terça-feira, 29 de junho de 2010

VOO 1805 A PISTA DA ÉPOCA (COMO A FRUTA).




Miguel Pessoa
Cor.Pilav.(Refº)
Lisboa



PISTA DA ÉPOCA (COMO A FRUTA)



Lembro-me que nas Operações do Grupo Operacional 1201, na BA12, havia um arquivador muito prático onde estavam registados dados de todas as pistas existentes no território e que, para além das características específicas de cada uma (comprimento, largura, orientação, condições de utilização, limitações, etc.), incluía fotografias de cada pista, incluindo algumas tiradas à vertical das mesmas.

Estes dados eram de grande importância para o aviador, principalmente no início da comissão, quando ainda não tinha grande conhecimento do terreno. O número elevado de pistas existentes (cerca de sessenta), a falta de visibilidade horizontal durante uma época do ano e o facto de as pistas por vezes se sucederem num espaço de terreno relativamente curto podiam induzir em erro os menos experientes. Ninguém gosta de aterrar num determinado sítio e descobrir que o que queria é mais ao lado, principalmente quando a pista está afastada do aquartelamento e afinal não há qualquer segurança montada no local...

Por isso era habitual passarmos pelas Operações para visualizar os sítios onde íamos pela primeira vez. Daí ser natural já termos por vezes um conhecimento virtual de determinada pista mesmo antes de lá ter ido - uma espécie de Flight Simulator da época...

Uma vez recebi uma incumbência curiosa; tratava-se de ir abrir ao tráfego aéreo uma pista (Dulombi, se não me falha a memória), isto é, comprovar que aquela pista estava em condições de poder ser utilizada pelos nossos DO-27. Fiquei curioso com esta missão, mas uma visualização das fotos da pista rapidamente me elucidou. Na tal fotografia feita à vertical da pista pude verificar que, ao contrário do que sucedia nos outros aeródromos, em que a placa de helicópteros surgia normalmente ao lado da pista, a uma distância de segurança(1) aqui essa placa surgia cravada no meio da pista, dividindo-a em duas partes mais ou menos iguais, uma para cada lado.

É natural que, tratando-se de duas construções de diferente tipo, uma em cimento e a outra em terra batida, a sua utilização intensa (que não seria no entanto o caso) e principalmente os efeitos da natureza podiam levar à degradação das duas junções e criar um degrau fatal para qualquer avião que ali tentasse aterrar. Assim, durante a época das chuvas, as águas que corriam ao lado da placa de helicópteros arrastavam as terras adjacentes deixando a placa saliente e impedindo a utilização da pista, dado que qualquer das tiras remanescentes (uma para cada lado, recorda-se) eram insuficientes para o DO operar.

Portanto, todos os anos, depois de as chuvas terminarem, havia que proceder à recuperação da pista nas zonas adjacentes à placa, de modo a permitir a passagem dos aviões por cima desta sem sobressaltos.

A minha missão não teve problemas de maior, dado que as terras tinham sido repostas e a pista podia ser utilizada em segurança. Mas sempre me interrogava sobre o motivo por que tinha sido tomada esta opção (falta de espaço para a placa noutro local?) que tornava sazonal o uso daquela pista. É que, sabendo-se das dificuldades sentidas pelos nossos militares nas zonas mais isoladas, a pista de aterragem era sempre uma mais-valia que podia reduzir um pouco esse isolamento e limitar as carências daí resultantes.

Miguel Pessoa


(1)Tratando-se de uma construção em cimento, muitas vezes saliente do chão cerca de um palmo, podia ser um obstáculo intransponível se se perdesse o controlo do avião e ele embicasse na direcção da placa (normalmente por causa dos ventos, pontualmente também me chegaram a aparecer à frente vacas e cães, durante a aterragem...). Pelo menos lembro-me de um DO-27 imobilizado sobre os dois cotos que tinham sido o trem de aterragem, no meio de uma placa de helicópteros, devido à perda de controlo do avião durante a descolagem. Já não cheguei a ver lá o avião, mas as marcas deixadas pelos cotos no cimento ainda eram bem visíveis...


