quarta-feira, 25 de novembro de 2020

Voo 3590 FOI Á 48 ANOS...

 



Nuno Almeida (Poeta)
Esp.MMA
Lisboa



Há 48 anos atrás, o meu pai recebia a notícia da morte do seu filho (eu) morto e abandonado nas matas da Guiné! 
Mas, graças à coragem e sagacidade do furriel Vítor Loureiro, que me estancou a hemorragia e me defendeu do fogo inimigo, à coragem e valentia do alf piloto José Morais, que me resgatou debaixo de fogo intenso, à tenacidade do Cor. Gualdino Moura Pinto, que tudo fez para que não sucumbisse, à capacidade e profissionalismo do dr. Manuel Rodrigues Gomes, que me operou 4 vezes em 25 dias e nunca desistiu de mim, e a todos os militares da BA12 e BCP12 que doaram sangue para as transfusões que recebi, essa morte não se concretizou.
Hoje, sou eternamente grato a todos estes heróis que me proporcionaram, até agora, mais 48 anos de sobrevivência neste mundo louco e doente, mas que me deu uma filha maravilhosa e um neto que é o meu tesouro.😢

 

quarta-feira, 11 de novembro de 2020

Voo 3589 102 ANOS DO ARMISTÍCIO DA PRIMEIRA GRANDE GUERRA MUNDIAL.

 

Hoje, celebram-se 102 anos do Armistício da Primeira Grande Guerra Mundial. Porque recordar é existir, evocamos a memória dos que combateram.



Voo 3588 A VIDA É OS DIAS QUE NOS LEMBRAMOS

 





Maria Arminda
Cap.Enfª.Paraqª.
Setubal




Dias após completar 80 anos, recebi o convite para fazer este retrato escrito da minha vida. Chegada a esta idade, pensei não ter estes trabalhos; sobretudo, acho-me muito pequenina entre as figuras de Faces de Eva. A minha filha influenciou-me a partilhar as minhas vivências e a organizar as notas que escrevo desde que participei no livro Nós, Enfermeiras Paraquedistas, publicado em 2014, que reuniu testemunhos de várias colegas na Guerra do Ultramar. Aceite o desafio, fica este relato lembrando pessoas que comigo foram fazendo esta “viagem”; muitas delas já desaparecidas (tragicamente algumas), por ser essa a lei inexorável da vida.

Nasci em 1937, em Setúbal, a mais nova de seis irmãos, mas apenas três sobreviveram para me acompanhar pela vida; o João (nascido vinte anos antes de mim), a Ivone e a Gracinda. Não me recordo da minha mãe, que faleceu com febre tifoide, tinha eu dois anos e meio. Nessa altura, a tia Maria do Rosário, sua irmã, veio para nossa casa orientar as nossas vidas, acabando por se casar com o meu pai e tornando-se uma verdadeira mãe. Faleceu quando eu tinha oito anos. Depois, tive várias mães, a minha irmã Gracinda, a minha cunhada Laura, vizinhas e empregadas. O meu pai trabalhava na Mobil Oil, fazia a distribuição de combustíveis no Alentejo, permanecendo em casa apenas no fim de semana.

Habitávamos no Bonfim, zona verdejante da cidade, com palmeiras, plátanos, mimosas e lodeiros, rodeada de quintas com abundantes pomares. Com os vizinhos formávamos uma grande família. Nas noites de verão, os adultos ficavam à porta a conversar, e nós a apanhar pirilampos que guardávamos em caixas de fósforos. Passava os dias a brincar livremente no campo, à macaca, pião, eixo, trinta e um, berlinde, e à bola, onde, à vez, era jogadora e massagista, uma “maria-rapaz”, alegre e traquina. Um dia, um dos miúdos mandou-me uma coleção de bandeirinhas dos países, uma forma de pedir namoro. Era o Álvaro, com quem vim a casar.

