António Loureiro
Fur.Mil.PA
Figueira da Foz
Dá-me licença senhor Comandante
Para o CURADO, foi o fim da Linha.
Como anunciado, o funeral do nosso amigo Curado realizou-se à hora prevista para o Crematório da Figueira da Foz, depois da celebração da missa de corpo presente na Igreja de Santa Luzia de Lavos.
Ao seu filho, foram apresentadas condolências em nome dos Especialistas pelo nosso camarada Presidente da Direcção do Núcleo de Coimbra e por mim, tal como anunciei, fiz-lhe saber que apesar de não ter estado com ele na Guiné, fazia a entrega de uma palma de flores devidamente identificada com o logotipo da Linha da Frente, em nome dos seus camaradas amigos que com ele estiveram naquela Província.
O enlutado, sensibilizado pela solidariedade, apreciou o gesto e manifestou o seu agradecimento a todos os companheiros do pai que naquela hora não o tinham esquecido.
Estiveram presentes também: o David-EABT e o Anselmo-Enfº.
Controverso, e sempre com os nervos à flor da pele, era um homem bom e bem disposto, era a ele a quem eu recorria quando precisava de alguma orientação para tratar de assuntos relacionados com obras, e dele sempre obtive os ensinamentos para levar a bom porto aquilo que necessitava.
Trabalhamos os dois na construção da Ponte da Figueira, eu na mecânica e ele no ferro, podia não perceber nada daquilo, mas era irrascível e estava acima daquilo tudo, toda a malta gostava dele.
Um dia com as suas "pancadas", resolveu transformar o seu citroêen 2 cavalos em cabriotet, e pôs-lhe um toldo em lona todo "apinocado" com uns berloques, que mais parecia um carro do circo, só daquela cabecinha, e como já disseram antes, sempre pronto para as tainadas.
Em primeiro, quando nos encontrávamos e tínhamos um bocadinho mais de tempo, as conversas acabavam por ir parar sempre aos mesmos assuntos:
- Força Aérea.
- Guiné e também essa história já aqui aflorada pelo "Barnard" sobre a tal famigerada tampa da entrada de ar do Fiat, etc etc etc.
- Complicações com mulheres.
- "Trapalhadas", com que ele não alinhava lá no serviço.
Nos últimos anos, a coisa mudou de figura e praticamente só havia um tema, a doença, a doença, a doença e o sofrimento permanente que perseguia dia e noite, só atenuado por efeito de medicamentos.
Alguns, mais mal intencionados, quando o viam com o andar mais entorpecido por efeito dos comprimidos, tentavam aproveitara situação para o denegrir, (coisas da política), mas quando eu estava presente o caso mudava de figura e punha os pontos nos iiiiiiis, acabando por me chatear com alguns desses parvalhões manhosos.
No crematório, pela primeira vez, assisti à cerimónia até ao fim, e só vim embora com as lágrimas nos olhos quando o transportador mecânico avançou com a urna para o forno e a persiana arreou.
Nascemos no mesmo ano e é mais um que vejo partir.
Que Nossa Senhora do Ar o ampare.
ADEUS CURADO
Vou sentir a tua falta.
Voo 1996 O Curado(Cobra) partiu - Victor Barata
Voo 1997 Adeus Amigo!- Carlos Robalo
Voo 1998 Vamos despedirmo-nos do "Cobra" - António Loureiro
Voo 2001 De este lado do mar - Fernando Castelo Branco
Voo 2002 Adeus Companheiro – Victor Sotero e Jorge Mendes