente Pilav – Aníbal
José Coentro Pinho Freire
§ Tenente Pilav – Alcides
Telmo Teixeira Lopo
§ 1SAR Pil – António
Rodrigues Pereira
§ 1SAR Pil – José
Luís Pombo Rodrigues
§ 1SAR Pil – Humberto
João Cartaxo da Silva
§ 2SAR Pil – Rui
Salvado da Cunha.
Equipa Técnica de Apoio Durante o
Movimento (Escalão Precursor)
§ Tenente TMMA – Joaquim
da Conceição Conduto
§ 2SAR MMA – João
Luís Gustavo Mil-Homens
§ 2SAR MELEC – Manuel
Jaime da Silva Barros
§ 2SAR MARME – Alberto
Gonçalves Diogo
§ 2SAR MRÁDIO – José
Manuel Loureiro Pires
§ FUR MMA – Lenine
Gouveia das Neves
§ FUR MELINS – Victor
António da Silva Pacheco
§ 1CABO MMA – Augusto
dos Santos Nogueira
§ 1CABO MMA – Fernando
de Jesus Pinho
§ 1CABO MMA – Duarte
Gonçalves
§ 1CABO MMA – Valter
José Ferreira O. Almeida
§ 1CABO MMA – Fernando
José Pereira Timóteo
§ 1CABO MMA – Helder
Ferreira Mendes
§ 1CABO MMA – Abílio
Ascenso
§ 1CABO MMA – Aires
António Fernandes Barbosa
§ 1CABO MMA – Albertino
José R. Félix
§ 1CABO MRÁDIO – Eduardo
Vieira de Castro
§ 1CABO MRÁDIO – Américo
Vieira Ferreira.
Obs.: - Equipa Técnica de Apoio (Escalão
Precursor) saiu da BA5 para a BA6 – Montijo em 08 AGO 1961, no avião “Douglas”
DC-6 Nº 6704 (Com.te TCOR Pilav Rangel de Lima) e descolou na manhã do dia
seguinte (09 AGO) para o Gando (ilhas Canárias).
Equipa Técnica do Escalão de Apoio no
Destino
§ Alferes TMAEQ – João
Pereira Peixoto
§ 2SAR MMA – José
Lino da Silva Carneiro
§ 2SAR MMA – José
Alberto Rodrigues Cabeleira
§ 2SAR MARME – Maurício
Jorge Mendes
§ 2SAR MARME – António
Pedro Assunção
§ FUR MVISORES – António
José Carvalho Abreu
§ 1CABO MMA – Benjamim
Caria Moreira
§ 1CABO MMA – Eduardo
de Sousa Henriques Vieira
§ 1CABO MMA – Elias
Ferreira dos Santos
§ 1CABO MELEC – João
de Jesus Lopes
§ 1CABO MVISORES – Manuel
Carreira Fernandes
§ 1CABO MVISORES – Américo
Alberto Vaz
§ 1CABO MARME – Joaquim
Pereira Caçador Romão
§ 1CABO MARME – António
Monteiro Francisco Casaleiro
§ 1CABO MARME – António
de Oliveira Sampaio
§ 1CABO MARME – João
Fontes Andrade
§ 1CABO MARME – José
Manuel Sirgado Ferreira
§ 1CABO MARME – Manuel
Alexandre Mendes Lopes
§ 1CABO MARME – Rogério
da Silva Dias
§ 1CABO MARME – Jorge
Duarte Teopisto.
Obs.: - Equipa Técnica de Apoio (no
destino), que descolou da BA5 no avião “Douglas” C-54 “Skymaster” Nº 7504 (Com.teCapitão
Pilav Almada) na manhã do dia 09 AGO, com destino ao Gando (ilhas Canárias).