VB: Carissimos Companheiros,este "voo"do Miguel,remota ao dia 18 de Junho que por lapso nosso não o publicamos.
O mesmo aconteceu com outro "efectuado" no dia 13 de Maio(!!!). Estamos aguardar umas fotos que o Miguel nos irá fazer o favor de voltar a enviar para então publicarmos.
Queremos apresentar as nossas desculpas ao Miguel e solicitar a todos os nossos Tertúlianos que sempre que nos remeterem um "voo" e nós não o "autorizarmos",o favor de nos alertarem para o facto.

VOO 1804 O VINHO DE ANANASES...QUERIAS?




Victor Sotero

Sargº.Môr EABT

Damaia


Saúdo o "Comando", a "Linha da Frente" e todos os "Zés" que nos visitam.
Decorriam placidamente os dias no A.B.3.
Após a sessão da tarde, que fazer?
Ou se ficava pelo Clube de Especialistas, se davam aulas ou se ia para os alojamentos e duma maneira geral se punha a escrita em dia.
Por mim, tinha sempre parte do tempo ocupado.
De vez em quando, "visitava" a pecuária da Unidade.
Um dia, "arregalaram-se-me" os olhos ao olhar para alguns ananases maduros!
Claro que para o meu armário foram alguns. Aliás, nunca me faltou fruta no meu "frigorifico".
As "visitas" à pecuária de um modo geral, eram feitas nos fins de tarde ou aos fins de semana, altura em que não se encontravam os trabalhadores por aqueles lados.E se eu fizesse "VINHO DE ANANÁZ?
Como o fazer? Por lá, não havia "tinas", "dornas", "barris" ou quaisquer outros meios que me pudessem ajudar.
Os "barris" eram cortados ao meio para fazer floreiras, tinas para lavagem de roupa e naquele momento não havia nenhum disponível.A ânsia, era grande!
Pensei na Secção de Armamento.
Não me lembro do nome do "Zé" que até estava alojado na minha camarata, que me "surripiasse" três containers que serviam de alojamento aos ROQUETES e que se encontrassem vazios.
Na Secção de subsistências, arranjaram-me dois garrafões de vinte litros que serviam ao transporte de vinho que ia do Continente.
No Abastecimento arranjei uma tábua em madeira de "macacaúba" muito bem aparelhada.
Esta tábua, dava para tapar a boca dos três contentores que ficaram encostados entre a parede da camarata e a minha cama. Servia, pensava eu, também, como mesinha de cabeceira.Instalada a minha "adega" (creio que o Olvidio de Sá se lembra), começo a trazer ananases da pecuária com a ajuda de alguns "Zés" e vai de descascar os ananases, cortá-los aos bocados e amassá-los com um pilão.Ficou uma espécie de "massa" que rapidamente começou a "ferver" e a escorrer para fora dos contentores transmitindo um cheiro muito característico de "azedo".
O plantão da camarata não gostou muito deste meu "invento" e tive que passar para o lado da casa de banho, a minha "adega".Regularmente, as revistas pelo aquartelamento, eram feitas pela Formação.
Eu, fui "agarrado"! O cheiro a "azedo" era muito desagradável e intenso. O plantão teve que dizer que a "adega" era minha.
Não me lembro se foi de manhã ou de tarde!
Sei que me encontrava no meu local de trabalho quando o ordenança da Secção de Pessoal me chama para ir com urgência à Formação.
Mais uma "piçada"!...
Tinha que limpar toda a área onde se encontrava a "adega". Tinha uma hora para o fazer!... Depois, informar a Formação de que tudo tinha sido lavado.Assim fiz e com grande pena minha, nunca provei o "VINHO DE ANANÁS".
Devolvi os garrafões mas pela camarata sempre ficaram os contentores que serviram de caixotes do lixo.
Meu Comandante:
As minhas saudações Aeronáuticas.Saudações também para a "Linha da Frente" e a todos os "ZÉS" que por aqui também se vão "regalando" nas suas visitas à unidade.
Despeço-me com um até breve.
Sotero
Nota.:-O João também ajudou no transporte de ananases

segunda-feira, 28 de junho de 2010

VOO 1803 O V ENCONTRO DA TABANCA GRANDE.


V ENCONTRO DA TABANCA GRANDE.