A minha infância foi vivida no decurso da II Guerra. Lembro-me de a minha irmã colar tiras de papel nas janelas e dizer que tínhamos de apagar a luz (dos candeeiros a petróleo) por causa dos aviões. Sentia medo e o meu pai sentava-me no colo, aconchegava-me no seu capote alentejano, contava ser um sobrevivente da outra guerra, para me afastar o receio. Quando a guerra terminou, ouvimos o anúncio na rádio e, com os outros garotos, corri com alegria a espalhar a boa nova.

Não havia infantários e, aos três anos, fiquei ao cuidado de uma mestra, com quem aprendi a ler e fazer contas. Tive uma boa instrução; quando ingressei na escola oficial fui diretamente para a segunda classe, e só não fiquei na terceira por ser demasiado jovem. Concluí a escolaridade obrigatória aos nove anos com distinção e o meu pai decidiu que eu não continuaria os estudos. Achava-se próximo da reforma e planeou voltar à sua aldeia para tratar das terras. Estava-me reservado acompanhá-lo, pelo que fiquei dedicada às tarefas domésticas.

Em outubro de 1951, o meu pai foi internado no Hospital dos Capuchos, em Lisboa, para ser operado a um tumor. Fui para casa da prima Gertrudes,que vivia lá perto, e visitava-o diariamente para lhe levar melhores refeições. Na véspera de ser operado chovia muito, razão que levou a minha prima a impedir-me de o visitar, apesar da minha insistência. Faleceu nesse mesmo dia, 9 de novembro, por erro médico durante a transfusão prévia à operação. O funeral realizou-se a 14 de novembro, dia do meu 14.º aniversário. Foi um desgosto enorme que permanece vivo na minha memória, tal a emoção com que o senti.

Por ser menor de idade, a empresa do meu pai enviou a nossa casa uma assistente social, a Dra. Irene Aleixo. Por decisão unânime dos meus irmãos, o valor da pensão a atribuir seria usado para eu voltar a estudar. O meu irmão foi nomeado tutor e iniciou-se a procura de um colégio interno. No dia 2 de fevereiro de 1952, Dia da Senhora das Candeias, entro no colégio da Congregação das Irmãs de São Vicente de Paulo, em Lisboa. Chorei convulsivamente, depois de o João partir. Fui confortada pelas Irmãs e apresentada às colegas. Rapidamente fiz amigas.

Fui uma aluna aplicada, apesar de algumas diabruras que me valeram sérias reprimendas. Concluí, no primeiro ano letivo, o 1.º e o 2.º anos, para espanto de Irmãs e colegas. Era também uma desportista nata; jogava ténis, basquetebol, patinava e era a capitã da equipa de voleibol nos torneios entre escolas. Durante os anos que fiquei no colégio só vim a casa nas férias de Natal e Páscoa e nas férias grandes. Passava os fins de semana com as Irmãs, que nos levavam a visitar os pobres dos bairros próximos do colégio.

Foi necessário gerir bem o dinheiro para conseguir completar os estudos. A mensalidade, transferida da empresa do meu pai para as Irmãs, era uma fortuna na época, cerca de mil e duzentos escudos, fora o material escolar, o valor do enxoval que levei e os custos com as viagens nas férias. Quando os recursos findaram, as Irmãs conseguiram, através do Ministério da Assistência[1], um subsídio que me permitiu fazer o curso de Enfermagem, além do fardamento e uma mensalidade de cem escudos para despesas pessoais.

A existência do ensino de Enfermagem em Lisboa deve-se à Irmã Eugénia, senhora brasileira, neta de portugueses, com grande visão e dinamismo que, juntamente com o Prof. Francisco Gentil, impulsionou a criação da Escola de Enfermagem de São Vicente de Paulo, que iniciou atividade a 14 de novembro de 1937 (data do meu nascimento).