Equipa Técnica de Apoio às Aeronaves do
“Ferry” na BA6 – Montijo
A Equipa Técnica de Apoio que se
deslocou à Base Aérea Nº6, para transportar material e prestar assistência aos
aviões F-86F, na sua partida para o Gando (ilhas Canárias) na manhã de 09 AGO,
foi constituída pelo seguinte pessoal:
§ 2SAR MMA – Mário
Fernando Dinis Caneiro
§ 2SAR MARME – Joviano
Pinto Dias Afonso
§ 2SAR MRÁDIO – Joaquim
José Cabrita Ramos
§ 1CABO MMA – João
António Ferreira Carneiro
§ 1CABO MMA – Elísio
Clara Pais
§ 1CABO MMA – João
José Figueiredo Correia da Fonseca
§ 1CABO MMA – Francisco
José Laço Padilha
§ 1CABO MMA – Manuel
Silvestre Correia
§ 1CABO MMA – Jorge
Verecundo Nunes Pardal
§ 1CABO MARME – Manuel
Agostinho Carnide Casaleiro
§ 1CABO MELEC – João
Manuel da Silva Couceiro Lourenço
§ 1CABO MRÁDIO – Armindo
Pires Moreira
§ SOLD CAUTO – Antero
Alves da Paiva
§ SOLD CAUTO – José
Fernandes da Rocha
§ SOLD CAUTO – Guilherme
de Sousa
§ SOLD CAUTO – Joaquim
Lopes Paiva.
Agosto, 08. Monte
Real – Montijo
Ø Distância : 131
Km
Ø Tempo de voo: 00H55
O voo de Monte Real para o Montijo
serviu para os pilotos fazerem as últimas verificações, já que, se fosse
necessário, havia duas (2) aeronaves de reserva.
Agosto, 09. Montijo
– Gando (ilhas Canárias)
Ø Distância : 1.339
Km
Ø Tempo de voo: 02H20
Esta operação foi programada com três
(3) saídas:
a. Partida
do Montijo às 06H00 do avião “Douglas” DC-6 com destino ao Gando, levando a
bordo a equipa técnica de apoio (Escalão Precursor), com a finalidade de fazer
a recepção às duas (2) esquadrilhas F-86F.
b. Partida
de Monte Real às 06H00 do avião “Douglas” C-54 “Skymaster” com destino ao
Gando, levando a bordo a equipa técnica de apoio (no destino).
Além desta missão, esta aeronave também
servia de “relais” de comunicações entre as duas (2) esquadrilhas dos F-86F e
a Torre de Gando, mantendo-se à vertical desta, até os oito (8) aviões
aterrarem.
Obs.: – Foi já na viagem de Monte Real /
Gando que tivemos a certeza que o nosso destino final era de facto a Guiné-Bissau,
mas o tempo de permanência não estava ainda definido.
c. Partida
do Montijo às 10H00 com destino ao Gando, das duas (2) esquadrilhas dos F–86F,
com o intervalo de 00H10.
Obs.: – Antes da partida das aeronaves,
estiveram a apresentar cumprimentos de despedida e a desejar os melhores votos
de boa viagem, o Secretário de Estado da Aeronáutica COR ENG Kaúlza
Oliveira de Arriaga, acompanhado do Comandante da Unidade (BA6) COR
Pilav Fernando Rodrigues Frutuoso.
Após a aterragem do C-54 no Gando, e ter
havido um “debriefing” de todo o pessoal da “Missão”, foi constatado que esta
etapa tinha decorrido bem, tanto no aspecto de viagem como no de avarias, que
praticamente não existiram, o que foi óptimo, claro.
No entanto houve um pormenor relacionado
com o reabastecimento das aeronaves; só havia um auto-tanque de combustível,
por isso mesmo levaram várias horas a reabastecer os oito (8) aviões.
Desta forma foi decidido que o C-54
partisse nessa tarde para a ilha do Sal, levando a bordo a equipa técnica de
apoio (no destino), enquanto que o “ferry” das duas (2) esquadrilhas F-86F e
o voo do DC-6, levando a bordo a equipa técnica do “Escalão Precursor” com
destino à ilha do Sal só seriam cumpridos no dia seguinte (10 AGO).