Companheiros
Realizou-se no passado sábado,dia 26, em Monte Real,o "V Encontro da Tabanca Grande".
Sobre a batuta do "Maestro" Mexia Alves,com o Carlos Vinhal e Miguel Pessoa nas teclas,foi um dia de grande convívio e sã camaradagem.Embora a "Tabanca Grande"esteja em
maioritariamente representada pelo pessoal do Exército,também integra alguns elementos da "nossa"FAP.Estes encontros trazem sempre a emoção em primeiro lugar,é o reencontro daqueles que se já não viam à muito tempo,é o recordar episódios passados na vida militar,especialmente na Guiné,e o lembrar aqueles que partiram.Não posso nem quero,deixar de me referir à elegância e simpatia com que estes companheiros fazem questão de nos receber nestes encontros.
Algumas fotos do evento que o Miguel Pessoa nos fez chegar:

Duas das nossas "Gloriosas Enfªs.Paraqªs.",a Giselda e a Rosa Serra.

O Victor Barata ex-mecânico da FAP (melec/inst./av,) conversando com Manuel Rebocho Sargº.Môr Paraqª.

Dispensam apresentações,os nossos querido companheiros Miguel ex-piloto FAP e GiseldaEnfª Paraqª.Repare-se no rádio que está em cima da mesa que é uma recordação da Guiné quando a Giselda fez a comissão de serviço.

Aqui o Jaime Brandão,ex-piloto da FAP e actual Comandante da SATA e o Jorge Narciso exemplar mecânico (MMA) da Esq.dos Canibais.

Mais dois gloriosos Pilotos da Fap,o Gil Moutinho e o António Matos.

domingo, 27 de junho de 2010

VOO 1802 AINDA A HOMENAGEM DA ADFA À FAP.





Victor Barata
Esp.Melec./Inst./Av.
Vouzela




Conforme já aqui foi noticiado pelo Nuno Almeida e Manuel Lanceiro,foi no dia 19 deste mês que a ADFA-Associação de Deficientes das Forças Armadas,concretizou a sua intenção,à muito anunciada,de homenagear o pessoal da Força Aérea Portuguesa pela sua colaboração no teatro operacional durante o período da Guerra Colonial,onde restituíram a vida diversos camaradas.



É um acto de bastante sensibilidade e grande emoção este que esta Associação nos prestou que não mais iremos esquecer.
No entanto não poderei também deixar de dizer que muitos,mesmo muitos, desses camaradas que vos prestaram o devido auxilio no momento próprio,gostariam de ter o seu lugar próprio na referida cerimónia,mas...
Não poderemos deixar de manifestar algum desagrado na maneira como foi conduzido todo o processo para que fosse possível a presença daqueles que gostavam,e porque não dizê-lo,se sentiam no direito de assistir a tão sensível cerimónia.Tentamos,por diversas vezes através de telefonemas,quer para ADFA ou FAP,encontrar uma solução para poder informar os camaradas que nos procuravam no sentido de serem esclarecidos para a sua inscrição,pois se estamos todos recordados foi neste nosso espaço que tal homenagem foi anunciada pela ADFA à já muito tempo,mas a resposta que sempre obtivemoquer da ADFA da FAP, foi que ou era da responsabilidade da FAP ou esta informava o inverso,era responsabilidade da ADFA.
De uma coisa estamos conscientes,apesar de ficar a mágoa de não estarmos presentes pelos motivos apresentados,fomos dignamente representados pelas (talvez?)duas dúzias de companheiros,Pilotos,Especialistas e Enfermeiras Páras que nos dignamente nos representaram.
Obrigado ADFA.

sábado, 26 de junho de 2010

VOO1801 MAIS NOTÍCIAS DO ANÍBAL.





