sábado, 16 de agosto de 2008

BASE AÉREA 7 -S.JACINTO AVEIRO.


372-Augusto Ferreira
Esp.Melec/Inst./Av. 3ª/69 Tete
Coimbra


Amigo Vitor Barata,
estou hoje de regresso à linha da frente, neste período de férias, para recordar o tempo em que passei por esta base, que já não pertence à FAP, mas que foi de grande importância naquele tempo.
Infelizmente, não tenho nenhuma foto, dessa minha presença, a não ser o meu cartão de identificação que te envio hoje.
Estávamos no ano de 1971,depois de termos terminado na EMEL em Paço de Arcos o curso Melec de cabos e da especialização de Instr. de Avião na BA2-Ota, sou colocado nesta base, que estava localizada no topo sul, da península que vem de Ovar até ao lado de Aveiro, como se pode ver no mapa que segue junto.
Mesmo ali ao lado, tínhamos uma povoação de pescadores, com bonitas casas, feitas com ripas de madeira pintada ( Palheiros ) e numa altura, em que ainda funcionavam a 100%, os Estaleiros Navais de S. Jacinto.
O comandante era na altura o Tenente Coronel Sachetti.
Nela estavam colocados, cerca de 40 aviões T6G, que eram utilizados na instrução e preparação de novos pilotos, que iriam servir nas guerras do ultramar.
Foi aqui que tiraram o brevet, grande parte dos pilotos-aviadores desse tempo.
Começava-se muito cedo, a fazer o ponto fixo aos aviões, para que estivessem prontos para a respectiva instrução.
O grande contacto que tive com o avião, nos poucos meses que lá estive, foi suficiente para o ficar a conhecer bem, no que dizia respeito á nossa especialidade.
Éramos 4, o então 1º Sarg. Agostinho, o Lapa,o Caiano e eu.
No verão à tarde, depois dos nossos períodos de trabalho, íamos até à praia que ficava do outro lado da base, que era constituída por dunas e já com o Atlântico ali, estava sempre por nossa conta, pois não se encontrava por ali vivalma.
Só os pilotos por vezes, no regresso à base depois da instrução, é que faziam um vôo rasante sobre o pessoal.
À noite, íamos até ao bar do francês, que ficava a cerca de 1 ou 2 kms da base em direcção a Ovar, beber umas cervejocas fresquinhas, que tinha a bandeira francesa hastiada, bem alta, num mastro de madeira.
A cozinha e a lancha azul, que nos transportava da base para o Forte da Barra, estavam sobre o comando e control, dos nossos companheiros da Marinha.
No refeitório havia um sopa, que nos serviam de vez em quando, interessante.
Tratava-se de duas fatias de pão laminadas, num prato com um ovo cru em cima.
Depois, vertiam por cima um caldo bem quente, que cozia de imediato o ovo, ficando depois um prato agradável.
No transporte da lancha, o Comandante da base era sempre o último a entrar e o primeiro a sair.
O trânsito dela pelo canal não era fácil, pois as correntes ali eram sempre fortes e por vezes ía de tal maneira carregada, que as águas ficavam a uns cerca de 50cm da borda.
Quando os Zés Especiais desembarcavam no Forte da Barra, por vezes cruzavam-se com as raparigas, que trabalhavam na industria do bacalhau, enviando-lhes alguns piropos, na resposta ouvíamos o pior das asneiradas. É evidente, que fazíamos aquilo só para as ouvir.
Era aí desse lado, que ficavam as viaturas, que nos levavam e traziam no fim de semana, principalmente dos "Zés", que viviam mais para sul.
Fazíamos uma "vaquinha", e dividíamos as despesas da viagem por todos.
Barata era assim naqueles tempos e hoje só tive a intenção, de reactivar a memória, dos companheiros nossos, que passaram pela saudosa BA7 de S. Jacinto nesses anos.
Um grande abraço para ti e todos os Zés Especiais, desta nossa cada vez maior Linha a Frente. Até breve
Augusto Ferreira