94-Mensagem do João Coelho
MMA
3ª/63
Amigo Barata,cá vai uma 3ªintervenção sobre a
vida na FAP,de 1964 a 1966,no então AB 1,na Portela,em Lisboa.
vida na FAP,de 1964 a 1966,no então AB 1,na Portela,em Lisboa.
Foto da AB 1,hoje AT 1, Lisboa
Vivia-se bem,nos primeiros tempos a messe era excelente,até leitão se comia,depois foi piorando ao ponto de um pequeno grupo de especialistas ter ido falar com o 1ºSarg.Manuel Ferreira,responsável pelo refeitório.Estou a vê-lo,sempre à civil,e sempre com um cigarro pendurado nos lábios,ouro nos dedos,um tipo estilo porreirão-dizia-se que era muito querido pelas vendedoras do Mercado da Ribeira-e que aceitou com muita naturalidade a nossa conversa,muito afável,mas...lá nos disse das dificuldades,dos apertos financeiros,e mais coisa e tal...ou seja,nada melhorou.Fico a ganhar o bar da Base,que o Bento,tambem Cabo-Especialista explorava,com a venda das latas de atum,misturado com batata frita de pacote...
Para além da alimentação,a unidade tinha um outro problema,e,esse sim,dos grandes:o célebre Cap.Carmo,oficial do SG(Serviço Geral) e responsável pelo Comando da Formação,um homem de paranoias terriveis e que era um autêntico cão de fila,sempre atras da mais pequena infracção.
Para além da alimentação,a unidade tinha um outro problema,e,esse sim,dos grandes:o célebre Cap.Carmo,oficial do SG(Serviço Geral) e responsável pelo Comando da Formação,um homem de paranoias terriveis e que era um autêntico cão de fila,sempre atras da mais pequena infracção.
Estando na Portela,em plena cidade de Lisboa,com o 45 da Carris a passar ali à beira,era natural que o pessoal apreciasse sair à civil...e,durante algum tempo tudo correu normalmente.De repente,o sr.Cap. achou que não,só se saia fardado e calhou-me a mim a estreia:10 dias de detenção simples por uso de traje civil...Passaram uns meses e,como sempre aconteçe,julgou-se que as coisas teriam "amolecido"...engano meu,mais 10 dias de detenção,de novo por estar à civil e ser reincidente...Esta custou-me um bocado,por estar já na cancela,lá em cima,a caminho de uma tourada no Campo Pequeno,na companhia do meu camarada de curso e conterrâneo Herberto Machado,colocado em Bissalanca e que tinha chegado nesse dia como mecânico de um "Dakota"vindo da Guiné(passando por um susto,já que depois da aterragem viram que o hélice de um dos motores,por qualquer razão,estava quase a soltar-se do motor...).Mesmo assim ainda conseguimos ir aos touros,dado que o Cap.Carmo ia de saída quando nos encontrou,era tarde,e a efectividade da punição só se verificou no dia seguinte.
Este oficial-que morreu atropelado em Lisboa, anos mais tarde-voltou a dar que falar,agora por causa da gasolina.
Quando chegamos ao AB 1,em Setembro de 1964,era vulgar o pessoal servir-se do combustível que ficava nos depósitos dos aviões,depois dos voos.Aliás,os oficiais até abasteciam directamente,traziam o carro para a placa,estacionavam debaixo de uma das asas e,com um tubo colocado no dreno pequeno,enchiam o tanque da viatura;os Sargentos aproveitavam o bidon,montado sobre pneus,que fazia a limpesa das águas do avião,para trazer gasolina;nós,cabos-especialistas,arranjavamos uma lata de 20 litros,abertas em cima,e com um arame a fazer de pega...e lá íamos,de vez em quando,fazer a nossa colheita.
Sei que depois alguém a vendia a 3$50 o litro,a civis-cá fora estava a 5$00 o litro-e,com isso melhoravamos o vencimento.
Ninguém se ralava,depois de um voo de milhares de Kms,mais 500 ou menos 500 litros nos tanques do avião,tanto fazia.
Até que... um dia,um "Skymaster"brasileiro passa a noite no AB 1- oBrasil tinha então um Destacamento ao serviço da ONU,no Egipto,devido à crise no canal do Suez.A tripulação foi para o hotel descansar e,no dia seguinte de manhã,Sarg.Mec.brasileiro,o primeiro a chegar,sobe ás asas e vai "checkar"os depósitos,com uma vara de medição...abre a entrada de um dos tanques,mete lá a vara e pum!...Som de batida no fundo,ali só havia secura,nada mais.Ora o Sarg.sabia que tinha ficado gasolina nos depósitos-não recordo a quantidade,mas
Este oficial-que morreu atropelado em Lisboa, anos mais tarde-voltou a dar que falar,agora por causa da gasolina.
Quando chegamos ao AB 1,em Setembro de 1964,era vulgar o pessoal servir-se do combustível que ficava nos depósitos dos aviões,depois dos voos.Aliás,os oficiais até abasteciam directamente,traziam o carro para a placa,estacionavam debaixo de uma das asas e,com um tubo colocado no dreno pequeno,enchiam o tanque da viatura;os Sargentos aproveitavam o bidon,montado sobre pneus,que fazia a limpesa das águas do avião,para trazer gasolina;nós,cabos-especialistas,arranjavamos uma lata de 20 litros,abertas em cima,e com um arame a fazer de pega...e lá íamos,de vez em quando,fazer a nossa colheita.
Sei que depois alguém a vendia a 3$50 o litro,a civis-cá fora estava a 5$00 o litro-e,com isso melhoravamos o vencimento.
Ninguém se ralava,depois de um voo de milhares de Kms,mais 500 ou menos 500 litros nos tanques do avião,tanto fazia.