Em outubro de 1955, iniciei a primeira etapa do meu grande sonho, ser enfermeira, algo que vinha dos tempos de “massagista” e se acentuara nas visitas ao meu pai, no hospital. Fiz o curso com todo o empenho e tive a grande satisfação de ser uma das melhores alunas. Apresentei-me, em junho de 1958, na Escola Artur Ravara para prestar provas de Estado, tendo passado com a classificação de 18 valores (Muito Bom com distinção).

Optei por trabalhar no Hospital de Santa Maria, em Lisboa, no Serviço de Patologia Médica. Comecei, em outubro de 1958, com doentes do sexo feminino e, passado um ano, fui nomeada subchefe, transitando para o piso destinado a doentes homens. Vivia no Lar das Enfermeiras do Hospital de Santa Maria, junto à Feira Popular.

Nesse período já namorava o Álvaro, que, em 1959, partira para a Índia no Serviço Militar Obrigatório. Regressou, em abril de 1961, no navio Niassa. Este mesmo navio partiria logo depois para Angola, com um contingente de militares mobilizado à pressa, após os ataques, um mês antes, por bandos armados com catanas a populações indefesas. No Santa Maria, o pessoal médico e os universitários andavam apreensivos com rumores de uma mobilização iminente.

Um dia por esta altura, a enfermeira Mascarenhas (Maria da Nazaré) perguntou-me: — Ouve lá, Lopes Pereira, eras capaz de largar tudo, de um dia para o outro, para ir para Angola tratar de feridos? — Respondi-lhe que sim, pelo que continuou: — Não contes a ninguém porque é segredo, mas a Madre Superiora da minha escola está a formar um grupo de onze enfermeiras para esse fim. Até já fizemos exames médicos, mas uma chumbou, e eu, sabendo que reúnes as condições exigidas, combinei com a Madre sondar a tua recetividade. — Aceitei de imediato.

A Nazaré, colega do Santa Maria, tinha conhecimento de um episódio ocorrido no meu segundo ano de curso, em 1957, quando comentei numa aula um filme passado na II Guerra sobre uma enfermeira da Força Aérea Inglesa. Notando o meu interesse, o professor referiu uma aluna, de outra escola de Enfermagem (Irmãs Missionárias de Maria), que tinha brevê de pilotagem e paraquedismo e deu-me o seu contacto. A aluna em questão era Isabel de Mello Rilvas (Isabelinha), a quem liguei no próprio dia e que se voluntariou a visitar o colégio para dar uma palestra sobre as suas experiências aéreas.

Em França, ela conhecera o grupo Socorristas do Ar, formado por médicas e enfermeiras paraquedistas que assistiam feridos em locais de difícil acesso, e ambicionou trazer este projeto para Portugal. Apresentou-o ao tenente-coronel Kaúlza de Arriaga, de quem era amiga. A ideia foi considerada interessante, mas inviável. Agora, os ataques em Angola tornavam aqueles planos inadiáveis.

No dia seguinte à conversa com a Nazaré, fui chamada ao Serviço de Saúde da Força Aérea. Passei os testes médicos e marcaram testes psicofísicos para 5 de maio. Ao batismo de voo seguiram-se as duras provas que foram superadas por todas, mas, como fiquei em primeiro, passei a ocupar o primeiro lugar na formatura, de acordo com a norma militar. Os acontecimentos sucederam-se em avalanche: a despedida do serviço do Santa Maria; a comunicação da minha decisão à família; o início do curso intensivo a 6 de junho, que incluía instrução de paraquedismo, e a sua conclusão, a 2 de agosto, com o inesquecível primeiro salto.

A cerimónia das finalistas, a 8 de agosto, em que recebemos o brevê e a boina verde (símbolos do orgulho dos paraquedistas), foi noticiada pela imprensa escrita, rádio e televisão, que deram a conhecer “as seis Marias”; éramos as primeiras mulheres nas Forças Armadas Portuguesas.