Aníbal dos Santos Martins
Fur.Mil.Paraqª (falecido em combate na Guiné)
Sabugal

(Texto enviado por sua irmã Maria do Carmo)

Amigo Victor
Finalmente, depois de algumas tentativas sem êxito, consegui encontrar um ex-combatente empenhado em me ajudar. Estou-lhe eternamente grata.
Grata igualmente ao Sargento-Mor Paraquedista António Dâmaso, que tão amávelmente me descreveu o que realmente deve ter acontecido naquele mês de Dezembro. É muito importante para mim possuir este conhecimento dos factos. No entanto queria só acrescentar um dado que pode ser relevante. O último aerograma que o meu irmão enviou à minha mãe trazia a data de 13 de Dezembro.
O meu irmão foi sepultado no dia 23 de Março de 1973 na Terra onde nascemos no Concelho do Sabugal, no entanto até hoje não tenho conhecimento que tenha havido por parte dos autarcas qualquer homenagem.
Como estou a viver, com o meu marido e a minha filha, um pouco longe e me é muito penoso falar com essas pessoas directamente sobre o assunto, tenho deixado isto ao critério de cada um.
Já agora, descobri num destes blogues, um paraquedista que esteve na Guiné, da CCP122 , exactamente do 4º pelotão e até do mesmo curso nº 65 em Tancos, só que não consegui o seu contacto. Chama-se Manuel do Nascimento Peredo e está na Diáspora ( Emigrante em França ).
Mais uma vez obrigada por me ajudar
Maria do Carmo Loureiro

Voos de Ligação:
Voo 1793 Quem pode ajudar a Maria do Carmo
Voo 1799 Mais uma aterragem - Manuel Dâmaso

sexta-feira, 25 de junho de 2010

VOO1800 A NOSSA BANDEIRA (II)





Victor Sotero
SargºMor EABT
Damaia





Meu Comandante:
As minhas saudações ao "Comando" e a todos os "Zés" que por aqui nos acompanham.

Eu, já vi a nossa Bandeira, Símbolo Nacional, ser espézinhada, incendiada e até mesmo, servindo de toalha de mesa.
Já vi também ser arriada e logo de seguida sacudida como se se tratasse de um "trapo" qualquer.


















































Hoje, dia 22 de Junho, terminado o jogo de futebol que foi transmitido pela R.T.P., depois de ter visto o nosso Símbolo como se de roupa se tratasse vestido por algumas pessoas, reparo que os dois apresentadores do programa FORÇA PORTUGAL, estão sentados, tendo na sua frente, uma mesa redonda, servindo de toalha a nossa Bandeira Nacional, tendo para não "voar" cinco pedras de calçada, para além de copos de água.

Está a fazer três anos que numa aldeia do Ribatejo, assisti a uma situação que para mim, é de vergonha.
Dava-se início à cerimónia de "abertura" às festas em honra de Nossa Senhora do....
Era de tarde.
Com toda a edilidade presente, uma fanfarra de bombeiros, tocava o outro Símbolo, o nosso Hino Nacional, enquanto a nossa Bandeira ia sendo içada até ao cimo de um altíssimo tronco de um eucalipto.
As pessoas da aldeia, homens e mulheres que assistiam a tão honroso acto, emocionados, davam a melhor atenção, tomando a atitude mais correcta e mais venerável.
Um pouco afastados, três militares da G.N.R..
Um Primeiro Sargento, um Primeiro Cabo e um Soldado.
Apesar de se deslocarem num jeep, usavam botas de cano alto com esporas.
Encontravam-se junto a uma parede de uma casa na maior das descontracções, enquanto se ia ouvindo o Hino Nacional.
O nosso Cabo até brincava com o bivaque.
Nenhum destes militares se virou sequer para o lugar onde a nossa Bandeira estava a ser hasteada.
Eu, que no AB3-Negage, quase todos os dias ouvia tocar o Hino no hastear da Bandeira, que as pessoas paravam os carros e faziam a respectiva continência, quem ia apeado parava e tomava a mesma atitude, deu-me vontade de ir ter com estes "senhores" e perguntar-lhes onde estava o sentimento e o respeito pela Pátria. Não teriam feito a recruta?
Não, não fui porque estava acompanhado pela minha mulher e não me deixou ir para não arranjar problemas.
Tive também vergonha de passados cerca de dois meses ter voltado a esta aldeia e ainda "VER" no pau de sebo que serviu de mastro, a nossa Bandeira já feita em "farrapos".
O nosso Símbolo é muito mal venerado.
Os nossos SÍMBOLOS NACIONAIS, que a Constituição da República consagra, merecem dos cidadãos manifestações de respeito e de orgulho e devem ser objecto das maiores honras e veneração.