Até que... um dia,um "Skymaster"brasileiro passa a noite no AB 1- oBrasil tinha então um Destacamento ao serviço da ONU,no Egipto,devido à crise no canal do Suez.A tripulação foi para o hotel descansar e,no dia seguinte de manhã,Sarg.Mec.brasileiro,o primeiro a chegar,sobe ás asas e vai "checkar"os depósitos,com uma vara de medição...abre a entrada de um dos tanques,mete lá a vara e pum!...Som de batida no fundo,ali só havia secura,nada mais.Ora o Sarg.sabia que tinha ficado gasolina nos depósitos-não recordo a quantidade,mas
era significativa-e ao ver que ela se tinha"evaporado"durante a noite,não achou graça.Vai de participar,a coisa podia ganhar foros de incidente diplomático,investigação prá aqui e prá acolá,mas nunca se conseguiu provar nada,toda a gente se fechou em copas.
Mais tarde constou-se que tinha sido um "velhinho"especialista o responsável pela cena,incluia uma pequena rede,dentro e fora da base,com a coloboração de sentinelas e alguns civís,sócios do camarada,uma pequena camioneta com bidons de 200 litros na caixa,estacinada junto à rede,no lado exterior,e uma mangueira estendida até ao dreno grande do avião...E depois até se dizia que o autor da proeza já era veterano no esquema,que comia lagosta na Solmar todas as semanas e que tinha posse para ir ás meninas de luxo...
Verdade é que a partir dai acabaram as facilidades no respeitante à gasolina,e ficou o Cap.Carmo encarregue de fiscalizar as tropas e,diga-se que com sucesso,pois acabou por apanhar dois imprudentes Sarg.que arriscaram usar o tal bidon das águas,e que foram topados em pleno o dia,no meio da placa,com a mão na massa-neste caso,na gasolina.Deu treta,punições e transferência de unidade...
Mas foram grandes tempos esses-quando ainda tinha a farda de"terylene"em condições,ir até ao terminal ou dar uma volta pela Baixa,com o nosso "brevet"de mecânicos,nesse tempo semelhante ao dos pilotos-a diferença era termos uma hélice entre as asas,em lugar do escudo nacional-as miúdas julgando que pilotavamos"caças"e nós que ás vezes,etc. e mais isto e mais aquilo,o uniforme era bonito,na verdade,e dava "sainete".
De resto,a minha minha vida passava-se entre o trabalho da Secção Técnica,o serviço na Escola de Mecânico de Dia,vendo partir e chegar quem ia e vinha da guerra,aproveitar as saídas de fim de semana,estar a pau com o Cap.Carmo,e fazer uns voos de vez em quando,na companhia do Cap.Pilav.Victor Campos, um piloto de mão cheia e oficial responsável pela Segurança de Voo dos TAM(Transportes Aereos Militares).
Matéria que deixarei para uma próxima e derradeira intervenção aqui,se houver paciência da vossa parte.
Mais tarde constou-se que tinha sido um "velhinho"especialista o responsável pela cena,incluia uma pequena rede,dentro e fora da base,com a coloboração de sentinelas e alguns civís,sócios do camarada,uma pequena camioneta com bidons de 200 litros na caixa,estacinada junto à rede,no lado exterior,e uma mangueira estendida até ao dreno grande do avião...E depois até se dizia que o autor da proeza já era veterano no esquema,que comia lagosta na Solmar todas as semanas e que tinha posse para ir ás meninas de luxo...
Verdade é que a partir dai acabaram as facilidades no respeitante à gasolina,e ficou o Cap.Carmo encarregue de fiscalizar as tropas e,diga-se que com sucesso,pois acabou por apanhar dois imprudentes Sarg.que arriscaram usar o tal bidon das águas,e que foram topados em pleno o dia,no meio da placa,com a mão na massa-neste caso,na gasolina.Deu treta,punições e transferência de unidade...
Mas foram grandes tempos esses-quando ainda tinha a farda de"terylene"em condições,ir até ao terminal ou dar uma volta pela Baixa,com o nosso "brevet"de mecânicos,nesse tempo semelhante ao dos pilotos-a diferença era termos uma hélice entre as asas,em lugar do escudo nacional-as miúdas julgando que pilotavamos"caças"e nós que ás vezes,etc. e mais isto e mais aquilo,o uniforme era bonito,na verdade,e dava "sainete".
De resto,a minha minha vida passava-se entre o trabalho da Secção Técnica,o serviço na Escola de Mecânico de Dia,vendo partir e chegar quem ia e vinha da guerra,aproveitar as saídas de fim de semana,estar a pau com o Cap.Carmo,e fazer uns voos de vez em quando,na companhia do Cap.Pilav.Victor Campos, um piloto de mão cheia e oficial responsável pela Segurança de Voo dos TAM(Transportes Aereos Militares).
Matéria que deixarei para uma próxima e derradeira intervenção aqui,se houver paciência da vossa parte.
Um abraço para o amigo Barata e para todos os que aqui vêm.
João Coelho
VB:Companheiro,quero desde já agradecer-te as tuas intervenções,são de uma riqueza invejável,toda a permonorização que empregas nesta descrição da tua vida ao serviço da nossa FAP ,no fim destes anos todos,fazem-nos sentir orgulhosos por termos um ZÉ ESPECIAL como tu!
Pois bem,João,nós vamos ter sempre "paciência"para ler as tuas mensagens,só te pedimoas que não a percas tu para nos descreveres!?...
Pois bem,João,nós vamos ter sempre "paciência"para ler as tuas mensagens,só te pedimoas que não a percas tu para nos descreveres!?...
Saudações ESPECIAIS!