quarta-feira, 3 de setembro de 2008

O ROQUETE DA CONFUSÃO.




399-Américo Silva
Esp.MARME 1ª/69 Guiné

Angola




O ROQUETE DA CONFUSÃO.

Nos tempos em que pertencia a uma das equipas da linha da frente, recordo-me dum episódio trágico-cómico que certa vez se passou, precisamente na placa junto aos “T6”, mesmo em frente do hangar dos Fiats.
Era de manhã cedo e a equipa de Armamento de serviço, preparava uma parelha de “T6” com ninhos de lança-roquetes, para mais uma saída destas aeronaves.



O trabalho era rotineiro, tantas vezes era efectuado aquele tipo de trabalho.
Consistia em colocar os lança-roquetes, de 37mm se a memória não me falha..., um em cada asa, proceder à sua fixação, apertando os 4 parafusos de ajuste e finalmente testar o sistema eléctrico que faria accionar o disparo dos referidos roquetes.
Os contactos eléctricos existiam, um na parte da frente ( 1 ficha de contacto) e outro na traseira, 2 fichas de contacto.
Para realizar o referido teste, um dos mecânicos “saltava” para dentro do cockpit, ligava a bateria do avião, seleccionava os roquetes em posição tiro-a-tiro ou salva e dava ao gatilho, não sem antes confirmar se os contactos traseiros do lança-roquetes estavam desligados (retirados) e por questões de bom senso e segurança, fazia o teste na posição de tiro-a-tiro.
Calhou ser eu a “saltar” para dentro do cockpit enquanto o meu camarada Vouga que era de Sintra e tinha a alcunha do “olhinhos”, ia ajustando os ditos parafusos de fixação.
A posição do Vouga enquanto apertava era precisamente com a barriga encostada à frente do lança-roquetes completamente descontraído.
Já sentado na cadeira do piloto, ligo a bateria, selecciono o lança-roquetes, posição de tiro-a-tiro e pergunto se está tudo ok ?
A resposta saiu afirmativa e antes de premir o gatilho, olhei uma vez mais para fora do avião e ao reparar que o Vouga se mantinha na mesma posição, gritei para ele, aconselhando-o a colocar-se de lado, não fosse o Diabo tecê-las...
O Vouga obedecendo à minha indicação, desviou-se para o lado, percebendo também que as boas normas de segurança assim obrigavam e então sim, premi o gatilho.
De imediato ouviu-se um estrondo... PUUMM...
O Vouga olhava para mim, não com os “olhinhos” mas com uns autênticos “faróis”..., branco, amarelo...tremendo, entretanto o pessoal que se encontrava junto da entrada do hangar, bebendo e comendo, ali junto ao bar improvisado, fugiam uns para cada lado, pensando talvez que seria um ataque do PAIGC e eu, fiquei como que bloqueado, pensando apenas no que tinha sido feito de errado?
O roquete disparado (felizmente que foi tiro-a-tiro, imagine-se se fosse “salva”...), devido à inclinação do T6 estacionado na placa, entrou pelo hangar dentro e saiu pelo telhado, indo parar lá para os lados dos pavilhões-dormitório do pessoal.
Agora teríamos que verificar qual o motivo da saída do roquete, sem demora pois o tenente Serafim dos Santos não iria demorar.
A origem do problema foi rapidamente detectada. Alguém se havia esquecido de desligar os contactos traseiros, pois os dianteiros, esses ficavam sempre ligados para se ouvi o ruído do motor no interior do lança-roquetes.
O erro estava assim identificado. Tinha havido falha humana e isso naqueles tempos e naquelas situações não era passível de desculpa.
Rapidamente se desligaram os ditos contactos, todos fizeram “cara de inocente”... e aguardou-se pelos momentos seguintes.A unidade entre o pessoal resultou em pleno, não se chegando nunca a saber oficialmente qual a verdadeira origem da anomalia, tendo os mais “esclarecidos”
opinado: - provavelmente foi devido à elevada percentagem de humidade do ar (o maldito cacimbo...), que provocou o acidente.
E assim foi lavrado o auto da ocorrência pelo ten. Serafim dos Santos, sem que alguém tivesse sido punido.
Felizmente que apenas houve danos materiais e uns bons sustos do pessoal.
Algum tempo depois, já na Metrópole, em 1974, vim a encontrar-me novamente com o já Capitão Serafim dos Santos no C.T.A. (Campo de Tiro de Alcochete).
Como velhos amigos e camaradas de profissão, nos finais da tarde, costumávamos beber umas cervejas e conversar, recordando o nosso tempo da Guiné.
Numa dessas conversas contei-lhe o sucedido.
Ele, depois de ter engolido em seco..., olhou para mim e com um leve sorriso, disse:
- ahh seus malandros!
É claro que ambos rimos e continuámos amigos como sempre.




Américo Silva



VB: É verdade,Américo lembro-me perfeitamente desse episódio só não sabia é um dos protagonistas do filme eras tu.
O bar a que te referes era o Sargº dos Fiat's,ganhou uma fortuna com aquele negócio dentro do hangar.