Ainda nesse mês, no dia 22, realizei a primeira missão em Angola, acompanhada pela, também alferes, Maria Ivone. Tratava-se de testar a nossa adaptação operacional e avaliar a aceitação de mulheres no meio militar. Foram duas semanas muito intensas, em que participámos na operação aerotransportada de militares na Serra de Canda. Voltei a Angola, em outubro, com a Zulmira (que veio a ser madrinha da minha filha) e a Nazaré. Acompanhou-nos na viagem a Imagem Peregrina de Nossa Senhora de Fátima, a quem elevei as minhas preces para a vida que estava a iniciar. Para trás ficara uma vida estável, tranquila, o ambiente de claustro das enfermarias hospitalares. A nossa prestação foi-se ajustando às necessidades; assistimos militares, civis e até o inimigo. O conflito intensificou-se, alastrou a outras frentes, houve necessidade de abrir mais cursos, nunca fomos suficientes. Além de Angola, estive em Carachi, Guiné e Moçambique, tendo como principais missões a evacuação de feridos dos cenários de guerrilha e o acompanhamento e tratamento de doentes a bordo dos aviões até aos hospitais de Lisboa. Foi-nos exigida grande capacidade de adaptação, não só pela ausência de planeamento logístico para militares mulheres, como pelo próprio clima e população que diferiam entre territórios. Valeu-nos a amizade de colegas e civis que nos acolheram e apoiaram.

Prestes a completar dez anos em comissão contínua de serviço, já tenente, passei voluntariamente à disponibilidade a 15 de dezembro de 1970. Em 25 de janeiro, comecei a trabalhar em Setúbal, nos Serviços Médicosociais, com horários mais compatíveis com a futura condição de casada do que os Serviços Hospitalares, que preferia. Casei a 18 de abril e passei a morar no Bairro Santos Nicolau, onde foi inaugurado, em agosto do ano seguinte, o Posto Médico n.º 22, que integrei como Enfermeira-Chefe.

Em 1974, dá-se o 25 de Abril (a minha filha Ana tinha dois anos e o meu filho João estava a dois meses de nascer), que trouxe a esperança de liberdade e a possibilidade de cessarem as hostilidades no Ultramar. Passei por maus momentos quando me recusei a aderir à (primeira) greve dos enfermeiros. Apelidada de reacionária e fascista, sindicalistas e colegas quiseram o meu despedimento. Insultada, quase agredida, valeram-me algumas pessoas do bairro, a quem tinha ajudado em situações de necessidade.

Como a verdade e o reconhecimento vêm sempre ao de cima, fui depois nomeada para vários cargos no âmbito da criação do Serviço Nacional de Saúde, que se efetivou em 1979. Desde 1980 até 1 de maio de 1992, data em que me aposentei, não mais voltei ao exercício profissional como enfermeira, apenas desempenhei cargos técnicos e diretivos, o último como Vogal da Administração Regional dos Serviços de Saúde do Distrito de Setúbal.

Descrever em breves linhas os meus anos de aposentação deve-se à falta de espaço, porque o texto vai longo e não pela falta de episódios marcantes neste período da minha vida. Tinha 54 anos, vontade de ser prestável à comunidade e apoiar melhor os meus filhos. Na minha cidade, envolvi-me em várias Associações, como a Liga dos Amigos do Hospital de S. Bernardo, Associação de Paraquedistas, Soroptimist Internacional, as duas últimas como sócia-fundadora. Nestas quase três décadas, foi também necessário dedicar cuidados de saúde a familiares e amigos, e eu própria tive a minha dose de maleitas. Foi também tempo de comemorar: as conquistas académicas e profissionais dos filhos, o nascimento dos netos (Pedro, André, Filipe) e sobrinhos. Continuo a ser uma mulher elétrica, ocupada com a

família, as muitas Associações, as aulas de zumba e da Universidade Sénior, informada e atenta ao mundo, cabendo-me ocasionalmente, por ter sido a primeira enfermeira paraquedista, a tarefa honrosa de narrar como foi, para um grupo de 47 jovens mulheres, realizar uma missão de “Paz em Tempo de Guerra”.

domingo, 8 de novembro de 2020

Voo 3587 COR.MÉDICA MARIA SALAZAR NOS LARES DE IDOSOS

 





Victor Barata
Esp.Melec/Inst./Av.
Vouzela




 

Um testemunho muito importante, para conhecimento, neste período difícil das nossas vidas.