Agosto, 10. Gando
– Ilha do Sal
Ø Distância : 1.464
Km
Ø Tempo de voo: 02H40
Com a decisão tomada, isto é, partida do
avião C-54 para a ilha do Sal, a mesma verificou-se na tarde de 09 AGO, onde
aterrámos já muito próximo da noite.
Naturalmente que, ao desembarcarmos, o
nosso primeiro pensamento foi tratar de solucionar as condições de estadia
(alojamento e alimentação), uma vez que a construção do Aeródromo de Trânsito
Nº 1 (AT1) encontrava-se na sua fase inicial. De facto, tivemos conhecimento
que para Oficiais havia as instalações do Hotel Atlântico e para o restante
pessoal (Sargentos e 1Cabos) em termos de alojamento ficava instalado em
dependências do aeroporto, localizadas numa aldeia próxima chamada “Preguiça”;
relativamente à alimentação, esta era servida em refeitório sob gerência do
mesmo hotel (Atlântico).
Obs.: - Devo esclarecer que todo o
pessoal estava em situação de diligência, por isso mesmo cada um dependia da
sua “ajuda de custo”.
Pessoalmente registo, que ao aterrarmos
na ilha do Sal encontrava-se estacionado um avião Lockheed P2V-5 “Neptune” da
BA6, cuja tripulação era constituída por uma boa parte de colegas e amigos
oriundos, tal como eu, da ex-Aviação Naval. É fácil concluir que foi uma festa,
e dentro de um espírito amistoso os colegas ofereceram-me os seus alojamentos
para pernoitar, o que aceitei.
Entretanto, como os amigos já tinham
algum tempo de estadia na ilha, falaram-me da sua experiência, onde
curiosamente me informaram que a água para a higiene (banho, limpeza de boca,
etc.) era salgada (não havia água potável); que devido à quase inexistência de
verduras nos campos, com frequência as “cabras” eram obrigadas a comer papel!
Por último, disseram-me ainda que havia sete (7) anos que não chovia na ilha do
Sal!
O tempo foi passando e chegou a hora do
descanso, o qual foi aproveitado para recuperar algumas energias; o curioso
surgiu quando por volta das 06H30 acordei e por sonho ou realidade pareceu-me
ouvir chover! Para ter a certeza levantei-me e fui espreitar à janela do
alojamento localizado no rés-do-chão, tendo deparado com o seguinte
espectáculo: a chuva não era um sonho mas sim uma realidade, tendo também a
oportunidade de observar uma senhora acompanhada de uma criança, a aproveitar a
água da chuva que se encontrava em algumas poças da rua, para dentro de um
recipiente tipo barril.
Foi um momento que jamais poderei
esquecer e que faz reflectir o valor inestimável que a água possui.
Estávamos na manhã de 10 AGO e o nosso
pensamento encontrava-se totalmente concentrado na etapa de maior distância da
travessia das duas (2) esquadrilhas de aviões F-86F. Assim, dirigimo-nos aos
Serviços de Tráfego Aéreo do Aeroporto do Sal e obtivemos a informação que as
duas (2) esquadrilhas tinham descolado cerca das 10H00 com um intervalo de dez
(10) minutos do Aeroporto do Gando com destino ao Sal. É evidente que a partir
desse momento a nossa maior aspiração era que a viagem tivesse o maior sucesso.
A primeira hora de voo foi passada com
grande expectativa de toda a equipa de apoio, a segunda foi alcançada, e a
partir desse momento, a nossa ansiedade aumentou consideravelmente; quando ao
fim de 02H30 de voo olhámos para o céu, avistámos a primeira esquadrilha, sendo
o contentamento de todos evidente, mas quando passados dez (10) minutos e a
primeira esquadrilha estava a realizar a ruptura para a final, avistou-se a
segunda, nesse momento a alegria de toda a equipa era de indescritível
evidência.
Com as oito (8) aeronaves estacionadas
na placa do aeroporto do Sal, estava concluído o percurso mais longo da
travessia.
