Victor Sotero
SargºMor EABT (Refº.)
Damaia
Ao "Comando", à "Linha da Frente", a todos os "Zés" que nos visitam, as minhas saudações Aeronáuticas.
Meu Comandante:
O artigo do "nosso" Miguel Pessoa sobre "O LARGO DO LICEU", fez recordar em mim uma passagem na messe de Especialistas do A.B.3.
Não me recordando bem, mas recorrendo ao meu "imaginário" livro de recordações, lá encontrei já muito amarelecida pelo tempo, a folha com uma pequena história que hoje, não lembrava ao "diabo".
A "cagança" de um "Zé" Especialista, levava por vezes a tomar atitudes que pouco tempo passado se arrependia mas que pelo tempo fora nunca se esquecem.
Na messe de Especialistas, éramos servidos à mesa por um empregado civil, chamado Rodrigues.
Na sua ausência, em períodos de férias ou por outro motivo qualquer, então vinha um rapaz angolano da cozinha, que não sendo um "artista" lá nos ia servindo da melhor maneira que sabia.
Normalmente ao jantar, sendo uma refeição mais fraca, por vezes havia o desejo de uma repetição. Com o Rodrigues, havia sempre mais qualquer coisa. Com este "amigo", o Moisés, nunca havia repetição.
Repetiram-se alguns dias sem que fosse possível uma repetição com este rapaz, que meio a sorrir, meio a gozar, lá me ia enganando.
Um dia, disse-lhe:
Se amanhã não houver repetição, levo-te a "ver" o grilo.
Por aquelas bandas, abundavam os grilos. Insecto enorme e acastanhado que por vezes, nos seus voos, nos faziam "mossa" quando nos acertavam.
Um dia, ao jantar, perante a negativa da repetição, levantei-me da mesa e pegando-lhe no braço, disse-lhe:
-Anda cá fora ver o grilo.
Sem oferecer qualquer resistência, o Moisés veio até à porta da messe. Afastei-me um pouco e enfiei-lhe com dois pontapés nas traseiras e um empurrão que o levou a cair por cima da relva.
Um pouco nervoso, regressei à mesa.
Claro que os "Zés" queriam saber o que se tinha passado. Eu apenas dizia que o tinha levado a "ver" o grilo.
Muito pouco tempo depois regressou o Moisés com o seu sorriso "enganador". Ia para continuar o seu serviço se o não tivesse chamado e perguntado se tinha visto o grilo.
-Disse-me que não.
-Amanhã, se não houver repetição, vais "ver" o grilo. Amanhã, é que vais "ver"!...
No outro dia, houve repetição. Havia repetição para quem a pedisse.
Um dia, apanhei um grilo, meti-o numa caixa de cartão e mostrei-o ao Moisés.
Éramos amigos.
Nota:- Claro que hoje seria incapaz de fazer o mesmo, para mais, sabendo depois, que os restos da comida eram para levar para a "sanzala".
Desculpa Moisés. Angola é tua.
Meu "Comandante"
Despeço-me do "Comando", da "Linha da Frente" e de todos os "Zés" com as minhas saudações Aeronáuticas.
Até breve.
Sotero
Meu Comandante:
O artigo do "nosso" Miguel Pessoa sobre "O LARGO DO LICEU", fez recordar em mim uma passagem na messe de Especialistas do A.B.3.
Não me recordando bem, mas recorrendo ao meu "imaginário" livro de recordações, lá encontrei já muito amarelecida pelo tempo, a folha com uma pequena história que hoje, não lembrava ao "diabo".
A "cagança" de um "Zé" Especialista, levava por vezes a tomar atitudes que pouco tempo passado se arrependia mas que pelo tempo fora nunca se esquecem.
Na messe de Especialistas, éramos servidos à mesa por um empregado civil, chamado Rodrigues.
Na sua ausência, em períodos de férias ou por outro motivo qualquer, então vinha um rapaz angolano da cozinha, que não sendo um "artista" lá nos ia servindo da melhor maneira que sabia.
Normalmente ao jantar, sendo uma refeição mais fraca, por vezes havia o desejo de uma repetição. Com o Rodrigues, havia sempre mais qualquer coisa. Com este "amigo", o Moisés, nunca havia repetição.
Repetiram-se alguns dias sem que fosse possível uma repetição com este rapaz, que meio a sorrir, meio a gozar, lá me ia enganando.
Um dia, disse-lhe:
Se amanhã não houver repetição, levo-te a "ver" o grilo.
Por aquelas bandas, abundavam os grilos. Insecto enorme e acastanhado que por vezes, nos seus voos, nos faziam "mossa" quando nos acertavam.
Um dia, ao jantar, perante a negativa da repetição, levantei-me da mesa e pegando-lhe no braço, disse-lhe:
-Anda cá fora ver o grilo.
Sem oferecer qualquer resistência, o Moisés veio até à porta da messe. Afastei-me um pouco e enfiei-lhe com dois pontapés nas traseiras e um empurrão que o levou a cair por cima da relva.
Um pouco nervoso, regressei à mesa.
Claro que os "Zés" queriam saber o que se tinha passado. Eu apenas dizia que o tinha levado a "ver" o grilo.
Muito pouco tempo depois regressou o Moisés com o seu sorriso "enganador". Ia para continuar o seu serviço se o não tivesse chamado e perguntado se tinha visto o grilo.
-Disse-me que não.
-Amanhã, se não houver repetição, vais "ver" o grilo. Amanhã, é que vais "ver"!...
No outro dia, houve repetição. Havia repetição para quem a pedisse.
Um dia, apanhei um grilo, meti-o numa caixa de cartão e mostrei-o ao Moisés.
Éramos amigos.
Nota:- Claro que hoje seria incapaz de fazer o mesmo, para mais, sabendo depois, que os restos da comida eram para levar para a "sanzala".
Desculpa Moisés. Angola é tua.
Meu "Comandante"
Despeço-me do "Comando", da "Linha da Frente" e de todos os "Zés" com as minhas saudações Aeronáuticas.
Até breve.
Sotero
Voos de Ligação:
Voo 1961 O LARGO DO LICEU.