34-Joaquim Mexia Alves
Ex-Alf.Mil.Operações Especiais (Exército)
Guiné 1971/1973
Xitole,Mato Cão/Rio Undunduma e
Mansoa.
Camaradas da Guiné:
Assisti ao (programa)Prós e Contras,mas confesso que me começou a faltar a pachorra e fui-me deitar.
Acho que aquele formato de programa,já não dá.Fico sempre com a impressão que o programa se podia chamar
"Fátima e os seus convidados",pois a maior parte das vezes ela fala mais que os convidados e constantemente interrompe o discurso e a linha de pensamento dos mesmos.
Bem esta é minha apreciação,outros verão de modo diferente!
Quanto ao debate:Apesar de já ter passado muito tempo,provávelmente ainda é pouco,porque se nota que as paixões estão à flor da pele.Ou seja,todo o debate está eivado de politica e por isso mesmo muitas vezes carece de objectividade.
Claro que seria difícil falar de uma guerra destas sem falar da política ou do ponto de vista
político,mas a guerra não se resume apenas à política.
Passaram a maior parte do tempo a discutir se a guerra era do ultramar,se colonial,se de libertação.Ora,abóbora,conforme o pensamento de cada um ela terá a designação que cada um lhe quer dar:(i)Do ultramar,porque uns acreditavam ou queriam acreditar servindo os seus interesses,que aqueles territórios eram parte integrante do "todo nacional";(ii)Colonial porque aqueles que viam ou queriam ver,servindo os seus interesses,aqueles territórios como colónias;(iii) De libertação porque aqueles que,sendo desses países a fizeram,porque aqueles
que sendo desses países as opiaram,mas lembrando que alguns,sendo desses países,com ela não concordavam,e por isso não seria para eles de libertação.
Como foi chamada a guerra das Malvinas?Do ultramar pelos ingleses,colonial pelos argentinos,de libertação pela população,ou alguma população?
Não me parece que isso seja muito importante,pelo menos para mim não é.
Agora pode-se discutir esta guerra do ponto de vista político,do ponto de vista militar e do
ponto de vista político-militar.
Naquele debate parece-me ter-se discutido apenas o ponto de vista político e,como tal,deu em nada.Acaba por se ver e ouvir sempre os mesmos a dizerem as mesmas coisas,citando outros,mas sem grandes provas que eles o tenham dito,servindo-se de frases muitas vezes tiradas do contexto,etc,etc.
E os milicianos?E aqueles que não eram militares profissionais e oriundos de diversos pensares e vivências?O que pensam eles?Alguém viu?Alguém sabe?Alguém quer saber?
Afinal quem fez a guerra,na sua esmagadora maioria,foram os militares de carreira ou os milicianos?
Com isto não estou de modo nenhum a colocar de lado os militares profissionais,que os há e muitos,cheios de competência e dignidade,e que me orgulho de ter servido sob o seu comando.
Mas a verdade,e é a minha opinião,é que a maior parte tenta sempre demonstrar que a guerra estava perdida,e isso cheira-me muitas vezes a uma qualquer justificação!
Claro que a guerra estava perdida!Estava perdida políticamente,como qualquer guerra daquele tipo,e pelo desgaste e a pressão internacional,estaria também perdida militarmente,pois demorasse o tempo que demorasse acabaria na independência daqueles povos.
Mas agora,e era isso que gostava de ver debatido com verdade e sem paixões politicas e outras,verdadeiramente porque se diz que a guerra estava perdida militarmente na Guiné?
É uma afirmação permanente,com a qual eu não concordo,e até agora ninguém me demonstrou o contrario.
Com isto não quero dizer que não fico muito feliz com a independência da Guiné,(gostava de ver um país próspero e um povo feliz),mas sim que se pode analisar a situação,não por dois ou três lugares ou acontecimentos,mas pelo todo.
Vejamos a titulo de exemplo:
Estive de Dezembro de 1971 a Dezembro de 1973 na Guiné e durante esse tempo,que eu saiba,não houve nenhuma emboscada ou ataque a qualquer coluna na estrada Bambadinca/
Xitole,ou Bambadinca/Bafatá,ouXitole/Saltinho,ou,julgo eu,Bafatá/Gabu (Nova Lamego).
Não houve,que eu me lembre,qualquer ataque a barcos no Geba,entre o Xime e Bafatá
Em Mansoa estávamos a abrir a estrada de Jugudul,(salvo erro),Portogole e a mesma avançava,claro que com algumas acções de guerra,mas nada que a impedisse.
Montei várias vezes protecções a colunas na estrada entre Mansoa e Mansabá,na zona do Morés e as colunas passaram sem incidentes.
Isto são só alguns exemplos que logicamente não retratam também o que se passava em toda a Guiné,mas parece-me que os trágicos episódios de Gadamael,Guileje e Guidage acabaram por determinar essa informação, que a guerra estava perdida militarmente.
Em muitas guerras,em muitos lugares,ao longo da história do mundo,se perderam algumas praças,mas não se perdeu a guerra.
Em Angola a guerra estava perfeitamente controlada e isto penso que é opinião geral.Em 1974 e 1975 fiz milhares de quilómetros no interior de Angola e nem um pequeno incidente aconteceu.Assim o esforço militar que se estava a fazer em Angola,podia ser desviado em parte para a Guiné,mormente Força Aérea com outra capacidades,o que poderia mudar muita coisa na Guiné.
Com isto não estou a dizer que queria que a guerra continuasse!Não,nem tal me passa pela cabeça,ainda bem que acabou,para todos nós,Guineenses e Portugueses!
Apenas quero dizer que, na minha opinião, a guerra militarmente não estava perdida,ou pelo menos ainda não mo conseguiram demonstrar.
Sei que esta é uma abordagem polémica,e que a análise que aqui faço,(se é que se pode chamar análise a este arrazoado de ideias),não demonstra coisa nenhuma,mas talvez suscite discussão sã sobre méritos ou deméritos das Forças Armadas Portuguesas,às quais pertencemos,embora alguns dos seus elementos nos queiram esquecer.
Agora deixo-vos isto escrito para fazerem o que quiserem,no sentido de que só com serenidade,com distância política e emocional é possível fazer uma verdadeira discussão e análise ao que foi a Guerra da Guiné.
Eu sinceramente não sei se tenho essa distancia,sobretudo emocional,para me abalançar à discussão.Mas se não formos nós que estivemos no terreno,quem o fará?
Abraço forte do camarigo (camarada e amigo)
Joaquim Mexia Alves
VB- Companheiro,é realmente interessante e conclusiva esta tua análise ao referido programa,eu próprio já tinha já a tinha feito para publicar,mas depois de ler esta...deitei-a ao lixo!Neste País,plantado à beira mar,continua a dar-se relevo ao titulo e extracto social!
Já que não temos acesso á RTP,gostava mos de receber neste Blog os comentários devidos tanto ao programa "Prós e Contras" como a "Realidade do Mexia Alves.
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