terça-feira, 31 de março de 2009

VOO 891 EXPOSIÇÃO "ASAS DE GUERRA"






Augusto Ferreira
2ºSarg Melec/Av /Inst Tete
Coimbra


Asas de Guerra

Amigo Vítor Barata, ao passar hoje junto á Casa Municipal da Cultura de Cantanhede, fiquei agradavelmente surpreendido, com a presença de uma exposição de Aviões de Guerra e resolvi entrar para a visitar.



Legenda: Exposição Asas de Guerra
Fotos: Augusto Ferreira (direitos reservados)


As coisas, começaram por não correr lá muito bem ao princípio, porque hoje a exposição estava fechada. Ás segundas-feiras não abre.
Mas quando me identifiquei, como antigo mecânico da Força Aérea Portuguesa, eles não foram capaz de me vedar o acesso, abrindo-ma de par em par, o que agradeci.
Gostei imenso. Trata-se de uma exposição de miniaturas, executadas por um antigo piloto da nossa Força Aérea, o Élio Mesquita e que reside em Cantanhede. Alguém se recorda dele?


Legenda: Élio Mesquita entrar para o cokpit do F-84
Fotos: Augusto Ferreira (direitos reservados)

Hoje já não está na FAP e é o Sr. Engenheiro.
São cerca de três centenas de modelos e está fabulosa. Teve o apoio da FAP.
Estão lá também, alguns painéis de instrumentos originais, assim como uma cadeira.
Se alguns dos nossos companheiros, tiver oportunidade de a visitar, não deixem de o fazer, pois conseguirão ver ali, a história da nossa Aviação Militar.
Só encerra à segunda, mas está aberta aos sábados e domingos, em horários que será melhor confirmar. Vai estar patente, até 19 de Abril de 2009.
Parabéns ao nosso grande piloto Élio Mesquita.
Em anexo, estou a enviar o convite que abriu a exposição, a foto do piloto Élio Mesquita, uma nota de abertura e o seu curriculum militar. Espero que chegue legível.


Legenda: Convite para visita à Exposição Asas de Guerra
Fotos: Augusto Ferreira (direitos reservados)


Legenda: Sonho de Voar
Fotos: Augusto Ferreira (direitos reservados)




Legenda: Curriculum Militar do Piloto Élio Mesquita
Fotos: Augusto Ferreira (direitos reservados)

Para finalizar, as fotos de dois de alguns mini modelos, que fazem parte da exposição e de uma brochura, que está á venda na Casa da Cultura em simultâneo.


Legenda: Modelo do ALPHA JET executado à escala com pintura da Esquadrilha “Asas de Portugal”
Fotos: Augusto Ferreira
(direitos reservados)


Legenda: Modelo do Sikorsky UH-19 A executado à escala
Fotos: Augusto Ferreira (direitos reservados)

Se tiverem oportunidade aproveitem, vão gostar.
Um grande abraço mais uma vez, para a equipa que coordena este espaço e para todos os Zés Especiais da Linha da Frente.

Até breve

Augusto Ferreira


JC: Companheiro Augusto Ferreira, oportuna reportagem nos trazes desta bela exposição reveladora da perícia, dedicação e paixão pelos aviões e pela Força Aérea Portuguesa.
De registar a atenção e amabilidade dos funcionários da Casa Municipal da Cultura de Cantanhede para com um ex-Especialista, ao permitirem a sua visita à exposição mesmo no dia em que está encerrada.
Saudações Especiais

segunda-feira, 30 de março de 2009

VOO 890 PRIMAVERAS








Augusto Ferreira
2ºSarg Melec/Av Inst Tete
Coimbra


Olá companheiros .
Estou de novo convosco, neste início de Primavera, que tantas más memórias nos trouxe, relativamente a maus períodos, da nossa passagem pelas ex-províncias ultramarinas, na altura da Guerra Colonial, com os relatos dos próprios pilotos e mecânicos, de acontecimentos trágicos, que nos marcaram para sempre.
Vítimas dos políticos e política da altura, que não olhou a meios, para atingir os seus fins, empurrando para a guerra, jovens que desejavam uma vida em paz com os seus.
Tudo em nome de uma Pátria, que já não é a mesma de hoje, porque a política e os políticos, também mudaram. Mas nós tivemos que ir. E amanhã?
Amigos e companheiros, também vos trago hoje boas memórias, de um Torneio da Primavera de 1971, efectuado na casa mãe BA2- Ota, com a participação do pessoal em formação no GITE, naquela altura.
Seguem em anexo, instruções do respectivo torneio, assim como uma foto (já publicada) de uma equipa aonde estou, assim com o nosso comandante Vítor Barata, com os cabelos do peito à mostra e ainda de calções.





Legenda: Instruções do torneio da Primavera de 1971
Foto Augusto Ferreira
(direitos reservados)




Legenda:em cima esqª/dirª Geraldes, Víctor Barata, Zé Dentinhos ,Serôdio, Maurício
Em baixo esqª/dirª Martins, Chitas, Augusto Ferreira, Gonçalves
Foto: Augusto Ferreira
(direitos reservados)


Termino por hoje, enviando um forte abraço, para a cabine de pilotagem do blogue, extensivo à grande equipa de Zés Especiais, que compõe a nossa Linha da Frente, com a certeza, de que ninguém, encurtará a nossa memória, enquanto por cá andarmos.
Até breve

Augusto Ferreira

JC: Viva Augusto Ferreira, infelizmente é bem verdade o que referes das más memórias por estes dias e o nosso Blog é espelho disso.
Gostei do equipamento da equipa, embora não dê para ver as cores, cheira-me a estilo Leão. Já nessa altura se vislumbrava algum tipo de sistema pois os árbitros tinham de requisitar os apitos, sabe-se lá de que cor.
O comandante Víctor atirou a camisola para os adeptos depois daquele golo de trivela ?
Aproveito esta oportunidade para agradecer as tuas palavras de incentivo.

Um abraço

domingo, 29 de março de 2009

VOO 889 OS NOSSOS PRECURSORES...NA RECÉM CRIADA FAP.



João Carlos Silva
MMA, BA6
Sobreda da Caparica


Companheiro Víctor, Companheiros da Linha da Frente,
Foram os primeiros da então novel Força Aérea Portuguesa, pois tinha acabado de ser criada, em 1 de Julho de 1952, através da fusão da Aeronáutica Militar com a Aviação Naval.
Foram esses jovens do início dos anos 50, os primeiros (enquadrados pelos elementos das Aviação Naval e Militar (*) que através da sua capacidade técnica e dedicação contribuíram para o funcionamento dessa nova organização chamada Força Aérea Portuguesa.
Foram eles que com o seu aprumo, dedicação, trabalho, conhecimentos técnicos e irreverência da juventude, lançaram as bases de uma classe profissional, no seio da “nossa” FAP, muito respeitada e considerada (inclusivamente na vida civil).
Foram os primeiros Especialistas da Força Aérea Portuguesa, os Precursores dos Especialistas na FAP.
Se tive o desejo de ingressar na “nossa” FAP como Cabo Especialista e muita honra tive de a servir da melhor maneira que pude, aos mais antigos também o devo e hoje especialmente a minha singela homenagem aos nossos Precursores na FAP.
Depois de sair da "nossa" FAP em 1982 estive algo afastado, mas, há alguns anos comecei a procurar "coisas" desses tempos através da Internet e uma das fontes de informação que me prendeu foi um site chamado Aeronáutica e Espaço
http://aerodino.no.sapo.pt/ de Aniceto Ferreira de Carvalho.
Para quem não conhece, o Aniceto Carvalho é nosso companheiro Especialista e foi dos precursores, isto é, ingressou na FAP em 1952 como aluno mecânico de avião.
Dei por muito bem empregues as horas de leitura, absorvido pela informação, fascinado pelas histórias, pelo Helldiver (*) (só o nome mete respeito) e pelo "mistério" de como seria a vida de um Zé Especial nesses idos dos anos 50. No que respeita ao site por ele criado, louvo a sua dedicação e paixão pela causa da aviação e da FAP em particular e especialmente quero agradecer-lhe os momentos fantásticos que o site me proporcionou (e continua a proporcionar) aprendendo a vivência dos jovens Especialistas nos anos 50.
Após ter estabelecido contacto com o Aniceto, prontamente respondeu, autorizando a retirar qualquer escrito que me chamasse mais a atenção e disponibilizando-se para qualquer contacto que achássemos necessário. Desta forma, não resisto a partilhar com a Linha da Frente um dos seus muitos textos, assim, com a devida vénia:

