quarta-feira, 17 de setembro de 2008

O VINHO DA DISCÓRDIA.


435-António Damâso
SargºMor Paraquedista Guiné
Odemira




O VINHO DA DISCÓRDIA
Nos últimos dias que passei no Gabu em Setembro de 1969, estava a minha C.ª CCP 123,Aquartelada em Galomaro, em tendas de Campanha.
Resolveram ir fazer uma Guerra lá para os lados de Dulombi, era um grupo da CCP 123 e outro da CCAÇ 2446, era para permanecer lá uns dias e Dulombi era a Base operacional.
Fui chamado ao meu Comandante de C.ª que me pôs ao corrente da operação e me incumbiu de fazer de vague mestre, rancheiro ou como lhe queiram chamar.
Aquilo para mim era novidade, nunca tinha desempenhado tal tarefa, mas a tropa manda desenrascar, por saber cozinhar não me atrapalhei, fui ter com o responsável pelo Depósito de Géneros do Aquartelamento de Galomaro e lá fiz um acerto com ele, tendo em conta o n.º de homens e o n.º de dias para definir as quantidades de géneros a levar, na relação houve três coisas que eu fiz questão de levar que foram: Farinha, vinho e cerveja, porque já lá tinha estado e sabia que a água não prestava, e que um pouco de vinho à refeição assentava bem e ajudava a tragar o que nos era dado para comer, falando em água na Guiné, onde havia uma boa água levezinha era em Mansabá.
Carreguei os géneros todos numa viatura, mais uns tachos e umas panelas e apetrechos necessários e não sai mais de junto dela porque sabia de alguns rapazes eram capazes, arrancamos caminho de Dulombi e a primeira coisa a fazer depois de descarregar os géneros, pedi três colaboradores ao Alferes da CCAÇ 2446,ele era jovem Açoriano Regente Agrícola, peguei neles, fomos amassar uma boa quantidade de barro e fizemos um forno para cozer pão, logo lenha para dentro e acendeu-se para secar e digo que se fazia lá um bom pão.
Em Dolombi havia um poço estreito, pouco mais largo que um bidão, com tanta tiragem a agua ficou barrenta, de tal maneira que fizemos uma refeição que ficou vermelha e perguntaram se lhe tínhamos posto tomate ou colorau, a partir dali tivemos de utilizar a água do riacho.
Comecei a distribuir vinho às refeições, o vinho era posto a olho nos cantis, havia uns que recebiam mas depois davam a outros e houve alguns que lhe subiu à cabeça.
Eram Madeirenses e não ligavam lá muito bem com o Alferes, arranjaram uma discussão de tal ordem que estavam preparados para lhe "chegar a roupa ao pelo", aí tive de me meter, engrossar a voz e metê-los na ordem sem utilizar violência.
O que ganharam foi que a dose de vinho foi reduzida e passei a fiscalizar a distribuição, durante 20 anos que estive na Tropa lidei com milhares de jovens de todo o País, mas" levados da breca" como aqueles nunca tinha visto.
No fim da estadia carreguei os restos e fui devolver em Galomaro.
Saudações Aeronáuticas,
Dâmaso