Fernando Moutinho
Cap.Pil.Av.
Alhandra
Natal de 2012
Ao viver este Natal de 2012 não pude
deixar de recordar o Natal de 1966, em Angola.
1ª Viagem a Teixeira de Sousa
Esta aventura tem que se lhe diga.Eu e outro piloto bastante conhecido,
tínhamos chegados à B.A. 9 pouco antes do Natal
No Dia de Natal de 1966, estávamos de alerta os dois.Como não tínhamos família
connosco ficamos de serviço nessa noite.
Mas, nessa mesma noite, houve um ataque a Teixeira de Sousa, na fronteira Leste
de Angola. Num local até aí calmo aparece esta provocação.
Reacção: enviar uma parelha de F-84 para patrulhar a zona para mostrar força e
moralizar a população.
Claro que, como estávamos de alerta, fomos nomeados para a missão.Enquanto
colocavam depósitos suplementares, os nossos conhecidos “pylons” (a viagem era
longa) tentamos obter cartas aeronáuticas para preparar a viagem. A Região
Aérea forneceu-as. Fizemos os cálculos e descolamos um pouco após o almoço.
Deve dizer-se que, até aí, nunca os F-84G se tinham afastado da zona de Luanda.
A viagem seria: sobrevoar Henrique Carvalho (no Leste), continuarmos até
Teixeira de Sousa, sobrevoar esta povoação e aterrar em H. Carvalho.
Fizemos a viagem a 20.000 pés, por cima de nuvens e, de acordo com os nossos
cálculos, iniciámos a descida consoante calculávamos a 20 milhas fora mas,
devido à distância (julgávamos nós) e à baixa qualidade das ajudas rádio, a
essa distância, ainda não se sintonizava o radiofarol HC nem se falava com a
Torre.
Saímos das nuvens cerca de 2000 pés acima do terreno e, surpresa: quando
devíamos estar a ver a Base – nada. Chamamos – sem resposta.
Estávamos praticamente “perdidos” mas com combustível. Avistámos uma picada e
seguimo-la e, pouco depois, uma povoação que, felizmente, como era costume em
Angola, tinha o nome escrito no telhado. Essa povoação estava no mapa mas cerca
de 50 milhas antes de H. Carvalho. Era esquisito mas nada se poderia fazer
nessa altura. Seguimos a picada e… H. Carvalho.Falamos com a Torre e, foram
surpreendidos – não tinham sido avisados da nossa chegada e tinham o radiofarol
desligado – era Dia de Natal e não tinham movimento. Expliquei-lhes a nossa
missão pedindo-lhe que colocassem os candeeiros de iluminação na pista pois
chegaríamos já de noite.
Sobrevoamos o aeródromo e fomos para Teixeira de Sousa onde demos duas ou três
voltas para nos mostrar ao ”IN” e ao mesmo tempo animar as nossas “hostes”.
Começamos o regresso já ao lusco-fusco e já perto de HC, verifico que não tenho
recepção do radiofarol. Incrível! Chamo a Torre e respondem-me, alguém tinha
desligado a rádio ajuda.
Enquanto iam ligar o equipamento, continuamos o voo e passados alguns minutos
como a noite estava muito escura apercebo-me do clarão dos potes de iluminação.
Acabamos por aterrar em segurança mas já “apertados” em termos de combustível –
daria para cerca de 10 minutos. Tempo de voo 2:55 h.
O problema da Torre deveu-se à mudança de turno, rotina e ser domingo e Natal
ninguém foi avisado do voo extraordinário.
Após mais 2 voos de soberania na área, regressamos a Luanda no dia 29 tendo
corrido tudo normal.

Legenda:
Na Foto podem ver-se os F-84 com depósitos ditos
pylon.
Foto: Cortesia dos Chamuanzas.
Esta viagem teve vários problemas,
alguns impensáveis – Nada se saber em H. Carvalho foi o mais incompreensível.
Faltava explicar o erro de navegação. Em Luanda e com calma tento compreender
onde esteve o erro. As 2 cartas aeronáuticas fornecidas pela região Aérea eram
de origem americana e fiáveis. Juntei as cartas, refiz os cálculos mas os resultados
mantiveram-se. Até que reparei que o erro correspondia a ± 60 milhas náuticas.
“Acendeu-se uma luz” - correspondia a 1 grau nos paralelos.Conclusão, as cartas
fornecidas não se podiam justapor, faltava exactamente uma faixa de 60 milhas
náuticas de terreno.
Mais um erro em que me sinto também culpado mas não espectável.