Mar da Palha

Tínhamos chegado no dia anterior ao então Centro de Aviação Sacadura Cabral (**). Primeiro dia de Dezembro de 1953. Era feriado. No dia seguinte iríamos ter a oportunidade de mostrar o que tínhamos aprendido durante um ano de curso na Escola Militar de Aeronáutica.
Foi a primeira vez que o vi. Logo à entrada, mal acabara de ultrapassar a porta do hangar: Azul-marinho pesado, fosco, a dar ideia de empinado na roda de cauda, as asas dobradas por cima da fuselagem, o motor lá em cima, enorme, parecia inacessível.
Não era um avião bonito. Grande, robusto, desajeitado, o Helldiver (***) era, no entanto, um verdadeiro avião de guerra. E eu, embora com 18 anos era militar de carreira. O Helldiver estava a fascinar-me. Lembro-me de ter pensado: “O tipo de aparelho que eu gostaria de trabalhar”.
Sem saber porquê, mas sem ser pelo número de ordem, nem pela classificação no curso, alguns minutos depois tinha sido um dos indigitados a receber as primeiras luzes no pesado bombardeiro de mergulho.
A esquadra tinha cerca de 20 Helldiveres, dos quais uma boa parte voava todos os dias, com um ou dois normalmente em manutenção.
Comigo, com mais três pequenos “sábios” como eu acabadinhos de sair do curso, dois furriéis ex-cabos da Aviação Naval, e o 2º. sargento Pinho a chefiar, o “staff” da manutenção dos Helldiveres ficou completo.
No papel, claro. Quando os dois furriéis repararam que já tinham quem fizesse o trabalho por eles nunca mais ninguém os viu… de nada adiantou ao sargento esganiçar-se em cima da asa a chamar por eles.
Não havia nada a fazer. Tínhamos de aprender… E depressa.
O Pinho era um “artista”, levava-nos onde queria: Ensinava-nos como se fazia, virava as costas, regressava depois a verificar se tudo estava feito como ele tinha mandado. Liberdade, responsabilidade. Resultou. Meses depois éramos nós que púnhamos os aviões na rua, e… o máximo!... que lhes fazíamos o ponto fixo após a inspecção. Pelo meio, paródia, claro… até na hora de trabalho: Tudo valia a pena por um voo no lugar de trás do Helldiver a rapar praia fora ou a visitar a família na parvónia.
Em finais de 1956 os Helldiveres regressaram a Aveiro de onde tinham saído quatro anos antes. Nós partimos para outra.

Autor: Aniceto Carvalho no site Aeronáutica e Espaço http://aerodino.no.sapo.pt/ (direitos reservados)



Helldiver SB2C-5 sobre o Mar da Palha. Na ponta da asa direita, à frente, o extremo da Base Aérea 6.
Fotos: Aeronáutica e Espaço de Aniceto Carvalho http://aerodino.no.sapo.pt/
(direitos reservados)


Ainda vou querer saber mais detalhes relacionados com o impressionante nome deste avião de guerra.
Este meu pequeno texto para os meus precursores na FAP, em memória dos que infelizmente já nos deixaram e, aos presentes, os votos de boa saúde e que espero vê-los a comemorarem os 60 anos de incorporação, está quase. Seguramente que os restantes Operacionais da Linha da Frente partilham deste meu voto.
Saudações Especiais a todos os Companheiros e Visitantes da Tertúlia da Linha da Frente,

João Carlos Silva, MMA, Jaguares (FIAT G-91), 2ª/79

Notas de JC e fonte http://aerodino.no.sapo.pt/:
(*) Nestas armas os pioneiros da aviação militar em Portugal, tendo nós um maravilhoso exemplo no nosso Especialista de Honra Vergílio Lemos da incorporarão de 1939.
(**) Actualmente Base Aérea nº 6 (desde 12 de Junho de 1954)
(***) Curtiss Helldiver SB2C-5 – Bombardeiro de mergulho

Especificações:

Monomotor, bilugar;
Motor, Wright Cyclone, GR-2600-20, radial, de 14 cilindros, com 1900 hp de potência;
Dimensões: Envergadura, 14,80 metros; comprimento, 11,20 metros; área alar, 39,20 m2;
Performances: Velocidade máxima, 450 Km/h; Raio de Acção, 1700 Km;
Pesos: Equipado, 6500 Kg;


Armamento:
O Helldiver podia carregar até 500 quilos de bombas na barriga, mais 500 quilos nas asas; dois ou quatro canhões de 20mm montados nas asas; duas metralhadoras de 0,30 para defesa de ataque por trás no lugar do artilheiro; e quatro foguetes de polegada em cada asa.

Na Aviação Militar Portuguesa:

Em 1950 foram adquiridos 24 destes aparelhos para a Aviação Naval. Inicialmente colocados em São Jacinto, transferidos para o Montijo em 1952, transitaram para a Força Aérea Portuguesa no mesmo ano. Após 4 anos de operação na Base Aérea 6, os Helldivers regressaram a São Jacinto em finais de 1956. Dos três acidentes registados na unidade do Mar da Palha, um dos quais fatal, nenhum foi causado por deficiência do avião.

VOO 888 A MEMÓRIA DE UM TRISTE DIA.




Cristiano Valdemar
Esp.MMA Guiné

Sobreda da Caparica

Embora com um dia de atraso, quero deixar aqui uma mensagem para uma de algumas pessoas que me marcaram enquanto militar.Dia 28 de Março de 2009 fez 36 anos que faleceu um Homem que no dia anterior tinha celebrado as suas 40 Primaveras, que era rigoroso no que fazia e exigente para com aqueles que com ele colaboravam e dos quatro anos que o acompanhei na minha simples tarefa de mecânico de F86 e Fiat G91 sempre demonstrou que tinha uma grande confiança no trabalho daqueles que o rodeavam, refiro-me ao Sr.Ten. Cor. Pilav. Almeida Brito, curvo-me perante a sua memória. Sendo eu a última pessoa que falou com ele pessoalmente tenho alguma tristeza e principalmente pelo que se passou nos anos seguintes. Alguma coisa já foi dita sobre isso, mas haveria talvez mais a dizer.
Descanse em Paz.
Cristiano Valdemar


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884 -Descolou à 36 para o seu último voo
885 -Ten.Cor.Brito não me esqueço das suas palavras
887 -Obrigado por tudo Ten.Cor.Almeida Brito

sábado, 28 de março de 2009

VOO 887 OBRIGADO POR TUDO TEN.COR.ALMEIDA BRITO



Fabrício Marcelino
Esp.MMA, 1960, Guiné
Leiria

Caros colegas, já algumas vezes dei a conhecer neste Blogue, a especial amizade que sempre nutri pelo Ten. Cor. Pilav. Almeida Brito, e a grande mágoa sentida, quando tive conhecimento da sua trágica morte. Chorei por ele e, ainda hoje faz parte das pessoas que recordo com saudade.
Tive o grato prazer de conviver com ele diariamente durante dois anos, na linha da frente da Esquadra 51, na B.A.5, com os F-86.
GRANDE piloto, GRANDE HOMEM, GRANDE militar, muito honesto, compreensível, cumpridor e extremamente educado, embora exigente.
Como capitão, em 1962/63, foi meu comandante de missão à Guiné. Aí, aquele GRANDE HOMEM que nós já conhecíamos, mostrou ainda mais, até ao limite, variadas vezes, a sua bondade.
O seu pessoal era sempre defendido e, fazia tudo o que fosse necessário para os proteger, em qualquer situação, nem que para isso ele próprio fosse prejudicado.
Relembro o facto, de ele como 2º.comandante interino da Base ( A.B.2 nessa altura e só mais tarde B.A.12),ter cortado relações com o 1º comandante, para nos proteger da perseguição dessa terrível fera militarista, cujo nome não me recordo, porque os maus são para esquecer!
Foi também graças a ele, que todos trouxemos carta de condução militar, lista branca! Muito bem havia a dizer deste GRANDE SENHOR, embora compreenda, que o mesmo não deva ter agradado a toda a gente. Mas isso nem Deus agradou a todos.
Comovidamente, não podia de modo algum, deixar passar o 36º aniversário da sua morte, sem dizer mais uma vez, obrigado por tudo meu amigo e, que Deus o tenha no Céu, lugar que merece pelo que fez na terra.

Fabrício Marcelino


JC: Fabrício, realmente hoje uma data menos feliz, mas, 36 anos depois, continua a ser recordada por vários Operacionais da Linha da Frente que serviram na FAP com o Ten. Cor. Almeida Brito e que abruptamente foram privados do seu convívio. Ficam, nestes importantes registos, as homenagens sentidas à sua memória.

Posts Relacionados:


884 “Descolou há 36 anos para o seu último voo…”
885 “Ten. Cor. Brito, Não me esqueço das suas palavras…”

VOO 886 OBRIGADO VERGILIO LEMOS


Vergilio de Lemos
"Especialista de Honra"
Recruta de 21 de SETEMBRO de 1939



Companheiros

À uns tempos atrás,numa das minhas visitas a casa do Carlos Ferreira,em Coimbra,mostrou-me uma obra literária escrita por um companheiro nosso,Vergílio Lemos,intitulada "AS ASAS E O SONHO"
Despertando a minha atenção algumas das páginas que li,desde logo pensei na hipótese da sua aquisição.Como conseguiria eu o contacto com o autor da obra?
Procurei mas,onde o fiz, ninguém sabia do seu contacto. O Núcleo de Bragança da AEFA era o caminho a seguir. Não tem telefone! Desistir nunca foi lema de um "FAP".
Consigo então o contacto de um companheiro, que faz parte do referido núcleo,que me fornece o numero de telefone do Vergílio.
Liguei o numero e atendeu-me uma senhora:

-Bom-Dia,minha Senhora,é possível falar com o Vergílio Lemos?
-Quem fala? -
-Sou Victor Barata,ex-especialista da FAP.
-Eu sou a filha do Vergílio,vou chamar o meu pai.