Maria Salazar, a coronel médica que leva sabedoria aos lares de idosos

Desde há um mês, as Forças Armadas já fizeram ações de formação aos funcionários de 631 lares de todo o país. Todo o plano de ação foi arquitetado por uma mulher que nunca sonhou ser militar e que agora faz a diferença.

Avatares, drones, carros e motos telecomandados. Forças Armadas preparam batalhas do futuro

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Almirante Silva Ribeiro, chefe do Estado-Maior-General das Forças Armadas.

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Silva Ribeiro: "Conseguimos estancar a saída de militares das Forças Armadas"

A médica e coronel da Força Aérea integra a Direção de Saúde Militar.

A médica e coronel da Força Aérea integra a Direção de Saúde Militar.© Reinaldo Rodrigues/Global Imagens

É quase impossível Maria Salazar passar despercebida quando anda, quase sempre em velocidade e com passadas longas, nos corredores do quartel-general da Direção de Saúde Militar (DIRSAM) do Estado-Maior-General das Forças Armadas (EMGFA).

Se o sonante apelido, instintivamente, já provoca reações, o seu elegante 1,87 metros, dentro de um uniforme camuflado, e os olhos vivos que espreitam debaixo da máscara não deixam mesmo ninguém indiferente.

A médica e coronel da Força Aérea coordena 139 equipas de militares no terreno.

A médica e coronel da Força Aérea coordena 139 equipas de militares no terreno.© Reinaldo Rodrigues/Global Imagens

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Mas, mais do que isso, o seu trabalho tornou-se uma peça fundamental em centenas de lares de idosos por todo o país, com um plano pioneiro que está a levar conhecimento e ensinamentos aos funcionários destas instituições sobre como prevenir o contágio pelo novo coronavírus.

Comando Conjunto para as Operações Militares: as Forças Armadas acompanham em permanência a evolução

COVID-19

Saúde reforçada com planeamento militar no combate à pandemia

Maria Salazar, 49 anos, coronel da Força Aérea, médica formada na Faculdade de Medicina de Lisboa, com a especialidade de Gastroenterologia, é quem está à frente do programa das Forças Armadas para as ações de sensibilização em lares, em apoio ao Ministério do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social (MTSSS).

Até 5 de novembro, cerca de um mês depois do arranque desta gigantesca operação, foram já visitados pelos militares 631 lares.

Até 5 de novembro, cerca de um mês depois do arranque desta gigantesca operação, foram já visitados pelos militares 631 lares, do total de 2770 que o MTSSS atribuiu às Forças Armadas, a cujas ações de formação assistiram 7748 funcionários.

Escapa com ligeireza às perguntas mais pessoais e devolve quase sempre respostas que envolvem o trabalho. Ainda conseguimos a confidência de que nunca sonhou ser militar. "Foi por mero acaso", admite a oficial. "Por curiosidade e insistência de uma grande amiga fui assistir a uma sessão de esclarecimento na Força Aérea, no âmbito de um concurso que se destinava a recrutar médicos para o quadro permanente do Hospital Militar. Foi muito importante e apelativo saber que havia ali uma alternativa para a minha carreira. Como estava a pouco menos de dois meses de ter de escolher a especialidade, entrando na carreira militar teria acesso imediato ao que queria, gastroenterologia, ainda com a mais-valia de ficar colocada em Lisboa, quando naquela altura, na minha geração, não só era difícil ter acesso logo a vagas para esta especialidade no Serviço Nacional de Saúde como também nos primeiros anos seria sempre colocada noutras zonas do país", conta, de um fôlego.

