quarta-feira, 3 de setembro de 2008

ATAQUE NOCTURNO.


402-António Damaso

SargºMor Paraquedista (Aposentado)

Odemira









Companheiro Barata


Não me mandaram vir, portanto não obrigados a aturar-me.
Fui eu que por acaso aterrei de para-quedas no vosso Blog.Aí vai a parte (II) da minha segunda comissão na Guiné:Nos dias 17 a 19JUL69, outra vez na zona de Palada concretizamos a operação «Marduque» desta vez só com a CCP123.
De 24 a 30JUL69, operação «Atena», zona de Duas Fontes e Palada, com a participação de 3GC da CCP123, 1GC da CCP 121 e a C. Caç. 2446.
Depois apareceu a minha grande dor de cabeça, que era a Guerra de quadrícula, sempre tive o entendimento de que as tropas especiais, eram para intervenções rápidas, ou não, também para servirem de reserva, mas pelos vistos, a situação não estava para brincadeiras.
Comecei a operação «Nereu» 1.ª fase que foi de 31JUL a 31AGO69nas zonas de Madina do Boé, Dulombi, Bilonco e Madina Xaquili, aturam connosco além da CCP123 a C.caç. 2405 e C. Caç. 2446.
Lembro-me que numa das operações de dois dias, tivemos de atravessar o mesmo rio, quatro vezes seguidas, para não andarmos mais Kms a contorná-lo, chegamos a Galomaro já depois do meio dia mas tínhamos à nossa espera uns franguinhos de churrasco.
A fome era tanta, que nunca mais comi frangos que me soubessem tão bem.
No decorrer deste período, ou não, julgo que a 24JUL69,não posso precisar a data, um dia à tarde chegamos a Dulombi, na altura era uma tabanca com algumas palhotas com abrigos, valas e arame farpado à volta, com uma espécie de portão de entrada na estrada de Galomaro a poente e a sul outro portão que dava para a mata, íamos passar lá a noite e de futuro serviria de acampamento base.
Sempre tive um acordar estremunhado quando estava no primeiro sono, mas naquela noite, quando estava no primeiro sono, fui acordado com um festival de fogo - de -artifício, rebentamentos por todo o lado, balas tracejantes cruzavam o céu, o meu acordar foi igual a outros mas notei que o meu maxilar inferior, teimosamente batia ritmadamente no maxilar superior, durou alguns segundos até me aperceber do que se estava passar, rapidamente cerrei o os dentes e analisei a situação e vi que o ataque não era do nosso lado, mandei cessar o fogo que estava a ser efectuado para o lado do portão sul.
A minha secção estava na parte sul, onde existia o tal portão, as balas tracejantes passavam por cima de nós, apesar de muitos rebentamentos à nossa volta, ninguém foi atingido, liguei o rádio, chamei como não obtive resposta, desliguei, quando estava a preparar-me para dormir novamente, apareceu-me um camarada a saber se estava tudo bem, escandalizado por eu não ter mantido o rádio ligado, nessa altura fiquei a saber que o ataque foi efectuado do arame farpado, à esquerda da entrada e que lamentavelmente, havia a lamentar uma baixa da C. Caç.2446, começara aqui o meu baptismo de fogo a ataques nocturnos.
Também estivemos em Bivaque, em tendas de campanha junto do aquartelamento de Galomaro, depois iniciou-se a operação «Nereu» 2.ª fase de 01SET a 11OUT69, novamente em conjunto com as duas companhias já citadas e nas zonas de Duas Fontes, Cansissé, Contabane e Pelada.
Durante a minha permanência no Gabu, fui duas vezes a Bissau à boleia, uma vez de Heli e outra de Cessna?? dos TAGCV, para tentar resolver problemas de saúde familiar, regressei ambas as vezes em DC 3 Dakota, com o nosso saudoso companheiro Vitorino, meu vizinho na altura, depois da guerra veio a ser vitima de acidente aéreo na Ilha Terceira com um aviocar.
A minha mulher teve malária, teve de ser internada no Hospital Civil em Bissau, depois de curada ficou com os nervos em franja, enfrascava-se em comprimidos e tinham de ser as vizinhas a tomar conta da minha filha de 18 meses, situação que me levou a requerer a passagem ao SG da FAP, tendo a mesma sido indeferida posteriormente.
Findos os três meses, os oficiais e sargentos seguiram rumo a Angola e as praças foram integradas nas Companhias existentes no BCP12, eu fui transferido para a CMI.
Coincidência ou não, baixei a guarda e como resultado, em 14 de Abril fui punido com 5 dias de prisão e em vez de iniciar o cumprimento da pena, fui de imediato transferido para a CCP 121 de que o citado oficial era comandante.
No dia 16 fui a caminho do Guilege que já na altura estava a ferro e fogo, não havia nada para comer a não ser feijão com chouriço, eu andava de diarreia, nem os ataques com morteiros 120 me tiravam das latrinas, quando saia para o mato levava o tempo de" calças na mão".
A fome era de tal ordem que os cães na tabanca começaram a desaparecer, uma hiena que caiu numa armadilha foi comida e até os abutres, diziam os rapazes que de vinho e alhos, eram um pitéu, quem lá esteve nesta data sabe que isto não é invenção.
Neste período tomei parte nas seguintes operações:Operação «Lobo Verde» de 20 a 30ABR70 na zona Guileje e Gadamael Porto também tomaram parte a C. Caç. 2617 e C. Art. .
Operação «Lacrau Verde», 29ABR70, no Corredor do Guileje, juntamente com uma equipa de sapadores do B. de Art. 2866, nesta operação fomos ao local onde o in tinha ido com uma viatura carregada de granadas que despejou sobre o aquartelamento, seguidamente fomos ao Corredor colocar minas anti-carro.
Operação «Leão Verde» 30ABR70, no Cantahez, fomos até Gadamael Porto de viaturas e depois de Heli-assalto, não houve contacto, destruímos acampamentos.
Muito tempo depois, vim a saber que aquela minha ida repentina para o Guileje tinha sido um teste porque a vontade de alguém, era correr comigo para o Exército, destino que muitos camaradas tiveram.
Iniciei em 2 de Maio o cumprimento da pena e fiquei a aguardar transferência por motivos disciplinares para o BCP32 em Nacala tendo começado por me desfazer do calhambeque que tinha comprado na sucata e de dois fiz um, um Peugeot 203, com motor de 403, que bastante trabalho me tinha dado a recuperar, vendi então a viatura e algumas peças de mobiliário a um Sr. Tenente Especialista da FA que tinha acabado de chegar à Província e ficou com a casa onde eu morava, claro que exigi o pagamento em escudos em vez de "Pesos".