Um voz cansada,um pouco rouca,fruto de 90 anos de idade,pergunta:

-Quem é?
-Sou um ex-especialista que estive consigo(respeito,a velhice é um posto!!!)no encontro anual na Ota,Victor Barata.
-Ah,já sei. Então como vais Victor?
-Eu bem,Vergílio,e você?
-Muito mal,estou velho. Então que me queres?
-Queria pedir-lhe o favor de me enviar um dos seus exemplares "As asas e o Sonho".
-Já não tenho nenhum,fiz 2ªedição e já acabaram.

Um autêntico balde de água fria não deixou uma ponta seca do meu corpo!

-Não te preocupes,Vergílio,obrigado na mesma e gostei muito de te ouvir.


Fiquei triste,era uma obra que gostaria de possuir porque,para além do seu conteúdo ser referência de uma causa por mim vivida e admirada,a vida de um especialista na FAP,é escrita por o Especialista,em vida,mais velho da classe. Isto para além de ser uma obra com um numero reduzido de exemplares.
Pedi ao Carlos Ferreira o favor de me o emprestar para ler,era o mínimo que eu cria mas...o máximo que podia ter!
E por aqui fiquei,pela sua leitura, que ainda mais triste me deixou por não o poder adquirir.
Aqui à uns dias atrás recebo uma encomenda postal proveniente de Bragança,remetida por Vergílio Lemos,num envelope almofadado exclusivo dos CTT.
Comecei por pensar...mas...não acreditar...
A aceleração na abertura do envelope foi com rápida! Era mesmo,era o que eu pensava e desejava,O LIVRO!
Que grande alegria este nosso ZÉ ESPECIALÍSSIMO,Vergílio Lemos me deu,apesar de as suas folhas estarem soltas e metidas dentro da capa,não estarem aparadas para encadernar,etc,o que me interessou foi obter o exemplar para meu património.
Mas ao começar a desfolhar,ou melhor,ao começar a pegar nas folhas, como já disse,soltas,reparo numa que estava escrita,recentemente,à mão que dizia assim;






"P.S.-Sou sócio da Sociedade Portuguesa de Autores,pelo que o livro "AS ASAS E O SONHO",não pode ser transcrito na Internet,nem nóutras.V.Lemos


Bragança,10 de Dezembro de 2008

Por pena minha,já não tenho nenhum exemplar do meu livro "As Asas e o Sonho",o que lamento. Procurei,no entanto,nas sobras que restaram,em mau estado,as que continuavam um volume.
Quem dá o que tem!...
Desculpa.Veja se consegue encaderná-lo.
Agradeço as fotografias enviadas.Agradeço também,os elementos que me mandas-te para poder aceder à Internet.
Como vês a letra não é minha(desta carta,claro) socorri-me da da minha filha porque estou a ficar cego(não leio nem escrevo).
Um abraço do
Vergílio Lemos "


Fiquei emocionado,O Vergílio,como nos diz,está a perder a sua capacidade visual e com ela um dom muito importante que possui,a escrita!
Obrigado Companheiro,apesar da minha vivência contigo ser muito curta,nunca te esquecerei!

Um fraterno abraço


Victor Barata




VOO 885 TEN.COR.BRITO,NÃO ME ESQUEÇO DAS SUAS PALAVRAS...




Miguel Pessoa
Cor.Pilav. Guiné
Lisboa

Caro Victor


Apenas conheci o TC Brito na Guiné mas, nos quatro meses que lidei com ele, pude apreciar as suas qualidades como Piloto, como Militar, como Homem.Não me esqueço da importância que ele teve na minha recuperação, poucos dias antes de ele próprio perder a vida.E também não me esqueço das palavras com que me acolheu, na minha apresentação:


"Você não está aqui para ganhar medalhas, mas sim para ajudar os nossos militares que estão p'raí espalhados pelo mato".


Penso ter honrado a sua memória, pois foi isso mesmo que eu tentei fazer.


Miguel

VOO 884 DESCOLOU À 36 ANOS PARA O SEU ÚLTIMO VOO...




Ten.Cor.Pilav. José Fernando Almeida Brito


Falecido em 28 de Março de 1973,no Teatro Operacional
da Guerra da Guiné,atingido por um míssil "Strela",
aos comandos de uma aeronave Fiat G91 R-14.














Notícia publicada no jornal "Diário de Notícias" do dia 31.3.1973"

O comandante-chefe das Forças-Armadas na Guiné anunciou que um avião "Fiat G-91"foi ontem abatido em combate,por um foguetão terra-ar lançado da Republica da Guiné,quando sobrevoava território português em missão de reconhecimento,no sul da província. O aparelho,pilotado pelo Ten.Cor.Pilav.José Fernando de Almeida Brito,explodiu no ar.O Piloto pareceu.O Ten.Cor.Almeida Brito,nascido a 27 de Março de 1933 em Lisboa,concluiu,em 1953,o curso de aeronáutica militar na Escola do Exército.Em todos os cursos que depois,ao longo da sua carreira militar,alcançou as mais elevadas classificações.Alferes em 1954,tenente em 1956,capitão em 1958 e major em 1963,foi promovido ao posto actual em 1968.Era condecorado com duas medalhas de Serviços Distintos com palma,por feitos em combate,com a medalha de Mérito Militar de 3ªClasse e com a medalha comemorativa das campanhas das Forças Armadas Portuguesas em Angola e na Guiné.Da sua folha de serviços constam ainda numerosos louvores e referências elogiosas.Estava proposto,pelo comando-chefe das Forças Armadas da Guiné,para a medalha de oiro de Valor Militar,com palma,pelo"relevante contributo prestado para o êxito do esforço de guerra no teatro de operações da Guiné,onde executou centenas de acções operacionais sempre evidenciando extrema perícia,grande coragem,energia e desprezo pelo perigo,sobretudo em duas,ao prosseguir com a maior serenidade o cumprimento das suas missões,apesar das aeronaves que pilotava terem sido seriamente atingidas pelo fogo inimigo."Profundo conhecedor das características técnicas dos modernos aviões,marcou gerações e gerações de pilotos que instruiu e comandou.Na Guiné Portuguesa,onde há cerca de três anos servia,no comando de acções independentes da Força Aérea e,ainda,em operações conjuntas com as forças de superfície,muitas vezes com risco da própria vida.


1ª Página do jornal local "A Voz da Guiné"na sua edição do dia 29 de Março de 1973,






Foto de Cristiano Valdemar
Direitos Reservados

Companheiros,

completa-se hoje o 36º ano que assinala o dia em que o mecânico de serviço na linha da frente dos Fiat's, Arnaldo Sousa, deu saída a uma parelha destas aeronaves, composta pelo Ten.Cor.Almeida Brito e Cap.Pilav.Pinto Ferreira, para aquela que se poderia classificar-se de "mais uma missão",não fosse o caso de no regresso receber apenas o último,o primeiro tinha sido atingido por um míssil, provocando a explosão da aeronave e a consequente morte do piloto.
Acabávamos assim de perder,o comandante do Grupo Operacional 1201, um grande piloto,um grande homem,um grande AMIGO.
Militar rígido,exigente,mas acima de tudo HUMANO!

Que Deus o tenha colocado na "Base"que merece.

Victor Barata

sexta-feira, 27 de março de 2009

VOO 883 ENCONTREI ESTA RELÍQUIA NO MEU BAÚ.





Arlindo Pereira
2ªSargº.MMA Tete-Moçambique
Lisboa


Numa visita recente ao meu baú, dei com esta foto a qual gostaria de adicionar ás que já se encontram no nosso blog, esperemos que através dela surjam novidades de outros Zés aos quais perdi o rasto.
Foto da 3ªEsquadrilha,3ªSecção,da Escola de Recrutas Especialistas da Força Aérea 2ª/69
Um grande abraço para o nosso comandante e para o seu co-piloto, assim como toda a Linha da Frente.

Arlindo Pereira

VOO 882 RESPOSTA DO LUIS NABAIS.



Fabricio Marcelino
Esp.MMA Guiné
Leiria
Caro colega Luís Nabais.

Li com muita atenção a tua discordância acerca do que escrevi no meu post 792(1), ao ponto de me considerares "injusto", na minha análise.Sem alimentar, nem um pouco sequer, qualquer polémica, cumpre-me apenas dizer que o caso que narrei, se passou exactamente como descrevi.Aliás este caso não é virgem motivo de maior exaltação.

Como eu digo no aludido post 792, "felizmente são uma minoria a pensar assim, mas mesmo que fosse só um já era muito". Claro que não me refiro a todos os ex-militares do exército nem sequer a maioria.
Também nada tenho contra os ex-militares do Exército ou da Marinha, isso que fique bem claro!Aliás, tu próprio confirmas que, ao ouvirem o roncar dos aviões era para vós um grande alívio.Também foste testemunha, como eu, que não fomos lá só para passear!
Como o Exército e Marinha o fizeram, também A Força Aérea,sempre cumpriu com a sua parte e, Deus sabe muitas vezes em que condições! Daí o motivo, de eu não gostar de ouvir um ou outro "papagaio", dizer que fomos lá para passear e pouco mais! Dado o exposto, não considero injusta a minha análise.
No TO, nunca notei qualquer inimizade, entre elementos dos 3 ramos das Forças Armadas, nem tinha que existir, pelo contrário, éramos todos militares e todos defendíamos o mesmo.