"O facto de ter estudado na Escola Alemã e estar habituada a ambientes disciplinados e a hierarquias era uma vantagem, que depois se comprovou como uma ótima base para me adaptar à vida militar."

Depois veio a dúvida de quem nunca tinha pensado numa carreira militar. "Será que vou conseguir habituar-me? Acreditei que sim. Por um lado, o facto de ter estudado na Escola Alemã e estar habituada a ambientes disciplinados e a hierarquias era uma vantagem, que depois se comprovou como uma ótima base para me adaptar à vida militar. Mas também cresci com o meu pai, que cumpriu o serviço militar na Marinha e era oficial da Reserva Naval, sempre com muita estima pelas Forças Armadas. A única coisa que ele me disse quando o informei de que tinha concorrido à Força Aérea foi 'ao menos podia ter sido a Marinha!'", assinala com um sorriso nos olhos.

Pensar fora da caixa

Maria Salazar é filha do economista Ernâni Lopes, falecido em 2010, que foi ministro das Finanças de Mário Soares, governador do Banco de Portugal e também fundador da Associação dos Oficiais de Reserva Naval.

"Focada, inteligente e dinâmica. Pensa fora da caixa", diz-nos um oficial que trabalha com a coronel. "A grande mais-valia de ser médica militar é fazer muitas coisas em áreas completamente diferentes. Sou gastrenterologista, tenho competências em medicina aeronáutica e assumi diferentes chefias", reconhece a médica.

Antes desta nova missão, ainda quando a pandemia era observada ao longe, Maria Salazar estava envolvida numa nova estrutura do EMGFA, a Unidade de Ensino, Formação e Investigação da Saúde Militar.

Maria Salazar, médica e coronel da Força Aérea responsável por todas as ações da Direcção de Saúde Militar

Maria Salazar, médica e coronel da Força Aérea responsável por todas as ações da Direcção de Saúde Militar do Estado-Maior-General das Forças Armadas (EMGFA) nos lares, militares e civis, no âmbito da covid-19.© Reinaldo Rodrigues/Global Imagens

"Há anos que se fala nesta nova unidade, que faz parte da grande reforma da saúde militar. Serve de elemento diferenciador na criação de novas aptidões na saúde militar para os três Ramos", explica a médica. Mas "quando caiu a bomba em março, pouco antes da declaração do estado de emergência, no dia 18", passou "a fazer parte da task force Covid-19".

Nos cenários e no planeamento que tinham começado a ser traçados pelos analistas militares, desde fevereiro, antes de a pandemia se instalar no nosso país, os lares de idosos surgiam já à cabeça das preocupações, a começar pelos três do Instituto de Ação Social das Forças Armadas (IASFA).

O Centro de Comando para as Operações Militares - CCOM.

CORONAVÍRUS

Os planos, a tensão e o bunker "secreto" da guerra biológica nas Forças Armadas

"Víamos o que estava a acontecer em Espanha, e a apreensão era enorme. Decidimos logo trabalhar com um dos nossos lares, em projeto-piloto. Partir do zero, ver tudo o que estava feito, planos, organização. Ficámos satisfeitos com o que vimos. Testámos toda a gente: residentes, funcionários, todos os que ali entregavam mercadorias. Para nossa surpresa, naquela estrutura tão bem organizada, havia três idosos positivos. Foi um momento muito difícil, com funcionários e familiares com muito medo. Decidimos que a única forma de os ajudar era estar lá com eles o tempo todo. Foram revistos todos os procedimentos, recordados todos os passos, coisas que não podem ser esquecidas, como lavar as mãos. O truque está mesmo nas coisas simples. Nada pode falhar. O segredo é mesmo a formação. Foi uma equipa do Hospital das Forças Armadas fazer essa formação e esteve lado a lado com eles o tempo todo, até a desenhar os circuitos no chão. Depois disto, instalou-se a serenidade", recorda.

