sábado, 6 de setembro de 2008

NOVA ESTÓRIA.


409-Américo Silva
Esp.Marme 1ª/69 Guiné
Angola



AUTORIZAÇÕES DE SAÍDA DA BASE
( Dispensas)

Ainda a propósito do Ten. Serafim dos Santos, como ele próprio se intitulava militarmente o “Ten. Brigadas” e na vida civil o “Marquês”, muitas estórias há por contar.
Hoje, lembrei-me desta:





Como todos sabem, cada vez que pretendíamos fazer as nossas incursões à cidade de Bissau, era necessário obter das chefias a respectiva autorização, entregar na secretaria da unidade o documento assinado pelo chefe e mais tarde ir receber já devidamente carimbado ou registado, o dito “papelinho” que, se a memória não me falha era “amarelinho” e nos dava o passaporte para as nossas idas à cidade, para os mais diversos motivos, como passear, comprar os “souvenirs”, ir beber e comer as deliciosas ostras com molho de limão acompanhadas de cerveja, no Espadinha”, acabando-se por jantar no Pelicano, no Solar dos 10 ou naquele snack-bar com pista de carros telecomandados, intervalando com uma “francesinha” comida com gosto, que nos fazia esquecer por momentos a comida rotineira da messe.
É claro que, para alguns, a noite terminava lá para os lados do Pilão, em aventuras que hoje duvido que alguém as repetisse...
Enfim, a juventude e a irreverência própria daqueles tempos é que nos acompanhava nessas aventuras sem pensar.
Não é por acaso que existe a máxima: “Deus protege os audazes”.
Com todos os perigos que se corriam ao visitar aquele bairro da periferia, sem se tomar quaisquer medidas de segurança, só mesmo Deus nos protegia do pior.
Todos os MAEQ, no meu tempo, tinham dificuldade na obtenção das dispensas, pois o Ten. Serafim, de manhã, encontrava-se invariavelmente “incomodado” no seu quarto e para isso, afixava um papel na porta, avisando logo quem tivesse intenção de bater nela ou de a abrir.
É que a chave francesa enorme que guardava em cima da mesinha de cabeceira do tenente, rapidamente ganhava asas...num voo até à porta.
Para grandes males, grandes remédios.
A forma mais prática que encontrei e que pessoalmente me resolvia o problema, foi começar a imitar “falsificando” a assinatura do Tenente.
Eu, que até tinha jeito para o “traço”...era “canja”.
Só que o pessoal começou a perceber que, recorrendo aos préstimos do Américo, também tinham o seu problema resolvido e aquela prática começou a ganhar “clientela”...
Até ao dia em que o Ten. Serafim, por qualquer motivo que não se sabe e contrariando todas as rotinas..., na véspera resolveu deitar-se sem passar pelo bar ou visitar a cidade e no outro dia acordou na melhor das disposições.
Avançou para os hangares e ao verificar os presentes, estranhou a falta de alguns camaradas, pois que não se recordava de lhes ter assinado a respectiva dispensa.
Foi uma “luta” entre a posição dele e a nossa tentativa em convencê-lo de que havia assinado todas as dispensas dos ausentes e não se lembrava.
É claro que ficou vencido mas não convencido, mas felizmente não aprofundou o assunto.
Como tudo que é bom não é eterno, também o nosso truque “morreu” naquele dia...
Em conclusão, devo dizer que os candidatos a ausentarem-se, eram aqueles que, por direito próprio e por “escala de serviço” tinham essa possibilidade e que os restantes, garantiam o normal funcionamento dos serviços, não se aproveitando por isso, para se “baldarem”.
Lá onde se encontra, que me perdoe e descanse em paz.
Acho que ainda hoje consigo imitar a assinatura do Ten. Serafim dos Santos.

Américo Silva