Com os meus cumprimentos

Fabrício Marcelino


(1) Post 792 "Actuação da FAP na Guiné"
VB: É sempre de salutar quando surge entre este tipo de dialogo entre dois companheiros que defenderam os mesmos"interesses" e o resultado é a reciprocidade da amizade que os uniu no passado e no presente.Este é o objectivo com que foi criado este espaço.

VOO 881 PARABÉNS TEN.PESSOA!




Manuel Lanceiro
Esp.MMA "Canibais" Guiné
Lisboa


Parabéns Ten. Pessoa


Hoje, dia 26 de Março, faz 36 anos.
É com certeza, um dos dias mais importantes, quiçá o mais importante, da tua vida.Não, não é engano, sei bem que o dia fatídico foi a 25, mas foi a 26 de Março, que, para teu bem e para nossa felicidade foste recuperado.
Calculas, com certeza, a alegria que a malta que estava na operação da tua recuperação, sentiu. O alívio.Foi emocionante, os saltos, os abraços, as lágrimas que alguns não conseguiram conter.
Foi inesquecível.
Parabéns Ten. Pessoa.



Junto duas fotocópias da minha agenda, daqueles dias, se achares que são relevantes publica, estás à vontade para fazeres o que achares melhor.
Um abraço.
Manuel José Lanceiro.

VB: Para quem viveu o momento e hoje lê estas palavras do Lanceiro,concertesa que sente a emoção com que ele as redigiu.

quinta-feira, 26 de março de 2009

VOO 880 ONDE ESTÃO HOMENS COMO ESTE HOJE EM DIA?


Joaquim Mexia Alves
Alf.Mil.Op.Esp. Guiné
Monte Real
Caros Camarigos, especialmente camarigo Miguel Pessoa

O texto do Miguel Pessoa(1) é algo que só um homem de coração grande e alto espírito de camaradagem pode escrever.
Depois de ter sido abatido no seu avião, (uma experiência altamente traumática), de ter passado uma noite numa mata que não conhecia, em terreno hostil, muito hostil, (não é preciso um desenho para se perceber o que deve ter passado nessa noite e como isso o marcou), ainda vem quase pedir desculpa por não ter estado com os seus camaradas durante 4 meses.
Onde estão homens como este hoje em dia?
Numa nação que se recusa a reconhecer ex-combatentes nascidos na Guiné, Angola, Moçambique como portugueses, recusando-lhes o magro sustento que uma pátria verdadeiramente agradecida lhes devia dar, um país que obriga aqueles que deram a sua vida ou grande parte da sua vida na sua defesa, (politicamente correcta ou não), a andarem de “Herodes para Pilatos” durante 34 anos para verem reconhecidas as suas doenças, as suas incapacidades, contraídas numa guerra assumida por esse mesmo país, é reconfortante apesar de tudo ler testemunhos como este.
Ao ler este testemunho do Miguel Pessoa renasce-me um pouco de esperança, ao perceber que se nós, ex-combatentes, quisermos, ainda podemos obrigar o estado português a assumir as suas responsabilidades perante os que lutaram e mais não pedem que uma vida digna, para que não fique definitivamente inscrita na nossa história, (tão rica de passado), a vergonha do abandono dos filhos que por Portugal lutaram, como então se dizia “do Minho a Timor”.
Abraço camarigo ao Miguel Pessoa e a todos os que nesta “Linha da Frente” se encontram
Joaquim Mexia Alves




(1) Post 876




VB:Olha Mexia Alves,se me permites,vou utilizar o inicio do teu texto para comenta-lo,só que enquanto tu usas o singular e vou fazê-lo no plural.

A reciprocidade existente entre o teu e o do Miguel,"só é possível entre dois homens de coração grande e alto espírito de camaradagem".

Efectivamente julgo ser uma grande virtude de que vocês desfrutam e contagiante a quem tem o privilégio os de ler.

A analise que fazes do Miguel é uma realidade. Efectivamente estou convencido que até aqueles que nunca conviveram com ele mas que lêem os seus textos,lhe conseguem encontrar esses atributos.

Hoje é o "tal "dia em que à 36 anos atrás, Deus o remeteu a nós dizendo que ainda não tinha vaga para ele.


VOO 879 NÃO SÓ DA GUERRA VIVIA O DAMASO...SE NÃO FOSSE A ARBITRAGEM!...



António Damaso
Sarg.Mor Paraqª. Guiné
Odemira

DA BANCADA PARA O CAMPO

No princípio do ano de 1974, influenciado por um filho da Terra que estava na Marinha, aventurei-me a tirar um Curso de arbitragem na Associação Provincial de Árbitros da Guiné.


Identificação do Manuel Dâmaso, emitido pela Associação de Futebol da Guiné,como estagiário de arbitro de futebol para aquela província.

Primeiro vieram os exames teóricos e só depois é que veio a prática no campo.
Começámos em fiscais de linha, de juniores e reservas, depois principais e por último começámos a apitar os Juniores e Reservas até que veio o 25 de Abril.
Além da documentação que me foi fornecida no Curso, comprei o Best-seller da altura em arbitragem que foi o livro do antigo árbitro Inácio de Almeida.
Lembro-me que nesse tempo eram árbitros de futebol de 11 dois Sargentos da FAP, um era o Bergano, que apelidavam de árbitro de meio campo, quer dizer que por estar gordo e com falta de preparação, não acompanhava as jogadas na diagonal do campo, limitando-se ao centro, isto é o que diziam as más-línguas.
O outro que não me lembro o nome, foi irradiado porque num jogo em que estava em Fiscal de Linha, começaram a chamar-lhe nomes a ele e família toda, não esteve com meias medidas, pegou na bandeirola, coloco-a ao lado do corpo em posição de tourear e virou-se para a bancada.
Voltando à minha experiência, fui um dia fazer de Fiscal de Linha no Campeonato Principal, entre um jogo de uma equipa de Bissau e o Mansoa, fomos de táxi e fui prevenido para a viagem com uma pistola de defesa pessoal calibre ponto 22, que deixei no cacifo.
Durante o jogo todo, tive sempre nas minhas costas, um indivíduo de raça negra Natural, que me perseguiu durante todo o jogo, pronunciando as palavras (filha puta).
Confesso que tive vontade de lhe dar com a bandeirola na mona, mas a custo consegui conter-me por pensar que aquele indivíduo tinha sido instrumentalizado para desempenhar aquele papel.
Penei bastante porque os jogos em Bissau começavam na hora de maior calor, lembro o último jogo que apitei, entre Reservas, que no final do jogo expulsei três jogadores por se terem envolvido em pancadaria.
Durante o jogo, um ou outro, veio-o me mostrar uma meia com uma nicada, por uma entrada mais dura, claro que devia ter separado a minha formação que tinha recebido nas Tropas Pára-quedistas de Instrução Dura, Combate fácil, cada vez que eu entrava num campo de jogos saía de lá a sangrar, esqueci que estava numa realidade diferente e porque apesar de dominar algumas palavras em crioulo, haviam muitas que não dominava e eles iam trocando.
Na crítica do meu conterrâneo Aires que era Instrutor, disse que eu em vez de ter o jogo na mão, andava a ver o jogo.
Agora transpondo a minha experiência da antiguidade para a actualidade, no jogo da taça da liga no Algarve, na minha opinião, o árbitro não quis de início estragar a festa mostrando cartões, o que os jogadores não quiseram compreender, depois deu no que deu.
Como dizia o meu Filho da Terra Aires, o árbitro e os seus fiscais andaram a ver o jogo.
Sou simpatizante do Sporting, entendo que toda a gente tem de honrar a camisola.
Quanto ao Benfica, devem estar caladinhos, e lembrar-se nos jogos efectuados naquele Campo que se ganharam alguma coisa foi com erros de arbitragem.
Quanto a nós todos, acho que nos devemos preocupar com o que nos espera e tenho tudo dito.
Saudações Aeronáuticas
Dâmaso


VB:Bom-Dia meu bom Amigo Dâmaso.

Então que é feito de ti? Fizeste uma ausência muito grande,espero que este teu regresso não tenha nada a ver com o último caso da "arbitragem do Luci"?

Não sabia desta tua faceta, de te dedicares à arbitragem na Guiné.Não era tarefa fácil,pois havia jogos em Bissau de alto risco,mas com mais lisura que aqui.

Vamos então ficar à espera das tuas novidades literárias,como nos dizes,até lá um abraço.

Victor Barata

VOO 878 A ENFERMEIRA QUE VINHA DO CÉU - PARTE DOIS..



Manuel Bastos
ex-Fur Mil Op Esp Exército Mueda-Moçambique
Coimbra

Na sequência do belo texto do Manuel Bastos, “A Enfermeira Que Vinha Do Céu”, publicado no post 837, continuamos a publicação dos eventos que este suscitou.
Temos o prazer de publicar hoje um novo texto do Manuel Bastos que ele afinal designa de Parte Dois.