Mais de 300 militares no terreno

Com a segunda vaga a aproximar-se, o Governo pediu ajuda ao EMGFA. Era preciso voltar ao terreno e levar conhecimento, insistir nas tais "coisas simples". Com os procedimentos já testados nos lares do IASFA, o diretor da Saúde Militar, major-general Jacome de Castro, entregou a Maria Salazar esta missão. "Entre a decisão do MTSSS e mandarmos as equipas para o terreno foi uma semana, um recorde", frisa a coronel.

Almirante António Silva Ribeiro, Chefe de Estado-Maior-General das Forças Armadas

PODER

Forças Armadas preparam sensibilização e desinfeção em 800 escolas secundárias

As equipas que na primeira vaga tinham feito as ações de sensibilização nas escolas, nas prisões e noutros organismos foram de novo ativadas e alvo de formação específica atendendo às necessidades destas estruturas residenciais.

Com uma lista de 2770 lares no mapa, atribuídos pelo MTSSS, prepararam 139 equipas (130 do Exército, cinco da Marinha e quatro da Força Aérea), com mais de 300 militares dos três ramos, e em apenas um mês já foram a 631 lares.

"A presença dos militares é um fator muito importante para transmitir confiança e credibilidade às pessoas."

"A presença dos militares é um fator muito importante para transmitir confiança e credibilidade às pessoas", salienta a coronel médica. Estas equipas tiveram formação nos conteúdos específicos para os lares e também foram treinadas em comunicação.

O primeiro passo, quando chegam, é verificar, através de uma check list, o que está a ser feito e reforçar, na formação, os conteúdos que sejam necessários.

O plano gizado por Maria Salazar consiste em duas fases: uma é constituída pelas ações de sensibilização, "numa abordagem prática, adequada ao dia-a-dia da instituição"; a segunda, uma estreia absoluta, são sessões de esclarecimento online, em tempo real.

Coordenados pelo capitão-tenente Luís Farinha, médico anestesista da Marinha, médicos, enfermeiros e farmacêuticos militares estão diariamente junto aos computadores na Dirsam e, através, da plataforma Teams, vão esclarecendo as dúvidas dos funcionários dos lares.

Maria Salazar, médica e coronel da Força Aérea responsável por todas as ações da Direcção de Saúde Militar

Maria Salazar, médica e coronel da Força Aérea responsável por todas as ações da Direcção de Saúde Militar do Estado-Maior-General das Forças Armadas (EMGFA) nos lares, militares e civis, no âmbito da covid-19. Na imagem com José Pereira, primeiro-tenente da Marinha, durante uma ação de formação online para os lares.© Reinaldo Rodrigues/Global Imagens

"Percebem que não estão sozinhos, há sempre alguém deste lado para ajudar", afirma a coronel médica, mostrando a sala onde estão os operacionais no Teams desse dia, com auscultadores e microfone, a falar para o computador, em cujo ecrã se veem as imagens de técnicos e funcionários de lares.

A previsão de Maria Salazar é que todas as ações de sensibilização terminem até ao fim do ano e que as sessões no Teams se prolonguem durante mais cerca de um mês depois disso. "As maiores preocupações que temos sentido da parte dos lares prendem-se com a reorganização dos recursos humanos, caso alguém fique infetado. Muitas instituições não têm possibilidade de ter equipas em espelho. A manta é muito curta", assinala esta responsável.

"É preciso contrariar o medo para se conseguir trabalhar. O medo bloqueia o encontrar soluções."

Em jeito de balanço, de "lições aprendidas", que começaram nos lares do IASFA, esta oficial da Saúde Militar destaca uma: "É preciso contrariar o medo para se conseguir trabalhar. O medo bloqueia o encontrar soluções."

