quarta-feira, 12 de março de 2008

CONTINUAMOS NA ANSIA DE ENTRAR NA TERTÚLIA!!!



134-Mensagem do Manuel Rebocho
SargºMor Pára-Quedista (Reserva)
BCP 12 Bissalanca
Guiné
Doutorado pela Universidade de Évora
Sociologia da Paz e dos Conflitos
Tese:"A Formação das Elites Militares
Portuguesas entre 1900/1975"





Meu caro amigo Victor Barata



Não fui a Guiledje, embora o tivesse previsto, por duas razões:
Em primeiro lugar, pretendia conjugar Guiledje com outros afazeres no país. Não consegui conjugar os tempos e só para o próximo mês posso tratar desses outros assuntos. Neste sentido, deslocar-me duas vezes a Bissau, em pouco tempo, também me provocava outras dificuldades.
Em segundo lugar, Guiledje foi permanentemente, um caso de extrema dificuldade para as nossas tropas, pelo que reduzir a importância de Guiledje a 1973 não me pareceu historicamente correcto. Tanto mais que os ataques de que Guiledje foi alvo em 1973, nem sequer foram os maiores, nem tão pouco os mais difíceis para as nossas tropas, pelo que não me sentia bem comungando de uma "falha" que considero muito grave, do ponto de vista da ciência histórica da guerra.
A importância que foi atribuída a Guiledje, não está nos ataques de 1973, mas na fuga das nossas tropas, procedimento que eu não comungo.
O maior problema de Guiledje esteve no facto de não existir, em toda a margem esquerda do rio Cacine, um único Oficial da Academia. Em Bissau estava-se muito melhor.
As nossas tropas fugiram de Guiledje porque Spínola para lá mandou um Oficial da Academia, que se recusou a ficar lá. Conheço tudo em pormenor.
Por todas as razões, a minha ida a Guiledje, neste contexto, iria resultar em aborrecimentos, entre mim e os Oficiais da Academia que lá foram, que nem todos estão isentos de responsabilidades.
Ainda mais um ponto: Guiledje resultou de uma estratégia, ao nível dos Generais, (que, vergonhosamente, os Capitães designavam de brigada do reumático), envolvendo este mesmo Guiledje, Guidaje e o Cantanhez, precisamente para provocar uma situação de impossibilidade e provocar "abanos" políticos. Conhecendo tudo isto, não posso assistir a afirmações que desvirtuam a história da guerra e as causas do 25 de Abril. O Golpe de Estado era absolutamente necessário, mas não foi obra dos Capitães.
No entanto, vou em breve deslocar-me à Guiné-Bissau e irei a Guiledje. Viagem esta, para a qual convidarei o nosso amigo Pepito, mas serei acompanhado só por quem eu quero.
A seriedade é um valor que muito prezo.
Um grande abraço

Manuel Rebocho