sexta-feira, 21 de maio de 2010

VOO 1720 FÉRIAS SIM...MAS,EM ANGOLA NO ANO DE 1969 (I)





Victor Sotero

Sargº.Mor EABT
Damaia



Meu Comandante:
Cá estou para mais uma "aterragem" e com ela, saudar a "linha da Frente" e todos os "ZÉS", nossos visitantes.

Porque tanto eu como o "ZÉ ESPECIALISTA", 177/66 Pinto não tínhamos tido férias no ano passado, em virtude dos "três" dias de detenção com que fomos "brindados" no paquete UÍGE, meti na cabeça que gostava de conhecer mais um "bocadinho" de Angola.
O Pinto, que vivia na senzala do Caia, só vinha de manhã para a base na carrinha do pão que nos abastecia e de tarde, lá ia no autocarro da base para ir ter com a sua "namorada" Rosa.
Ficava na base, na minha camarata, onde tinha a sua cama e o respectivo armário, apenas quando estava de serviço.

Legenda:Eu e o Pinto depois de uma pescaria na Lagoa do Congo Agrícola.
Foto: Victor Sotero(direitos reservados)

Convenci,apesar de tudo, o Pinto, a metermos férias e passear um pouco por Angola.
Sairíamos da base à boleia e por lá andaríamos o tempo que fosse necessário.
-Íamos meter trinta dias de férias.

Um dia, creio que de Maio ou Junho de 1969, com o pequeno almoço tomado e algumas sandes, eis-nos a caminho da aventura.
Despedimo-nos de alguns "ZÉS" e lá fomos direitos à porta de armas.
Ferdinando Antunes Caixas, era na altura 1º Sargento Piloto. Tinha um mini branco e foi a primeira boleia que apanhámos até à cidade cuja distância seriam cerca de 6 Quilómetros.
Para começar, não era mau, mas tínhamos muito que percorrer. O nosso objectivo era chegar a Sá da Bandeira.
A segunda boleia, foi num camião carregado com sacas de café. Ia para a cidade de Salazar, já bem distante do Negage.
Eram muito "conhecidos" mas "desconhecidos" por nós, os célebres "morros de salazar". Uma descida muito íngreme e a perder de vista. Por aqui constava-se que havia muitos acidentes em virtude dos calços de travão aquecerem ficando depois as viaturas sem travões.
Era também por aqueles lados que se faziam "emboscadas" e onde morreu alguma gente.
Chegados a Salazar, era altura do almoço. Demos umas voltas pela cidade e num jardim cheio de acácias rubras, sentados num banco,
comemos as sandes que havíamos levado da messe. Bebemos umas cucas num café e lá partimos para nova etapa.
-O que andava por ali a Força Aérea a fazer? Tinha chegado algum avião? Não, para estes lados a Força Aérea não tinha missões.
Chegados à estrada e "apontados" para Malange, começamos a ouvir o motor de uma viatura. Ficaria em Salazar ou continuaria para Malange?
-Lá vem um jeep e vai para Malange. Queres uma aposta?
Ganhei. Era um fazendeiro acompanhado de sua mulher e iam mesmo para a cidade.
Chegados a Malange, despedimo-nos agradecendo, claro.
Por lá ficamos o resto do dia. Malange era terra de diamantes mas nós nunca os vimos. Dizia-se que a estranhos, alguém apareceria com uma garrafa cheia de "pedrinhas", mas não, nunca vimos nada.
-Seria por andarmos fardados?
Estivemos muito tempo em Malange. Era já noite, quando no café central aparecem duas pessoas prontas para a conversa e até surpreendidos por andarmos por ali.
Tinham saído de Silva Porto, do hospital, e andavam a vender "rifas" para angariar fundos.
Um, era administrador e o outro era o motorista.
Conversa puxa conversa, soubemos que em Malange, tinham comprado um carro. O pior é que não tinham quem o levasse para Silva Porto.
Da nossa conversa, começa a haver "luz" na nossa imaginação.
Eu, ainda que "maçarico" tinha carta de condução já tirada no N'gage.
Da conversa, já noite avançada, fica combinado que conduzo o jeep e o Pinto vai comigo. Eles, pelo caminho, experimentam o carro.
Nessa noite, ficamos numa pensão, em Malange.
Sairíamos bem cedo, porque o calor iria apertar.
De manhã bem cedo, motores em marcha e eis-nos a caminho de Luanda.

Até breve, meu Comandante
Continuarei a viagem sempre à boleia.
As minhas saudações para a "Linha da Frente" e a todos os "Zés" que nos visitam.

Sotero

VB: Boa Tarde Sotero.
Depois destes dias de férias concedidos pelo comando(e eram merecidas),eis que voltas a aterrarer nos notícias fresquinhas e memoráveis.