A ENFERMEIRA QUE VINHA DO CÉU - PARTE DOIS.



Aqueles que não contam com a transcendência divina vivem irremediavelmente sós perante os seus actos. E sem desculpas. Mas têm o conforto de saberem sempre a quem devem agradecer tudo quanto de bom recebem na vida: aos amigos.
Um dia e em breve, terei algo de muito importante a agradecer. Terei que agradecer a um amigo muito recente, que as minhas palavras escritas cativaram, pela sua qualidade humana tantas vezes demonstrada neste curto espaço das nossas vidas, mas sobretudo pelo seu empenho em dar vida à personagem da primeira história do meu livro, "Um Sorriso de Mulher".
E terei que agradecer também a essa mulher, resgatada assim do passado de um velho soldado, de entre as memórias e a fantasia, para se vir a materializar dentro de dias num ser humano real, com a sua verdadeira história.
Uma mulher a quem premonitóriamente baptizaram com um nome que significa "Sofrimento com a dor alheia" e que os artistas plásticos escolheram para baptizar a imagem bíblica da Virgem Mãe segurando o filho apeado da cruz. Uma mulher de quem possuía apenas a silhueta difusa numa foto no heliporto da Enfermaria de Mueda, e através da qual dediquei, mais tarde neste blog, um texto de homenagem a todas as que como ela combateram na guerra colonial com a arma da generosidade.
Quando um abraço nos unir, ou um beijo fraterno, nada se concluirá, que a vida real é uma interminável sucessão de acontecimentos. Talvez apenas se encerre um longo capítulo das nossas vidas que começou onde a minha ameaçava terminar.
Mas que disse eu? Jamais terei o conforto de agradecer o que recebi. Ao amigo recente, não a gratidão, mas a minha amizade será o permanente reflexo da sua. Àquela mulher que gratidão estaria à altura do seu acto heróico? Só me resta a promessa que tudo farei para que o que me restar da vida que ela salvou esteja à altura da sua corajosa generosidade.
Até a um dia, muito em breve, Piedade!

Manuel Bastos


JC: Afinal, eu previra bem quando, no Post 873, incluí a expressão (será?) ao anunciar a publicação de “ A Enfermeira Que Vinha Do Céu – Conclusão”.
Manuel, realmente não era a conclusão, “apenas” a transição para o nível seguinte. A AMIZADE
.

Um abraço

Post relacionados:

837“ A Enfermeira Que Vinha Do Céu”,
850“ A Enfermeira Que Vinha Do Céu – A Descoberta”,
873 “ A Enfermeira Que Vinha Do Céu - Conclusão”.

VOO 877 FAZ 36 ANOS...E É COMO SE FOSSE HOJE.





António Martins de Matos
Ten. Gen. Pilav. Refº Guiné
Lisboa

Na sequência do Post 876 que regista a passagem de 36 anos sobre a data em que foi abatido o então Ten. Pilav Miguel Pessoa, recebemos este esclarecedor texto do outro Tigre que nessa mesma data estava também em Alerta na Esquadra 121.


Caro amigo

Faz 36 anos ...

ALERTAS

Já por diversas vezes tem vindo à baila a razão pela qual em 25 Março 73 só um dos aviões de alerta foi socorrer o Guileje, o que terá contribuído para uma recuperação lenta do piloto, o meu amigo Miguel Pessoa.
A reunião de Comandos de 15 Maio73 também refere o tema e, na sua douta sapiência, afirma que os aviões têm de voar “no mínimo em parelha”.
E no entanto há um ditado popular que diz “Quem não tem cão ... caça com gato”.

Passo a explicar:
A guerra colonial arrastou-se por 13 anos.
Inexplicavelmente o Estado Maior da Força Aérea em Lisboa nunca produziu uma doutrina de emprego dos meios que pudesse ser usada nas três frentes.
Na ausência desta uniformização cada província limitava-se a adaptar os seus parâmetros de voo em função do saber e da experiência local.
O avião Fiat G-91 possuía quatro “extensões” debaixo das asas, para levar armamento e/ou depósitos de combustível.
Na chamada configuração de alerta, as 2 extensões interiores estavam ocupadas com depósitos de combustível, o que permitia uma autonomia de voo de cerca de hora e meia. As extensões exteriores estavam equipadas com 2 ninhos de foguetes, cada ninho transportava 4 foguetes de 2,75 polegadas.
A somar ao equipamento transportado nas asas, o Fiat G-91 possuía 4 metralhadoras no nariz, cada uma delas municiada com 200 balas de calibre 12,7 mm.
Era esta a configuração normalmente usada nos apoios de fogo.
Já em posts anteriores referi que o armamento que equipava os aviões de alerta era totalmente inadequado, pelas seguintes razões:
- Em relação às metralhadoras e dado que as munições não eram explosivas, bastava o inimigo abrigar-se junto de uma árvore de porte “normal” para ficar a salvo.
- Os foguetes podiam derrubar uma árvore, mas também eles não eram anti-pessoal, pelo que só um impacto directo poderia ter algum sucesso.
Eram estas missões inúteis? Penso que não.
Bastava o ruído da aeronave para se obter um efeito dissuasor no PAIGC e moralizador nas nossas tropas.
O ver surgir o Fiat G-91 fazia com que o pessoal saísse das valas e abrigos e viesse para o centro do quartel, para nos acenarem, esquecidos que ainda há pouco estavam sob fogo inimigo.
À despedida, o “tonneau” executado a baixa altitude sobre o quartel era a cereja no bolo.

Foto de arquivo de Especialistas ba12(Direitos reservados)


Nas configurações usadas em missões pre-planeadas, os depósitos de combustível e foguetes eram retirados, dando origem a duas novas versões, a primeira com 6 bombas de 50 kilos, a segunda com 2 bombas de 200 kilos e 4 de 50 kilos.
A autonomia da aeronave ficava reduzida a 55 minutos.


Foto de arquivo de Especialistas ba12(Direitos reservados)


A partir do verão de 1973 passou a haver uma terceira configuração, 2 bombas de 750 libras, versão que, dado o seu poder destrutivo, só podia ser empregue a mais de 1 quilómetro das nossas forças.
Foi esta a versão mais utilizada quando se tratou de repelir os ataques a Gadamael.
Todos os pilotos de Fiat G-91 tinham consciência das limitações do armamento e, através dos canais competentes já tinham pedido a sua melhoria.
O pedido apresentado na Reunião de Comandos do QGBissau de 15 Maio 73, onde se preconizava a substituição dos Fiat G-91 por aviões Mirage, felizmente que não foi do conhecimento dos pilotos da Esquadra.
No meu entender tal pedido só revelava a falta de sensibilidade de quem geria os destinos da FAP, pois o que os pilotos na altura necessitavam não era a substituição da aeronave, algo que levaria anos a ser efectuada, mas sim a substituição imediata do armamento, foguetes anti-pessoal e 2 canhões 20 mm semelhantes ao usado no Heli-canhão, alterações que poderiam ser concretizadas em curto espaço de tempo.
Tais pedidos devem ter caído em saco roto pois nada foi melhorado. (1)
Com o não melhoramento do armamento e o aumento de actividade do PAIGC houve necessidade de procurar um novo modo de apoiar os quartéis.
A solução encontrada foi a dos dois pilotos de alerta passarem a dispor de quatro aviões preparados para saírem em 10 minutos, dois na versão original, foguetes e depósitos de combustível e dois com bombas.
Desta maneira e em função da ameaça esperada e partindo do pressuposto de que o pedido era claro e preciso, os pilotos escolhiam quais os aviões a voar, com a configuração mais adequada.
Em casos omissos ou pouco claros, um dos pilotos seguia no avião com depósitos de combustível, avaliava a situação e, via rádio, dizia qual o tipo de aeronave que o segundo piloto deveria operar. O segundo avião chegava à área cerca de 10 minutos depois e podia largar de imediato o seu armamento.
Esta “técnica” revelou-se extremamente eficaz contra as equipas que operavam os Strelas.
Não foi isso o que se passou no dia 25 Março 73.
O pedido não era claro, descolou um avião (o “Kurica”), o outro piloto (o “Batata”) aguardou junto das aeronaves.
O piloto contactou o quartel mas não chegou a transmitir para Bissalanca o resultado da sua avaliação, tendo sido abatido.
Face a não obter qualquer feedback o segundo piloto descolou no avião de maior autonomia em direcção ao Guileje.
Na tentativa de encontrar algo (o avião, o paraquedas, o piloto, ...) sobrevoou toda a zona do corredor do Guileje, o Mejo, de Gandembel, à fronteira, sem nada encontrar.
O facto de não ter sentido qualquer reacção hostil vinda da mata, fez-lhe pensar que o Pessoa teria tido uma falha mecânica.
Um segundo voo revelou-se igualmente infrutífero.
O terceiro voo revelou-se mais gratificante quando um dos pilotos (TC Brito) (*) localizou um very-light a sair da mata. (2)
Enquanto ele subiu a fim de referenciar a localização exacta na carta, eu desci e voei em círculos junto do local de onde tinha partido o very light a fim de alertar o Pessoa que tinha sido localizado.
Na manhã seguinte procedeu-se à operação de resgate.
O resto está descrito no post do Kurica da Mata. (**)


Notas do António Matos:

(1) A partir de 1975 a FAP acabou por receber aviões FIAT G-91 R3, equipados com 2 canhões de 30mm, bom jeito teriam feito, mas a guerra já tinha terminado.
(2) Cada piloto tinha um conjunto de very-lights e respectivo equipamento de disparo, semelhante ao da foto.

