Ao tomarmos conhecimento do estado dos
aviões em relação a avarias, mais uma vez se constatou que as “máquinas”
estavam do nosso lado, já que tiveram um comportamento operacional bom e por
isso mesmo, para além dos plenos e das inspecções de rotina, se bem me lembro,
só foi necessário retirar os depósitos (drops) de combustível de 120
galões por motivo de já não serem necessários para o troço final (Sal –
Guiné-Bissau) nem tão-pouco haver necessidade da sua utilização para os voos a
realizar na Guiné; por isso ficaram armazenados numa dependência da Direcção
Geral da Aeronáutica Civil e a cargo do Aeródromo Trânsito Nº 1 (AT1).
Agosto, 15. Ilha
do Sal – Guiné-Bissau
Ø Distância : 954
Km
Ø Tempo de voo: 01H55
Com as más condições meteorológicas, só
a 12 AGO partiu para a Guiné-Bissau a equipa técnica de apoio (no destino) a
bordo do C-54. Ao aterrarmos no aeroporto de Bissau, constatou-se o mesmo que
no Sal, isto é, o Aeródromo-Base Nº 2 (AB2) estava na sua fase inicial de
construção e por isso mesmo, as condições de estadia (alojamento e alimentação)
não existiam. Sendo assim, partimos para Bissau, onde já haviam sido reservados
pelo Comando do AB2 o “Grande Hotel” para Oficiais e algumas pensões e até
casas particulares para o restante pessoal (Sargentos e 1Cabos). É interessante
registar que para mim e mais um grupo ficamos hospedados na Pensão Avenida, sem
dúvida das melhores pensões de Bissau, localizada na principal avenida da
cidade.
As condições de tempo continuavam más já
que era a estação húmida, muito chuvosa e de grandes trovoadas (Junho –
Novembro) e, sendo assim, houve necessidade de aguardar melhor oportunidade
para o “ferry” Monte Real // Guiné-Bissau ser concluído.
Estávamos na manhã de 15 AGO, as
condições metereológicas tinham melhorado e a esperança da conclusão da
“travessia” transformar-se-ia em realidade quando tivemos conhecimento que as
duas (2) esquadrilhas já tinham descolado do Sal cerca das 10H00 e se estavam a
aproximar do aeroporto de Bissau (Bissalanca). Algum tempo passado eis que
surge a primeira esquadrilha, dez (10) minutos depois aparece a segunda e ambas fazem a sua aterragem em condições absolutamente normais; as
oito (8) aeronaves foram recebidas na placa de estacionamento do aeroporto de
Bissalanca (Guiné-Bissau).
Ao ser concluída a “travessia” e à
distância de quarenta e três (43!) anos, posso afirmar com toda a convicção que
foi um momento inesquecível para todo o pessoal (pilotos e mecânicos) que teve
a grande satisfação de participar na operação “ATLAS” e em que mais uma
vez foi reconhecido o nível operacional da Esquadra 51 (Falcões) e em
simultâneo o seu poder de mobilidade.
Quero ainda sublinhar que foi a primeira
e única “travessia” em aviões de “reacção” (F-86F “Sabre”) de Monte Real
para a Guiné-Bissau (no total de 3.888 Km e o tempo de 07H50 sobre o
Atlântico) e pelo menos não é do meu conhecimento que estas aeronaves estando
ao serviço de Forças Aéreas de outros países, nomeadamente os da NATO, tivessem
percorrido distância semelhante sobre os Oceanos.
Finalmente, alguns militares que tiveram
a alegria de participar neste evento, que na época foi um risco, mas como ficou
provado muito bem calculado e superiormente executado (com o factor sorte do
nosso lado), já não estão connosco em corpo, aqui lhes presto a minha singela e
comovida homenagem e quem sabe, talvez ainda haja tempo de lhes prestar uma
justa e merecida homenagem a título póstumo.
Autor
Capcabeleira.blogspot.pt
Li o trabalho do nosso amigo Cabeleiro sobre a Operação Atlas.
ResponderEliminarGostaria de o cumprimentar pelo excelente e pormenorizado trabalho com que nos presenteou.
Os meus cumprimentos com um grande abraço.
Fernando Moutinho
Este comentário foi removido pelo autor.
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