Meu Comandante:
Fico-me por aqui, saudando o "Comando", a "Linha da Frente" e os "Zés" que nos visitam.

Até breve

Sotero


Voos de Ligação:

Voo 1796 A Nossa Bandeira - Victor Sotero

quarta-feira, 23 de junho de 2010

VOO 1799 MAIS UMA ATERRAGEM.







António Dâmaso

SargºMor Paraqª

Odemira


Caro Camarada Victor, peço autorização para mais uma aterragem, vou-me fazer à pista.
Os meus cumprimentos para o Comando e para todos que têm paciência para me aturar.
Hoje vou responder ao apelo da Maria do Carmo, irmã dum camarada Pára que morreu em Combate na Guiné.
Aproveito para mandar mais um relato do que passei no Cantanhez, zona de alto risco.
Não vou ao almoço da Tabanca Grande porque ainda ando em mudanças.
Por favor gere o movimento da Base.



CAN
TANHEZ (3)


RETIRADA ESTRATÉGICA


No decorrer da Operação executada pela CCP121 em 10JAN73,perto de Cacine na zona do Cantanhez, a companhia foi colocada de Heli e depois de muito andar, paramos num determinado local em posição defensiva, era já à tardinha depois das 16H00.
Estávamos em silêncio e atentos havia algum tempo, quando de repente, comecei a ouvir ruído de passos na folhagem a aproximarem-se, vinham na minha direcção e eram mais de dez, vinham bem fardados com plainas com fivelas que brilhavam com os últimos raios solares que passavam através dos troncos das árvores, estava quase iminente o por do sol, fiz sinal aos militares que estavam junto de mim para terem calma para os deixarem aproximar mais, como vinham muito bem fardados, queria ter a certeza de que não era tropa nossa, mas o reluzir das fivelas dos plainas tiram-me todas as dúvidas, quando estavam à distância de entre dez e quinze metros, alguém com o dedo mais leve abriu fogo, sendo imitado pelos restantes, durante uns segundos foi um fogo cerrado sobre eles, depois silêncio, mas embora muitos tivessem ficado feridos devido aos rastos de sangue verificados, não ficou lá nenhum no local, também não dispusemos de tempo necessário para o indagar.
Quase de imediato ficamos debaixo de uma chuva de morteiradas, roquetadas e grande fuzilaria de armas automáticas, balas tracejantes passavam a zunir por cima das nossas cabeças, o tiroteio vinha da nossa direita de um ponto mais alto.
Em virtude do sol já se ter posto, o comandante ordenou uma retirada do local, estivemos a pouco mais de trezentos metros do local onde eles estavam, desaparecemos a correr por uma picada abaixo, desta vez com a mudança de rumo ficamos com a flagelação à esquerda, sempre debaixo de fogo eu que estava nos primeiros lugares, com a inversão do sentido da marcha, fiquei no antepenúltimo lugar da coluna, aquilo foi correr a bom correr, confesso que mantive a ligação a custo, até que, já de noite, entramos na mata e preparamo-nos para pernoitar.
Àquela hora, a meu ver, o comandante de Companhia tomou a decisão mais acertada, outra seria por em perigo a vida de muitos homens, se fosse mais cedo tinham-mos travado ali um combate.
Durante a noite, apercebemo-nos que nos estavam a montar uma emboscada mais à frente na direcção em tínhamos seguido, todo o pessoal foi avisado para não fazer barulho, ao amanhecer ainda mal se via, saímos rapidamente sem barulho em sentido contrário.Quando se aperceberam do sucedido, já de dia, mandaram umas morteiradas para o local onde julgaram que nos entravamos, mas caíram a mais de uma centena de metros.
Continuamos a progressão e fomos ter a um aquartelamento do Exercito, onde nos brindaram com uma sopa quentinha e uma cerveja fresquinha, foi um regalo depois de dois dias de fome e sede.
Posteriormente fomos recuperados por helis para Cadique, viemos a saber mais tarde que os guerrilheiros que emboscamos, eram fuzileiros e iam juntar -se ao bigrupo que nos flagelou, mas na minha modesta opinião, acho que sabiam que estávamos na zona e mandaram um grupo avançado à nossa procura.