Foto:Conjunto de Very-lights semelhantes aos utilizado pelo Miguel Pessoa para localizar a sua posição às NT
Fotos: António Martins de Matos (direitos reservados)

...e é como se fosse hoje.
Um abraço
António Matos

Notas de JC:


(*)
Tenente Coronel Pilav Almeida Brito, faleceu na Guiné no dia 28 de Março de 1973, atingido, em plena missão aérea a bordo de uma aeronave FIAT G-91, por um míssil "Strella". Ver mensagem no nosso Blog “O ÚLTIMO VOO...35 ANOS DEPOIS” de 28 de Março de 2008
(**)
Post 834 “KURICA DA MATA”


JC: António Matos, bem esclarecedor o teu texto dos acontecimentos 36 anos atrás em que estavas de alerta com o Miguel Pessoa. Fica muito clara a razão de estar apenas um piloto no ar naquela missão e as posteriores acções para encontrar o piloto abatido.

Também, lendo com atenção essas razões, me parece um exemplo claro da falta de apoio ou compreensão por parte dos responsáveis em relação aos executantes no terreno, aos problemas por estes sentidos, aos teus argumentos e da, pelo menos aparente, indiferença perante os riscos acrescidos a que os expunham. Como quase sempre, foram estes últimos que se viram obrigados a “inventar” formas de mitigar esses riscos, sempre com a preocupação de manter elevados graus de eficácia afim de não comprometer os resultados. Infelizmente, um tema que continua bem actual.

Uma última nota para algumas das razões que apontas para o efeito dissuasor no IN e por outro lado para o incentivo às NT apenas pela presença das aeronaves, culminando com o tal, sempre espectacular, “tonneau” sobre o quartel, para referir que, para nós que nos lembramos bem da silhueta, do ruído do motor e dessas manobras em voo, basta fechar os olhos por uns momentos e, ao imaginar tudo isso, sermos transportados para a cena e entender perfeitamente os efeitos psicológicos produzidos.

A Linha da Frente agradece o teu contributo e aguardamos para te “receber” em mais uma missão.

Até breve e Saudações Especiais

Post relacionados:
742 “A FAP Também Merece Ser Lembrada”; 770 “A História do Strella na Guiné”; 834 “Kurica da Mata”; 876 “Bom dia Miguel, Venho Comungar Este Dia Contigo!”.

quarta-feira, 25 de março de 2009

VOO 876 BOM DIA MIGUEL,VENHO COMUNGAR ESTE DIA CONTIGO!



Victor Barata
"Comandante" do Blog

Esp.Melec/Inst./Av.
Vouzela



Um aniversário triste para recordar…feliz para comemorar!

Companheiro, hoje é o dia 25 de Março de 2009!
Um dia que, já algumas vezes aqui o referi, não gostar de recordar.
Um dia que seria para mim igual aos outros, não fosse o retroceder no tempo 36 anos.
Um dia 25 de Março de 1973!
Pois é, Companheiros, nesta data pelo cair da tarde, em pleno voo do Arquipélago de Bijagós, mais propriamente da Ilha de Bubaque para Bissau, vivendo a alegria de um dia “sem guerra”, sou atingido por um “míssil” que me entra pelos ouvidos dentro, disparado pelo controlador aéreo da torre da Base Aérea nº12,em Bissalanca.
“O Ten.Pilav. Pessoa foi atingido e perdemos o seu contacto”. (obviamente que não foram estas as palavras emitidas, por uma questão de segurança, mas o significado é o mesmo).
Senti o desaparecimento deste mundo, de um jovem piloto empurrado para uma guerra sem saber do seu significado, de um filho que iria deixar como sua recordação à família o luto, de um companheiro verdadeiramente exemplar em todas as suas atitudes, independentemente de serem subordinados ou superiores, enfim, o luto na família FAP era generalizado.
A noite vivida na base, foi terrível, estou convencido de que se o inimigo nos atacasse, éramos apanhados à mão.
Mas ao romper do dia 26,Deus disse ao controlador aéreo que o Miguel só tinha feito uma “asneirita”, ou seja, tinha ido dormir fora, mas não conseguiu arranjar a companhia desejada de uma bajuda(1) ,pelo contrário, quem lhe apareceu foi o Alf.Comº.Marcelino da Mata(2)!
Bom…bastante renitente em falar com este oficial, pois não era por ele que esperava, sempre aceitou a “boleia”para sair daquele local impróprio para homens como ele.
Mas até aqui o Miguel granjeou a sorte, pois caiu-lhe nos braços para o transportar para junto daqueles que ansiosamente aguardavam a sua chegada à base, a Menina EnfªPara Giselda Antunes que viria a ser, e é, a sua Dignª.MULHER!
Acabou o filme, Miguel!
Já sabes porquê?!...
Pois Companheiros, é isso mesmo, é com grande emoção que recordo o dia de hoje em que é assinalado o 36º ano em que, pela primeira vez na história da Força Aérea Portuguesa um piloto foi atingido por um míssil Strela, Ten.Pilav.Miguel Pessoa.
Gostava de estar junto a ti para compartilhar-mos uma taça de champanhe da “tal”garrafa que não abriste naquele dia.
Um abraço do teu sempre amigo
Victor Barata

Notas da responsabilidade do Editor:
(1) Mulher nova guineense
(2)Hoje Ten. Cor. Comº Refº. Militar mais condecorado da história das Forças Armadas Portuguesas


Miguel não foi em vão que deixei para hoje a publicação desta mensagem que me enviaste há alguns dias:




QUATRO MESES DE... NADA


Miguel Pessoa
Cor.Pilav. Refº. Guiné
Lisboa

Pensei seriamente em não escrever sobre este assunto. Não parece ser "politicamente correcto" e pode merecer da parte de alguns uma certa incompreensão; mas a verdade é que, embora nunca tendo gostado de dar nas vistas, nunca me eximi a mostrar as diferenças na minha maneira de ser relativamente ao que é considerado o comportamento padrão, dito "normal".
Considero-me um narrador razoável quando se trata de descrever factos palpáveis; mas é para mim uma experiência nova quando toca a descrever sentimentos, afectos e outros quejandos. Para isso existem nesta panóplia de "escrevinhadores" exímios narradores do que nos vai na alma. Na vida militar estamos habituados a relatar factos ocorridos, enumerar as razões por que eles aconteceram, propor medidas com base em racionais que justifiquem a tomada de decisão; no que se refere aos sentimentos que sentimos em relação a um determinado problema, esses não são por norma apresentados. Por isso o meu desconforto ao abordar este tema.
Tem isto a ver com a troca de correspondência que tenho tido com o editor e co-editores do blog e que, na prática, tem resultado na apresentação a todos os seus leitores do meu ponto de vista sobre este e aquele assunto, relatando factos e tentando esclarecer (de acordo com o meu ponto de vista) o porquê da posição que em cada caso acabou por ser tomada pela Força Aérea.
Analisando detalhadamente o que se tem passado nestes últimos meses, vejo que os resultados desta exposição perante tantos interlocutores (sim, que todos podem comentar o que cada um diz - a comunicação é bidireccional) terão produzido em mim resultados mais significativos que umas tantas sessões de terapia com um psicólogo ou um psiquiatra (que, verdade seja, nunca utilizei, por não achar necessário - Seria?).
Vejo hoje que, expurgados alguns fantasmas que me habitavam, subsistiam alguns traumas que eu nem sabia estarem presentes no meu subconsciente. E um deles prende-se com quatro meses da minha vida que, sendo dos mais pacíficos, relaxantes e descontraídos que vivi, deixaram em mim uma sensação de vazio que tenho ainda hoje dificuldade em preencher.
Já tive a oportunidade de referir neste blog os factos que levaram a um interregno na minha comissão na Guiné por um período de quatro meses, o tempo que passei em Lisboa a recuperar das mazelas sofridas no decorrer de uma missão naquele Teatro de Operações.
Lembro-me que, no dia em que embarquei em Bissau com destino a Lisboa, para iniciar a minha recuperação, ainda na ressaca dos acontecimentos da véspera, em que a Força Aérea tinha perdido três pilotos e três aviões(*), tive um desabafo sincero mas que os meus camaradas não mereceriam: "Desculpem lá mas, de certo modo, neste momento sinto-me satisfeito por não estar em condições de voar". Tive oportunidade de me arrepender várias vezes destas palavras, pois nem eles as mereciam, pela solidariedade que lhes devia, nem as merecia eu, que sempre assumi as minhas responsabilidades e não tenho por hábito virar a cara a nenhum desafio, por mais que isso me custe... E tive também a oportunidade para tentar redimir-me desse momento ao longo do ano que ainda passei na Guiné, depois de recuperado fisicamente. Mas nunca consegui recuperar os quatro meses que estive afastado do Teatro de Operações.
Não podemos prever o futuro, por isso não sei o que me poderia ter sucedido naquele período, se lá tivesse estado (como diria o outro, prognósticos, só no fim do jogo...). O que sei é que foi uma "traição" que o PAIGC me fez ao limpar-me estes quatro meses de Guiné - e ao mesmo tempo, uma involuntária "traição" minha por não ter podido apoiar os meus camaradas de luta, num momento tão difícil para todos nós, que levou inclusive a alterações significativas da Força Aérea no modo de fazer a guerra.
É que é nos momentos difíceis que pomos à prova as nossas maiores qualidades e que sobressaem os nossos maiores defeitos ou limitações. Embora tenha tido oportunidade de testar posteriormente as minhas capacidades e de sair de lá com a minha dignidade intacta, não pude partilhar, no verão quente de 1973, todas as agruras, apreensões e dificuldades sofridas pelo pessoal da FA naquele período difícil, bem como a satisfação do dever cumprido que todos terão sentido no dia-a-dia e a solidariedade e camaradagem que tiveram oportunidade de partilhar, que lhes permitiu afinal ultrapassar essas dificuldades e atingir os objectivos propostos.
Por isso, lamentando não ter podido estar presente, daqui lhes tiro o meu chapéu, por terem conseguido, pese embora todos os constrangimentos, cumprir a sua missão nesse verão quente de 1973.

