336-Luís Alves Fraga
Coronel (Reserva) FAP
Lisboa
No dia 26 de Julho, na Igreja da Força Aérea, em S. Domingos de Benfica, pelas 10 horas, vão ser homenageados os militares portugueses mortos, de armas na mão, em terras de África e cujos corpos por lá ficaram sepultados nas matas distantes.
Esta homenagem genérica corporiza-se agora perante os restos mortais de três soldados pára-quedistas que foram exumados do solo da Guiné-Bissau, mortos em 1973. Vão, finalmente, repousar nas suas terras natais, depois de uma longa ausência de 35 anos!
Estes são os primeiros de muitos que por lá jazem já nem se sabe onde ao certo.
Ao mesmo tempo que nos honra a nós militares o regresso à terra de onde partiram estes três soldados que derramaram o seu sangue e entregaram a vida por uma causa e numa guerra da qual foram vítimas inocentes, este regresso é, também, uma mancha escura na História que os políticos do pós Abril de 1974 quiseram escrever. É uma mancha bem escura, porque mostra o desprezo de que quem nos governa por todos os que sacrificaram o último sopro de vida de armas na mão, em guerra, servindo Portugal.
Que não apareçam na igreja de S. Domingos de Benfica, no dia 26 de Julho, os senhores ministros, porque vão com a sua presença macular um momento sagrado dos militares. Vão macular, pois a estarem presentes, sabemo-lo, será numa atitude eleiçoeira e hipócrita já que nada representa no meio de actos que têm cerceado direitos adquiridos quando por África afirmávamos, cada um no seu posto e da maneira que lhe era exigida, a vontade de tudo sacrificarmos numa guerra que não pedimos. Em nome de equilíbrios orçamentais e de saneamentos financeiros amputaram-nos de parcos direitos… Não venham agora os senhores ministros conspurcar os nossos sentimentos, o nosso orgulho, a nossa tristeza! Eles são homens de muitas caras; nós só temos uma e orgulhamo-nos de saber manter os olhos levantados para ideais nobres e dignos que estão muito para além e muito para cima do horizonte dos políticos.
VB:Este texto do nosso Companheiro Luís Fraga,foi extraído do seu Blog "Fio de Prumo".
A sua leitura,por nós ex-combatentes,deixa-nos feliz com toda a exactidão de sentimentos e frontalidade para com aqueles nutrem um total desprezo por quem perdeu os seus filhos sem saber porque. Obrigado Companheiro Luís Fraga pela tua continuidade de preservares o direito verdade.