Resposta à solicitação de Maria do Carmo

Voo 1793 Quem pode ajudar a Maria do Carmo?

Conheci o irmão, FURRIEL/Mil/PARA, Aníbal dos Santos Martins mas não tive muita lidação com ele em virtude de eu ter chegado em Novembro de 72 e pertencer à CCP 121.
Tal como ele estive no Cantanhez naquele dia mas em locais diferentes, onde me mantive no primeiro período até 19 de Janeiro de 1973, sei que a missão mais difícil e arriscada naquela operação, coube à CCP 122.
Pela descrição fiquei com a impressão que o Furriel foi ferido no dia 12 de Dezembro, vindo a falecer no dia 16 e acerca disso encontrei duas versões, sendo uma que terá sido numa emboscada e a outra num ataque a uma Base de cerca de cem Guerrilheiros do PAIGC.
Estou mais inclinado que tenha sido na segunda, vou transcrever a primeira.


Legenda: O Fur.Mil.Paraqª.Anibal Martins em primeiro plano.
Foto.Maria do Carmo (direitos reservados)

Pag. 214 do Livro H BCP 12

…/…A constante movimentação dos homens da CCP 122 na zona de acção atribuída ao COP 4 provocou vários contactos com o inimigo; no dia 12 de Dezembro de 1972, durante a acção «Búfalo Zangado», as nossas tropas caíram numa emboscada, tendo sofrido 4 feridos, um dos quais o capitão Valente dos Santos, comandante da CCP 122; …/…”

A segunda versão, não a tenho comigo neste momento mas já a li em vários lados sendo em último na biografia do General Spínola, que saiu juntamente com um jornal e todas dizem mais ou menos o seguinte:
No dia 12 de Dezembro, na Operação «Grande Empresa» que a CCP 122 com um bigrupo de 50 homens foi atacar uma Base com cerca de100 Guerrilheiros do PAIGC no Cantanhez, estando os últimos fortemente armados e abrigados.
Houve bombardeamento prévio a que se seguiu o primeiro assalto por parte dos paras, sem êxito tendo sofrido cinco feridos entre eles o Cap. Valente dos Santos, os assaltantes tinham dois helis com canhão a apoiá-los.
Também dizem que os feridos foram evacuados e que o Cap. Valente dos Santos se recusou a ser evacuado apesar de ter perdido muito sangue.
Houve um segundo assalto mas sem êxito, tendo recorrido a mais bombardeamento aéreo tendo a força atacante sido reforçada com mais 25 homens que tinham sido heli-transportados de Cufar onde se encontravam em reserva.
Houve um terceiro assalto já comandado pelo capitão Terras Marques com êxito.
Aqui apetece-me fazer um reparo:
Vai-se atacar uma Base do In com 100 elementos apenas com 50?
Depois do primeiro assalto fracassado, os 5 feridos precisam ser tratados e evacuados, ficando a força atacante ainda mais reduzida e mesmo assim força-se um segundo assalto?
Isto foi só um pensamento, pois não sou estratega, quanto a dúvidas só podem ser esclarecidas através do Relatório da Operação.
Também não consegui saber se o corpo veio para cá ou se foi sepultado no Talhão do Cemitério de Bissau.
Aconselho a Maria do Carmo a preservar a memória de seu irmão tal como ele era, é o que eu tento fazer em relação a ele e aos outros camaradas que com ele partiram numa guerra estúpida como tantas outras.
Naquela Guerra assisti a mortos em emboscadas, em ataques, em itinerários, dentro de valas e abrigos nos Aquartelamentos, pura e simplesmente morria-se em qualquer lado, era uma espécie de lotaria, eu só não fiquei lá porque não tinha chegado a minha hora de partir.
Peço-lhe que não deixe que o nome do seu irmão caia no esquecimento, se o presidente da Câmara do seu Concelho ainda não erigiu um monumento em honra dos militares que morreram no Ultramar, deve ser pressionado para o fazer à semelhança de muitas dezenas que já o fizeram.
Daqui presto a minha homenagem ao meu camarada Aníbal dos Santos Martins, PAZ À SUA ALMA e cumprimento a Menina ou Senhora sua irmã.
Quando encontrar um camarada da CCP 122, que lá tenha estado naquele dia, procurarei tentar saber mais sobre o assunto.
Saudações Aeronáuticas