Miguel Pessoa

(*) - Eu embarquei para Lisboa em 7 de Abril de 1973, os acontecimentos a que me refiro ocorreram em 6 de Abril. (3)


Nota da responsabilidade do Editor:


(3) No dia 6 de Abril registou-se a perda de 1 avião DO-27 e a morte do piloto Furriel Baltazar da Silva, a perda de 1 avião T-6 e a morte do piloto Major Mantovani e 1 avião DO-27 e o piloto Furriel António Carvalho Ferreira nunca mais foram vistos após descolar de Guidaje.
Fonte: Post 770 “A História do Strella na Guiné”, ponto 5.

Post relacionados: 834, 812, 770, 753.
JC:Bonito texto, intimista, sentido, para lá dos factos, a consequência dos mesmos e o impacto no ser humano ao nível emocional..Como uma frase ou um pequeno lapso de tempo podem marcar e assim perdurar ao fim de 36 anos.A "traição" que o PAIGC te fez e a que sentes teres involuntariamente feito aos teus camaradas, como referes no teu texto, seguramente Miguel Pessoa que lhes pagaste com juros ao teres regressado depois de ferido em combate e continuado as tuas missões nos céus da Guiné."

terça-feira, 24 de março de 2009

VOO 875 Ò MARCELINO,NÃO ERA BEM ASSIM...

VB: A propósito de um texto enviado pelo nosso companheiro Fabricio Marcelino,publicado no dia 15.02.09 através do Post 792 Actuação da Força Aérea na Guiné, recebemos o seguinte mail:


Luís Nabais
Ten.Mil.Exercº. (DFA) (1)
Lisboa


Meu caro Victor:
Não era esse o nosso sentir! O Marcelino, na sua avaliação não está a ser justo!Pelo contrário, porque o barulho dos roncadores, era para nós um descanso/ajuda a caminho.
Não vamos ser tão radicais, embora eu entenda…mas na altura, era difícil julgar!
E agora, muuuuuuuitos anos depois, tambem, e ficaram as mágoas dos amigos perdidos,Mas que nada têm a ver com quem sempre nos ajudou quando pedido, e mais, POSSÍVEL, Porque, sabe-lo bem, nem sempre podiam voar com o raio do tempo daquelas terras.
Meus amigos, pensem em aparecer.
As enf. Paras também irão (pelo menos pensamos que sim).
Abraço
Luís Nabais

(1) Dificiente das Forças Armadas

VB Pois bem Luís,compreendo perfeitamente o teu sentido de apaziguamento em relação a esta insatisfação do Marcelino ,no entanto não quero deixar de realçar que ele foi "abrir" a guerra na Guiné em 1961,período que foi,segundo as suas crónicas sobre a Guiné,muito duro para nós FAP.
É óbvio que nunca se agrada a todos,mas o ditado é velho "Quem não se sente não é filho de boa gente"

segunda-feira, 23 de março de 2009

VOO 874 OS TOMATES DO CAPELÃO ...E OUTRAS FRUTAS.





Miguel Pessoa
Cor. Pilav. Refº. Guiné
Lisboa

Caro Victor
Como sabes, foi a nossa capacidade de manter o sentido de humor em situações adversas que muitas vezes nos permitiu ultrapassar os obstáculos e sobreviver sãos de espírito. Por isso aqui vai uma historiazinha simples, para amenizar o peso do "esforço de guerra".
Um abraço. Miguel Pessoa

OS TOMATES DO CAPELÃO... E OUTRAS FRUTAS

No meu tempo na Guiné, os tomates do capelão da BA12 eram muito cobiçados, muito por culpa das nossas enfermeiras paraquedistas que, sempre que podiam, faziam uma colheita na horta que o padre A... mantinha junto à igreja da Base.
Era generalizada a opinião, entre quem deles se servia, de que os tomates do nosso capelão, embora pequenos, eram sumarentos e saborosos e enriqueciam qualquer salada. E sabe-se o gosto que o pessoal tinha por tudo o que lhe lembrasse a metrópole. E era vê-los a "deitar abaixo" uma saladinha feita com tomates fresquinhos, acabadinhos de apanhar...
É claro que o padre A... calculava perfeitamente quem eram os malandros (neste caso as malandras...) que lhe andavam a "derreter" a fruta, mas pactuava simpaticamente com a situação, dado ser por uma boa causa.
Mas não se ficava pelos tomates a razia que as enfermeiras paraquedistas faziam na fruta da base.



Na foto a Giselda,fazendo a "poda"ao limoeiro do Capelão na Base Aérea 12,Bissalanca.
Foto do Miguel Pessoa(Direitos Reservados)

Para além da fruta que iam comprando ao responsável pela horta da Base, lá iam marchando de vez em quando uns limões, uma papaia, que o pessoal a alimentar era muito e de bom apetite.
Nem o cajueiro do Comandante escapava (do Comandante é um modo de dizer, que estava junto ao comando da Base), sendo que, um dia, havendo uma escada à mão, duas enfermeiras (de que não vou referir os nomes...) resolveram atacar o dito cujo. Estavam elas neste preparo, penduradas nos ramos altos, quando passa o Comandante da Base, com o seu séquito. O facto é que o Comandante não reconheceu "as intrusas", pois se viam apenas as calças do camuflado, pelo que invectivou energicamente as duas "delinquentes", julgando que eram soldados da Polícia Aérea; e as duas no topo da árvore também não reconheceram a voz do Comandante, pelo que reagiram verbalmente em termos que não vou reproduzir aqui...
Tendo as partes procedido à identificação mútua, o incidente acabou por ficar sanado, pese embora o Comandante tenha prosseguido a sua viagem resmungado contra a lata daquele pessoal, sublinhado por um sorriso complacente dos militares que o acompanhavam.

Miguel Pessoa



JC: Miguel Pessoa, amenizar é preciso, é fundamental, e o humor no tempo e com a medida certos é indispensável na nossa vida. Obrigado pelo excelente texto de fino humor e de tranquilizante leitura.

Por falar em tomates, havia aquele que durante a corrida de cavalos, contrariamente a todos os restantes espectadores, se mantinha impávido e sereno, o que naturalmente causava grande espanto e não menos admiração. O problema era no final, quando, mantendo a sua desconcertante tranquilidade, tirava as mãos dos bolsos…”fresquinhos, acabadinhos de apanhar…”.

Desculpa o abuso.
Um abraço

VOO 873 A ENFERMEIRA QUE VINHA DO CÉU-CONCLUSÃO.





João Carlos Silva
Co-Piloto do Blog
Esp.MMA BA6
Sobreda da Caparica
Na sequência do belo texto do Manuel Bastos, “A Enfermeira Que Vinha Do Céu”, publicado no post 837, continuamos a publicação dos eventos que este suscitou.
Como se recordarão, após esse belo texto inicial do Manuel Bastos homenageando as Ilustres Enfermeiras Pára-quedistas, publicámos no Post 850 “A Enfermeira Que Vinha Do Céu - A Descoberta”, desta forma:
Em face de uma passagem sofrida da vida do Manuel Bastos (1) , por terras longínquas de Moçambique, conjugada com a Nobre missão das “nossas” Ilustres Enfermeiras Pára-quedistas (2), o “comandante” Víctor Barata, como é seu timbre, dá o exemplo de dedicação a esta causa, ao procurar incansavelmente a identificação da Enfermeira (3) que socorreu o Manuel Bastos, conseguindo os seus intentos e comunicando a mesma ao Manuel.
Enviou-lhe o seguinte e-mail:

Olá Manuel.
Como já deves ter reparado, cativo uma grande amizade por ti.
Certamente que te interrogas com o velho "porquê" se nos conhecemos há tão pouco e tempo e apenas através da escrita!?...
A sensibilidade e intelectualidade com que rediges os teus escritos, foram os principais causadores de tal virtude.
No último texto que me enviaste, a meu pedido, sobre as nossas enfermeiras paraquedistas, mais uma vez pões em prática essas tuas particularidades.
Em determinada altura dizes assim;

" resta-me o conforto de ter conhecido no momento mais dramático da guerra o sorriso redentor desta enfermeira pára-quedista "

Pois bem, companheiro, desde logo prometi a mim próprio "recompensar-te" pelo referido texto. Mas como?! Quem sou eu para poder fazê-lo não sendo com a amizade que lhe manifesto!?...
Também tenho virtudes e grande sensibilidade humana, como tal, andei dia e noite até conseguir o meu objectivo, consegui!
Manuel, localizei essa mulher do tal sorriso redentor que te socorreu aquando da tua evacuação, Fur. Enfª. Paraquedista Piedade Gouveia!

