Victor Sotero
SargºMôr.EABT
Damaia
Meu "Comandante":
As minhas saudações ao "Comando" à "Linha da Frente" e a todos os "Zés" que nos vão visitando.
"Mergulhei" na Lisboa nocturna na véspera de um feriado. Trabalhar à noite é diferente, como diferentes são as pessoas que se transportam.Gosto, apesar das "ARMADILHAS DA FLORESTA".
A noite avança!
Estou próximo do Cais do Sodré.
Casino Lisboa? Não, ainda é cedo e são muitos quilómetros.
Subo a rua do Alecrim e vou até à Misericórdia.Na praça, já muitos táxis. Penso ainda em "zarpar" para outro lado, mas não, deixo-me ficar e fico atento ao rádio. Poderá vir uma chamada!
O Bairro Alto está "cheio" de turistas, vamos aguardar! Por ordem, os táxis vão saindo.
"Tocaram-me" quatro raparigas Espanholas.
Sete Rios. Apanhar o comboio para Sintra.
Não, a esta hora não há comboios. Convenço-as. Vou para Sintra, hotel Tivoli na Praça da Republica.Moças "alegres" e divertidas. Rápido, não há transito.
Regresso a Lisboa, a mesma IC-19.Pelo caminho lembro-me do Biltro que mora para estes lados. O Narciso que mora também um pouco mais à frente. Dormem concerteza, é ainda noite.
Passo pela Buraca. A praça de táxis está vazia. Quem pára por estes lados à noite?
Igreja de Benfica. Só está um táxi e não é da Rétalis, o meu rádio.
Fico atento. Uma chamada. É para perto, Avenida Grão Vasco. Dirijo-me ao local. Um casal já vem descendo as escadas com as suas malas.
-Bom dia!
-Bom dia, vamos para o Aeroporto.Serviço efectuado e agora? O dia começa a amanhecer cinzento. É feriado.Avenida do Brasil. À esquerda, Avenida de Roma e lembro-me da pastelaria Luanda que me fica à esquerda.
Dou volta ao "cavalo" na João XXI, entro na Óscar Monteiro Torres e novamente Avenida de Roma.
Já está aberta. Entro. Tomo o pequeno almoço.
Um enorme quadro, ex-libre de Angola, a Baía de Luanda. O edifício mais alto, o B.C.A. dos tempos do "colonialismo". Para a direita fica a VERSALHES, que
um dia foi destruída pelos PARA+FUSOS, também com a "ajuda" dos nossos "Zés" da B.A.9.
Aproveitando a "pausa", deixo-me "levar" no NORD até ao A.B.3, Negage, cerca de uma hora de voo.À minha espera, entre outros "Zés", o Quintas, mecânico de rádio.-Quintas, logo vamos à "sanzala"?-Lá terá que ser!...
Lá vamos estrada fora. Vamos pela picada ou pela estrada?
Hoje, vamos pela picada.
No rio, as "filhas" devem de estar a tomar banho e a lavar a roupa dos "maridos". É fim do mês.
Já vejo a "Mola Partida", a Maria Camacho e a Rosa, a "mulher" do Pinto.
"Xiiii, vem aí Soteerraa", diz a Maria Camacho.
-Maria, o meu relógio?
-"Xiiii Soteerraa, vucê tu tens memo o mania"!
-"Relógio tá no meu palhota. Vucê tu tems memo quir buscar lá".
O Quintas afasta-se para uma pequena clareira onde se encontra uma árvore já seca e parte um pequeno ramo.
Para o imitar, chego-me também à árvore.Lanço a mão, em direcção ao "pau" que melhor me pareceu.
Puxo para baixo para o partir.
Éra a cauda de uma perigosíssima cobra.
Electrizado, foi como fiquei!
Uma cobra MAMBA deixou-se cair a meus pés e eu não tive qualquer reacção para fugir. Ficou a olhar para mim com a cabeçalevantada e de boca aberta enquanto eu, freneticamente sacudia a minha mão.
O Quintas e as "filhas" atravessaram o rio gritando muito alto, enquanto eu ficava entregue a tão horrendo animal.
Fugiram!...
Algum tempo depois, (que me pareceu muito), a MAMBA começou a rastejar e enfiou-se para o capim.
Acho que me quis dizer: -Desta vez, escapas!...
O Quintas e as "filhas" regressaram para junto de mim enquanto eu me ia "debatendo" com tamanho susto.
Fomos para a "sanzala". Havia "patacão". Por lá ficámos até de madrugada. A noite foi de "batucada".
Pequeno almoço tomado. Fim de "pausa". Despeço-me a olhar para outros quadros de Angola, mas a Baía!...
Começa a chover. A "folha" não está má!
Vou para casa.
-A foto mostra mais ou menos o local onde tive o grande "arrepio" de ter tocado numa das cobras mais venenosas de África.
-Uma cobra PITON acabada de ser morta.
"ARMADILHAS DA FLORESTA"!...
Meu "Comandante"
Despeço-me do "Comando", da "Linha da Frente" e de todos os "Zés" com um até breve.
Sotero
Nota.:-O relógio que ainda tenho, foi a retribuição de meus pais pelo exame da quarta classe e exame de admissão ao Liceu.
É um CAUNY PRIMA CENTENÁRIO e custou cem escudos que foram pagos a prestações.
Estávamos em 1960.