A. Dâmaso

VB:Olá Dâmaso,espero que já tenhas mudado de unidade e que disponhas de mais tempo para poderes retomar os teus voos.
Mais umas emotivas histórias nos trazes das tuas passagens por terras da nossa saudosa Guiné,recordando o que foi a guerra para ti.
Obrigado pelo que nos falas do Martins,já enviei este teu depoimento à Maria do Carmo,irmã dele,e espero que já tenhamos contribuído em alguma coisa para satisfazer o seu pedido.

VOO 1798 OS COMBATENTES.




Santos Oliveira
2ºSargº Ranger (Exército)
V,N.Gaia








DE UM AMIGO, RECEBI O MAIL QUE VOS ENVIO.

ACHO QUE É TEMPO DE PENSAR/ACTIVAR , EM VEZ DE LUTAS MESQUINHAS POLÍTICAS, POR POLEIROS, POR "SER MAIS ALTO", POR "SER MELHOR".

O BEM DE TODOS OS EX-COMBATENTES IRIA BENEFICIAR COM ACÇÕES QUE NÃO DE GABINETE.

E EX-COMBATENTES SOMOS MILHARES, NOS QUAIS OS DFA´s SÃO UMA EXCEPÇÃO A CONSIDERAR .

DEIXO, AOS MEUS AMIGOS DA ADFA, ESTE DESAFIO.

ABRAÇO

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Li atentamente o artigo do director do DN como tinha lido (e ouvido) o discurso de António Barreto.
Na minha dupla qualidade de cidadão e antigo combatente, não poderia estar mais de acordo; pela
homenagem que foi prestada e pela justiça que foi feita.
No entanto, se ambas são inteiramente merecidas, também é verdade que rapidamente irão cair no
esquecimento; os combatentes voltarão ao seu anterior estatuto de eméritos ignorados e esta "homenagem"
e esta "justiça" agora proclamadas não passarão de nobres conceitos de que alguém, muito oportunamente,
se recordou ou de curiosa lembrança de que outro alguém, episodicamente, se recordará (quem sabe, talvez
daqui a mais trinta anos quando morrer o último sobrevivente da guerra colonial).
Há outros meios de render homenagem aos Combatentes das Forças Armadas. Meios de simples aplicação
que, estes sim, teriam efeitos de grande alcance, constituiriam actos de reconhecimento e gratidão da parte
do País que serviram.
Refiro - e sugiro - dois deles:

1º - CARTÃO DO COMBATENTE - semelhante a um cartão de crédito, permitiria ao seu titular:
- o acesso aos cuidados de saúde actualmente disponibilizados pela Instituição Militar;
- o recurso a organismos hospitalares e outros de apoio social mediante o estabelecimento de protocolos de adesão;
- a obtenção de descontos na rede nacional de transportes;
- a facilidade de acesso em eventos sociais (cinemas, teatros, exposições, etc.);
- o desconto generalizado nas compras em lojas aderentes (à semelhança do Cartão Jovem);
- outros benefícios (muitos outros) que o aperfeiçoamento da ideia sugerisse.

2º -
EMBLEMA DO COMBATENTE - para usar na lapela do casaco. Para lhe dar mais visibilidade e causar maior
impacto, poderia ser objecto de concurso nacional a lançar junto dos designers portugueses.
Como sinal de identificação entre antigos combatentes, seria igualmente uma insígnia que todos eles (todos nós)
exibiriam com orgulho.

Amigo,
Acho serem duas boas ideias que, por certo, muito poderão contribuir para elevar mais alto o conceito de Justiça
celebrado no passado 10 de Junho e assim contribuírem também para a dignificação dessa personagem que é, no dizer de Barreto " o Soldado Português".
Que acha sobre apresentar esta ideia em sede da Associação dos Deficientes das Forças Armadas?
Por mim, vou sugeri-la ao António Barreto.

Um abraço

Jorge Tavares