Mensagem do nosso companheiro:
Arnaldo Sousa
MMA/FIAT G-91
Bissalanca 72/74
Transcrevemos agora a II Parte da mensagem que este nosso companheiro nos enviou em Julho com o recorte do Jornal Diário de Notícias quando do acidente e consequente falecimento do Ten.Cor.Pilav.Almeida Brito.
Amigo Victor,atendendo ás características da zona e intensificação dos combates,não foram feitas tentativas de encontrar os destroços,quer por parte das forças terrestres quer da FAP,nem sequer depois do 25 de Abril.
Quis o destino que passados 15 anos os restos mortais do malogrado Almeida Brito fossem encontrados!
Em Março de 1988,o Correio da Manhã publicava a notícia que recortamos , está aqui á nossa esquerda, e que dizia o seguinte:
"Já foi encontrada a placa de identificação do TenCor.Pilav Almeida Brito,morto durante um ataque aéreo do PAIGC a uma patrulha da FAP.As autoridades portuguesas mantêm algumas preocupações ao referirem o assunto,embora já não restem quaisquer dúvidas de que os destroços encontrados pertencem ao corpo e ao avião do Ten.Cor.Pilav português,dado como desaparecido em 1973.Segundo o jornalista da Lusa que acompanhou os trabalhos de investigação na Guiné-Bissau,terá sido a ganância pelo lucro fácil de um caçador do Gabu(ex Nova Lamego)o facto que fez reviver o caso do desaparecimento do Ten.Cor.Pilav Almeida Brito.Em 1973,um avião "Fiat G91" da FAP foi abatido por um míssil terra-ar disparado pelo pelotão do PAIGC perto de Madina de Boé*,a 75 Km do Gabú.O aparelho era tripulado por Almeida Brito.
O caso foi dado como encerrado tendo as autoridades comunicado á família que o corpo tinha sido pulverizado e,por isso,dado como desaparecido.
Quinze anos depois as declarações de um caçador do Gabú,de nome Iero Emlaloh,fizeram crer que seria possível recuperar o corpo do oficial português.O caçador disse a meios portugueses em Bissau que tinha descoberto restos do avião contendo no seu interior um esqueleto humano pertencente ao Ten Cor.Pilav Almeida Brito.Para dar mais convicção às declarações,o caçador disse que o esqueleto possuía numa das mãos um anel,normalmente utilizado pelos pilotos portugueses dos caças a jacto com a inscrição "TEC A.B". Na posse destes dados,o adido da Defesa junto da Embaixada de Portugal em Bissau,o oficial da Força Aérea,Ten.Cor.Montalvão Guimarães,entrou em contacto com o governo guineense solicitando a colaboração das Forças Armadas da Guiné-Bissau que tornasse possível recuperar os restos mortais do Ten.Cor.Pilav.Almeida Brito para serem entregues à família.
Na incursão até ao local do acidente foram,além do adido da Defesa,um funcionário da Embaixada de Portugal e dois jornalistas (da Lusa e da RTP).Após uma viagem acidentada por uma picada onde ainda hoje se circula com precaução por estar semeada de minas,verificou-se que a história era outra..."refere o jornalista da agência noticiosa."No local,a 300 metros da aldeia de Dandu ou Dandum,distante três Km de Madina de Boeh,apenas se encontraram restos
do reactor do avião,bem como escassos vestígios de ossadas humanas."
O CM confirmou junto de outras fontes que os destroços apareceram num local"considerável-
mente afastado daquele onde se tinha dado o acidente."A escassez das ossadas encontradas no local e as versões contraditórias do caçador terão levado as autoridades portuguesas a evitarem comentários sobre os factos sem terem a certeza de que as ossadas pertenciam ao TenCor.Pilav Almeida Brito.
No entanto,o silêncio absoluto do departamento governamental não será tão compreensível após terem conhecimento de dados que revelam a identificação das ossadas.Além disso,a presença nas investigações do adido da Defesa e do funcionário da embaixada revelam que o governo português estará,apesar do silêncio,a par do assunto.
Interrogado pela delegação portuguesa,o caçador guineense disse que o anel teria sido vendido por um cidadão guineense ausente no Senegal a um alfaiate do Gabú que teria comprado à mesma pessoa o anel de casamento retirado do corpo do piloto.
De volta à aldeia,o grupo encontrou em casa do alfaiate o anel de casamento com a seguinte inscrição gravada:"ANA 9-11-1961". Refira-se que Ana é o nome da mulher do Ten.Cor.Pilav Almeida Brito.
Graças à intervenção enérgica do comandante do Batalhão do Gabú,Major Tchambu Maneh,o anel foi entregue pelo alfaiate que em vez da avultada soma pedida inicialmente,acabou por pedir apenas,em troca,uma nova aliança,parecendo ter ficado gorado o negócio do alfaiate com o caçador",relata o jornalista da Lusa. " ficou patente para todos os envolvidos neste incidente que o abate do "G-91",bem como a descoberta do corpo do oficial português era do conhecimento geral das gentes do Gabú e que,se não fosse a ganância do caçador,o tempo acabaria por apagar totalmente a lembrança de um caso normal em tempo de guerra",salienta o jornalista."
Arnaldo de Sousa
* -Cota mais alta da Guiné-Bissau,300 metros acima do nível do mar.
-Local onde em 1969,durante a retirada do exército português.morreram 47 militares portuguses ao atravessarem o rio Corubal .