quarta-feira, 13 de agosto de 2008
O COTE.
368-Marques Lopes
Cor.Exército (DFA) Guiné
Caros camaradas.
No início das minhas férias (que já acabaram, ai, ai...) encontrei-me com um amigo guineense que veio de visita a familiares que tem em Portugal.
Chama-se Norberto Tavares de Carvalho, "O Cote".
Tem uma história interessante. Entre 1970 e 1973 foi estudante da Escola Industrial e Comercial de Bissau, tendo também trabalhado, em 72 e 73, como acompanhante na Ponte Cais de Bissau (trabalho nocturno); em 2 de Novembro de 1972 foi preso pela PIDE, por ordem expressa do General Spinola, na sequência de uma greve dos estudantes; em 8 de Maio de 1973 foi novamente preso pela PIDE, tendo sido condenado, em Setembro desse ano, a 3 anos de prisão e deportação para a Ilha das Galinhas (campo de concentração na Guiné para presos políticos).
Foi libertado a 3 de Maio de 1974, na sequência do 25 de Abril.Após a independência, foi dirigente da Juventude Africana Amilcar Cabral, tendo também trabalhado como funcionário público nos Arquivos da Segurança do Estado, entre Novembro de 1974 e Setembro de 1978, e sendo Comandante do Departamento Central da Migração em 1978-1980; foi preso em Novembro de 1980, depois do golpe de Nino Vieira de 14 de Novembro desse ano, tendo sido deportado, em Dezembro de 1982, para trabalhos forçados na ilha de Carache (nos Bijagós).
Foi libertado em 1 de Maio de 1983, tendo fugido para o Senegal em Julho desse ano.É exilado político na Suíça desde Novembro de 1983.
A alcunha de "O Cote" foi-lhe dada pela PIDE, disse-me ele.
Os seus pais eram empregados de um alemão de nome Cote que estava na Guiné, e começaram a chamar-lhe assim.
E é o nome por que ficou conhecido entre os seus camaradas do PAIGC.
Está a preparar um trabalho sobre aspectos da história da Guiné-Bissau, dizendo-me que encontra questões de muito interesse no nosso blogue, de que é leitor assíduo.
Perguntei-lhe, já depois do nosso encontro, se podia enviar as fotografias em que estamos juntos bem como a sua estória.
Respondeu-me que não vê inconveniente nenhum, "antes pelo contrário, a honra é minha" e "Fique djamtum e que a "Linha da Frente" continue a se expandir pelo blogue fora".
Penso que é de publicar o que vos conto.
Abraço
A. Marques Lopes