Victor Sotero
SargºMor (Refº) EABT
Damaia
Meu Comandante:
Cá me encontro a saudar este Comando, a “Linha da Frente” e todos os “Zés” que nos visitam.
Até que enfim, cá estou para continuar a nossa gloriosa caminhada para o Sul de Angola.
...O JEEP era a nossa companhia. Do outro lado, continuavam a vender as “rifas”
Estávamos em Luanda.
Foi combinado o encontro na cervejaria Versalhes em plena baixa de Luanda.
Um “fino” dava direito a “jantar” na base de petiscos.
Amendoins, tremoços, dobrada, tudo por dois escudos. Era o preço de cada copo de cerveja.
Fomos dormir à B.A.9, enquanto que os nossos amigos ficaram por um hotel.
Não quisemos abusar de tanta amabilidade pois fomos convidados a ir para o mesmo hotel.
Alem disso, também nos dava “gozo” entrar dentro da Base de JEEP, sendo ambos do A.B.3.
Pela manhã, eis-nos a caminho de Silva Porto, passando pelo Quitexe, barragem de Cambambe, estradas largas e alcatroadas, como no Continente ainda não havia.
Não conhecíamos nada para Sul!
Colonato da Cela, onde os nossos amigos eram conhecidos e por aqui mais um dia se passou.
Gente tão boa, carinhosa até.
No outro dia, direitos finalmente a Silva Porto.
Chegados a esta cidade, uma avenida larga, candeeiros ao meio, acácias de um lado e de outro. Muitas flores pelas janelas das vivendas.
Por cortesia e sem estarmos à espera, fomos convidados pelo hospital a irmos para uma pensão e onde ficamos quatro dias. Alimentação e dormida por conta do Hospital.
Podíamos ficar o tempo que quiséssemos e ainda tínhamos o JEEP para nos deslocarmos.
Aproveitamos e ainda a nossa roupa que já estava suja foi lavada e passada a ferro.
As pessoas eram muito queridas e tinham muito respeito pela Força Aérea.
Os nossos amigos ficaram desgostosos quando dissemos que íamos embora direitos a Nova Lisboa.
Por aqui ficou também uma “madrinha de guerra” que, mesmo no final da comissão e já em Lisboa, ainda lhe ia escrevendo.
A boleia para Nova Lisboa foi arranjada pelos nossos amigos. Foi direta.
Lembro-me que antes de entrarmos na cidade passávamos por uma linha férrea e pouco depois lá nos aparecia a cidade.
Logo à entrada, um policia sinaleiro de origem africana!
Agradecemos a boleia e demos uma volta pela cidade moderna. Um espectáculo!
Ao passarmos pelo sinaleiro que já tínhamos visto, este sai do palanque onde se encontrava a regular o transito e corre para nós. Abraçou-nos. Tinha sido militar em Luanda no quartel general e ia muitas vezes à B.A.9 onde disse que foi sempre muito bem tratado.
Faltavam, creio que duas horas para ser substituído. Disse-nos para darmos mais uma volta pela cidade e que depois passássemos por “aquele” local.
Assim fizemos e levou-nos para sua casa. Ficaria muito aborrecido se não compartilhássemos com a sua mulher e dois filhos, a sua casa.
Tanto eu como o Pinto não esperávamos por esta oferta, mas aceitamos.
Talvez tivesse sido o local onde comi os melhores frangos de churrasco.
Não me lembro do nome, mas recordo-me muito deste casal com dois filhos ainda meninos e muito educados.
Quando nos despedimos, pois ficámos dois dias, este casal chorou pela nossa partida.
Tínhamos que partir! Ficava para trás uma cidade bonita, alegre, e muitos prédios ainda em construção. Esta família, também.
Agora, Lobito, Benguela.
Trinta e poucos Quilómetros separavam estas cidades.
Qualquer pessoa dava boleia. Não havia problema algum. Chegámos a dar voltas fora do itinerário porque as pessoas queriam ser gentis e gostavam da companhia.
Lobito com um grande porto de mar!
Uma grande avenida!
Quando no primeiro dia fomos para a boleia direitos a Benguela, apareceu um professor no seu JEEP. Todos os dias ia para Benguela onde dava aulas num liceu de raparigas.
A sua mulher era também professora e dava aulas no Lobito.
Ficou combinado que todos os dias de manhã, durante a nossa estadia no Lobito, nos levava para Benguela. Regressaríamos ao principio da tarde. Dava perfeitamente para almoçarmos e depois “visitar” a praia no Lobito.
Estávamos hospedados num hotel em plena avenida principal do Lobito do qual não me lembro o nome.
Fomos convidados para um jantar em casa destes professores onde fomos tratados como príncipes. Recordo-me que o vinho era branco, verde, marca Gatão. Lembro-me porque nos foi dito que aquela garrafa haveria de ser aberta num dia muito “especial”.
Meu Comandante
Voltarei ainda a Angola, mas se calhar, com um “postal ilustrado”.
São recordações que me marcaram muito e que hoje recordo com muita saudade.
Para o Comando, para a “Linha da Frente” e para os nossos “Zés”, as minhas habituais saudações aeronáuticas.
Sotero
Voos de Ligação:
Voo 1720 Férias sim,mas...em Angola em 1969 (I) Victor Sotero)