Forças Armadas no combate à covid-19

Além das ações nos lares, as Forças Armadas estão noutras frentes da guerra contra a pandemia:

- disponibilização de sete centros de acolhimento com um total de 504 camas;

- ações de descontaminação, pelo Exército;

- núcleo de Apoio à Decisão, com quatro oficiais do EMGFA, para assessorar a ARSLVT na gestão de camas hospitalares;

- acolhimento de 49 doentes de covid-19 nos hospitais das Forças Armadas, transferidos de vários hospitais da zona norte, de Loures e Setúbal;

- identificação e gestão de 7890 voluntários da "Família Militar", que se disponibilizaram para apoiar nos centros de acolhimento de doentes, em caso de necessidade.

 

 

 


sábado, 7 de novembro de 2020

Voo 3586 ALOUETTE III -MUSEU DO COMBATENTE

 


Alfredo Cruz
Ten.Gen.PILAV
Lisboa

 




Finalmente uma das aeronaves mais icónicas da história da Força Aérea tem o seu merecido lugar no Museu dos Combatentes, foram mais de 250 mil horas na guerra, em Angola, na Guiné e em Moçambique (1963/1975).
Os primeiros 15 Alouette III chegaram a Luanda, Angola, em abril de 1963. O primeiro voo é executado pelo então capitão piloto aviador Abel Queirós no dia 18 de junho de 1963. Foram estes helicópteros que formaram a ESQ 94 em 1963.

A BA3 recebeu em 1965 os primeiros Alouette III para a instrução.

A ESQ 33, BA3, Tancos, é formada em 1965

A ESQ 122 “Canibais” na BA12, Biassalanca, Guiné é formada em 1965

A ESQ 503 “Índios” no AB5, Nacala, Moçambique, é formada em 1965

A ESQ 402 “Saltimbancos” no AB4, Henrique Carvalho, Angola, é formada em 1969.

A ESQ 703 “Vampiros” no AB7, Tete, Moçambique, é formada em 1970.

Em 1975 a grande maioria dos Alouette III regressa a Portugal. Os helicópteros são distribuídos pela BA6, Montijo e pela BA3 e os restantes para o DGMFA, em Alverca, para serem alienados.
Em Tancos os helicópteros são colocados na ESQ 33. Na BA6 são colocados no Grupo Aéreo de Helicópteros – GAH, constituído para albergar os helicópteros vindos de África, duas esquadrilhas uma com os Alouette III e outra com os PUMAS.
Pela Diretiva 3/78 do CEMFA são constituídas três novas esquadras de Alouette III. Uma nova esquadra mista de instrução, composta por Alouette III e por C-212 Aviocar e duas esquadras de Alouette III para substituir a ESQ 33 e a esquadrilha do GAH.

A ESQ 551 na BA6 é formada em 1978. Missão Operacional.

A ESQ 552 na BA3 é formada em 1978. Missão Operacional.

A ESQ 111 na BA3 é formada em 1978. Missão Instrução.

Em outubro de 1986 foi desativada a ESQ 551 e integrada na ESQ 552

A ESQ 111 foi desativada em 25MAR93 por Despacho do CEMFA

Oficialmente a BA3 foi desativada em 1994 pelo DL Nº 128/94 de 19 de Maio. A ESQ 552 foi para a BA11, Beja em novembro/dezembro de 1994.
Entre 2000 e 2002 o Alouette III/ESQ 552 formou um destacamento em Timor-Leste a fim de cumprir uma missão “Peace Keeping” das Nações Unidas
Nos últimos anos e na ESQ552 o Alouette III foi responsável por: formação de pilotos, FAP e Marinha, busca e salvamento, evacuações médicas, combate aos fogos, etc...
Junho de 2020 foi o fim glorioso dessa “máquina” fabulosa, chmada Açouette III, um helicóptero que ficou na memória de um milhão de portugueses que combateram em África.

“... Em Perigos e Guerras Esforçados...”

Em 05FEV92 a ESQ 552 foi condecorada com a Medalha de Valor Militar, como depositária de todas as esquadras de helicópteros Alouette III.