Chegada do Helicoptero com o ferido,evacuado, Manuel Bastos ao Hospital de Mueda
Foto do Manuel Bastos(Direitos Reservados)

Que me dizes?
Um abraço para ti AMIGO.
Victor Barata

JC: De seguida, o Manuel Bastos respondeu ao Víctor com o seguinte e-mail:

Amigo Barata
Na verdade não sei o nome da enfermeira que me socorreu, mas acredito nas tuas pesquisas.
Então se a conheces apresenta-lhe as minhas homenagens e que receba esse texto como uma expressão sincera de gratidão e não como um exercício fútil de prosa.

Obrigado pelas tuas palavras e um grande abraço

Manuel

Na altura, o meu comentário foi o seguinte:

Companheiros da Linha da Frente, a missão do “nosso” Blog sendo cumprida.
Sem dúvida, este é um dos grandes objectivos com que o “Especialistas da BA12” foi criado, para recordar as memórias da Guerra Colonial e congregar todos os que defenderam esta causa e lutaram pelos mesmos ideais. Sim, porque esses factos devem ser contados na primeira pessoa, sim porque melhor do que ninguém os directamente envolvidos podem expressar esses factos, entender os restantes camaradas e reconhecer a importância das acções por eles desenvolvidas.
É muito bom quando conseguimos relatar esses acontecimentos (os bons e os maus) e ainda por cima ter a humildade de reconhecer o valor, e a gratidão, da acção de outros camaradas e de continuar a lutar por esta causa, divulgando, facilitando o contacto e a possibilidade de expressão, desta geração de antigos combatentes. Está nas nossas mãos garantir que a história vai sendo conhecida para os mais novos, mas também que os nossos camaradas saibam que, num determinado dia, a sua acção, por muito trivial que lhe possa parecer, foi importante e marcou alguém para a vida.

Nota: Por esta causa, quero dizer tão só (e não é pouco) por quem serviu e sofreu na Guerra Colonial, independentemente da condição social, posto ou motivação.

(1) O Manuel Bastos é DFA e foi Fur Mil do Exército em Moçambique, tendo sido vítima de uma mina. É autor do livro “Cacimbados – a vida por um fio”. Consultar os posts 92, 99, 113, 209, 471, 480, 487, 488, 538, 557, 565, 581, 837.
(2) Ver os posts Víctor Barata em 16 de Julho de 2007, 87, 501, 791, 793, 794, 797, 798, 803, 804, 806, 810, 833, 837.
(3) Enfermeira Fur Piedade Gouveia, ver fotografia também no post 782.

Hoje, com enorme alegria, vimos dar sequência a este notável percurso, publicando “A Enfermeira Que Vinha Do Céu - Conclusão” (será?):

Recebi do companheiro Víctor Barata mensagem plena de entusiasmo e de emoção, referindo que era um dia “muito especial na vida do “nosso” blog e na… dele”, pois o resultado da sua investigação tinha dado frutos. Apesar das previsíveis dificuldades para identificar a enfermeira que prestou assistência na evacuação do Manuel Bastos, 35 anos depois, ainda por cima considerando que o Víctor esteve na Guiné enquanto o trágico episódio do Manuel se desenrolou em Moçambique, a palavra desistir, como é timbre dos “aviadores”, não foi considerada e” através de outro elemento componente desse restrito grupo de verdadeiras “MULHERES DE GUERRA”, a Giselda Pessoa,” foi possível identificar a Piedade Gouveia.

Estabelecendo os contactos (e não foi OPC), o Víctor Barata recebeu a seguinte resposta:

Agradecimentos.
Victor daqui é Piedade Gouveia. Quero desde já agradecer-lhe imenso a trabalheira que teve para arranjar o número do Manuel Bastos, que, julgo eu, ter sido evacuado por mim em Mueda-Moçambique.

E a cópia da mensagem da Piedade Gouveia para o Manuel Bastos:

Olá Manuel.

O sorriso redentor (4) de que tu falas era apenas ansiedade de chegar o mais depressa possível ao pé do ferido (acho que naqueles momentos o helicóptero voava bastante devagar). Portanto essa ansiedade desvanecia-se ao ver o ferido e eis porque eu sorria, porque assim podia socorrê-lo imediatamente.
Quanto à nossa passagem por outro aquartelamento, não me lembro porque o meu pensar estava somente com o ferido que transportava que neste caso eras tu.

A caminho do Hospital de Mueda vendo-se a EnfªPiedade segurando o frasco do soro.
Foto de Manuel Bastos(Direitos Reservados)

Chegados a Mueda eis aquela fotografia (no blog) que se vê a enfermeira a segurar o balão de soro do ferido. Seguiu-se para o "bloco operatório" em que os médicos já estavam preparados para fazer a cirurgia. Lembro-me de te ter dito que tudo ia correr bem pois uma amputação é fácil de realizar, para os médicos, claro!
Apresento-lhe a "simpática" equipa que o operou (na foto "Equipa de cirurgia do exército"):


Foto de Piedade Gouveia(Direitos Resrvados)


1. Médico instrumentista.
2. Enf. Paraq. Piedade Gouveia.
3. Médico anestesista de nome Jesus Cristo.
4. Médico endocronologista.
5. Enf. Paraq. Ana Ramalho.
6. Operador Rádio-telegrafista.
7. Médico cirurgião de nome Dr. Garrido.

Alguns na fotografia não me lembro o nome e alguns não aparecem na foto (pelo menos três).

Foto de Piedade Gouveia(Direitos Reservados)

Na última fotografia estamos a assistir à cirurgia no "bloco operatório" e a torcer para que tudo corra bem, e claro como era de esperar correu tudo bem!!!...
Foste evacuado para Nampula e depois para Lourenço Marques para ires de seguida para Lisboa, assim que estivesses estabilizado (eu sei que ainda hoje sentes e pensas que tens o membro inferior esquerdo mas tudo não passa de um reflexo, mas lamento muito ter-te acontecido este acidente trágico, e com a ajuda dos que nos rodeiam temos de aprender a viver com as nossas limitações!).
Gostaria que mostrasses este e-mail à tua esposa e filhas, certamente ficarão muito contentes.
Despeço-me com um abraço amigo e sentido.

Piedade Gouveia.

Na sequência destas sinceras mensagens, o Manuel sensibilizado pelo acto do Víctor e pela resposta da Piedade, propõe um jantar em conjunto (Piedade, Manuel, Giselda e Víctor) com as respectivas famílias em local a designar.


JC: Bom, difícil controlar as emoções, mas, como co-piloto do Blog reforço a mensagem do Víctor Barata de que este é um dia muito importante da vida do “nosso” Blog. Em linguagem da “nossa” FAP, o perfeito “Looping”, o círculo perfeito, as diferentes razões, as diferentes motivações, as diferentes sensibilidades em perfeita sintonia para o mesmo objectivo, a cooperação, a camaradagem, a entrega ao próximo e, finalmente, após toda essa adrenalina, o reconhecimento, o agradecimento, a paz (?).
Os Destinos de cada ser humano, neste caso como no nosso Fado (5) , do Menor melancólico e triste ao Corrido alegre e solto, livre.
Além disto, quero referir a imensa satisfação de puder ajudar a divulgar estes momentos e estas emoções e deixar o desafio a todos os companheiros da Linha da Frente e aos leitores deste Blog que desfrutem da leitura destes testemunhos de vida na Guerra, com o tempo que os mesmos merecem e que façam a sua própria reflexão.
Finalmente, não posso deixar de enviar o meu sentido Abraço ao Manuel Bastos, à Piedade Gouveia e ao Víctor Barata.
No entanto, como membro da Linha da Fente e como leitor destes acontecimentos, aproveito esta privilegiada oportunidade para dizer que são exemplos de vida destes que me sensibilizam, que me motivam para fazer melhor. Se cada um de nós contribuir com a sua pequena parte no espaço em que se movimenta, seja pelo exemplo no ultrapassar das dificuldades, seja pela dedicação e entrega, seguramente o dia a dia, as perspectivas, o futuro será melhor para nós, para os nossos filhos, para os nossos netos.
Temos direito ao nosso Fado Corrido, para isso temos que continuar a lutar e a contribuir, não queremos de certeza ficar apenas pelo Menor e pelo Mouraria queremos tudo a que temos direito.

(4) Consultar o Post 837 com o texto do Manuel Bastos dedicado às Ilustres Enfermeiras Pára-quedistas.
(5) Influenciado por uma bonita noite de fados a que assisti este fim-de-semana, utilizo esta parábola com o Fado (Destino).

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