domingo, 1 de fevereiro de 2009

757 GUINÉ - MIGUEL PESSOA E O MISSIL SAM -7 STRELLA.





João Carlos Silva
Esp.MMA BA 4
Sobreda da Caparica



Víctor, Espero que esteja tudo bem contigo. Hoje, envio-te uma mensagem sobre o assunto referido no Post 753,"Ó não fosse escrito por ti,Miguel!" de autoria do Miguel Pessoa, para publicares se achares de interesse. Em complemento envio duas fotografias (para a fotografia) na linha da frente da BA6.




O João,na Base Aérea cumprindo a sua missão fazendo a inspecção a uma aeronave Fiat-G91



Num momento de lazer,o João pousando para a fotografia na entrada de ar da aeronave Fiat-G91,na Base Aérea nº6




Companheiro Víctor,

Ao longo deste tempo que vou “voando” no “nosso” blog as emoções são constantes.
Hoje venho referir a mensagem do Miguel Pessoa que levanta um pouco do véu sobre um acontecimento que, além de estar presente em quem viveu esses acontecimentos (e não é fácil de falar), faz parte do imaginário colectivo de quem “estuda” estes temas da Guerra Colonial.
Felizmente ele está entre nós para contar na primeira pessoa aquilo que passou ao serviço da “nossa” FAP, apesar de 2cm mais baixo, pois a “Martin Baker” empurrava forte.
Não me vou pronunciar sobre alguns comentários que têm vindo a lume relativos à nossa FAP noutros blogs sobre a Guerra Colonial na Guiné pois, além de não ter conhecimento de causa, por outro lado parece-me clara a referência do Miguel Pessoa às 400 missões que realizou (apesar do interregno devido à sua recuperação).
Vou apenas comentar o que refere dos G’s metidos na máquina (piloto e aeronave) por força das manobras de recuperação de passe ou de evasão, pois era um ponto de controle para os MMA (a minha especialidade) da linha da frente, no que respeita à aeronave.
O Acelerómetro que ia registando os G’s e que o piloto podia ir monitorizando durante o voo, era um instrumento que tínhamos de inspeccionar quando recebíamos o avião pois, caso o limite de força G da aeronave fosse excedido ficava bloqueado. Não me consigo lembrar agora qual o limite do FIAT G-91. Isto é, se numa manobra mais forte a aeronave fosse submetida a uma aceleração G superior ao seu limite, o ponteiro indicador do acelerómetro ficava bloqueado mostrando o respectivo valor. Isto obrigava a uma inspecção cuidada da aeronave pelas equipas da manutenção. Lembro-me em particular que se tinha que verificar o alinhamento dos eixos da aeronave, para pesquisa de eventuais desalinhamentos estruturais e da necessidade da verificação do “torque” de todos (e eram muitos) os parafusos (através de chave especial em que era regulada a pressão de aperto) que uniam as asas à fuselagem.
Como muito bem descreves no blog, relativamente a esta mensagem do Miguel Pessoa, viveste de perto esses acontecimentos com as dificuldades inerentes.
Quanto ao Miguel Pessoa, tento fazer uma pequena ideia do que terá sofrido nessa missão pois não nos podemos esquecer que o piloto está sozinho, tem que vencer todos os naturais receios, analisar a situação e ir buscar todos os ensinamentos que teve na instrução, socorrer-se da experiência e enquadrar isto com a sua própria personalidade, em poucos segundos e decidir. A ejecção deve ser brutal (não é à toa que o Miguel Pessoa refere que perdeu 2 cms) e depois ficar entregue a si próprio ferido e na esperança que os camaradas, quais anjos da guarda, o possam resgatar. Talvez um dia ele nos possa explicar melhor tudo isto, se achar que é bom para ele e que faça sentido.
Nunca é demais salientar e agradecer a tua dedicação, Victor, a esta causa, permitindo que todas estas mensagens cheguem a todos nós e que possam ficar registadas para que os vindouros venham a conhecer, assimilar e respeitar o passado. Não é possível criar uma identidade sem considerar o passado.
“De Nada a Forte Gente se Temia”

Saudações Especiais,

João Carlos Silva, MMA, Jaguares (FIAT G-91), 2ª/79