segunda-feira, 20 de outubro de 2008

487-PARAFUSOS.


António Dâmaso
SargºMor Paraquedista Guiné
Odemira
Alguém disse que a palavra parafuso dava uma mistura explosiva entre páras e fusos.
Apesar do que aconteceu na Guiné em 1967, recordo o sentido desta palavra quando em 64/65 estive em Angola, existiam dois quartéis lado a lado em Belas, Luanda, em que funcionava uma camaradagem fraternal.
Os páras utilizavam os transportes dos fusos e vice-versa, havia visitas de parte a parte, eu próprio cheguei a ir visitar o quartel dos fusos onde fui muito bem recebido, pelo que discordo da mistura explosiva.
Sempre tive grandes amigos na Marinha em geral e nos Fuzileiros em particular, em 73/74 na Guiné, morei junto do Clube de Sargentos da Marinha que frequentei muitas vezes, também fazia compras na Cantina da Marinha.
Quanto ao triste episódio de pancadaria em Bissau em Junho de 67, que descambou com a morte a tiro de dois páras, no meu entender, por vezes existem alguns tipos manhosos que se valeram da força e ingenuidade de outros, espalham a confusão e depois ficam de fora a gozar o "prato" e acho que teve mais a ver com hooliganismo do que rivalidade propriamente dita.
Na data eu estava em Bissalanca, haviam fusos que jogavam basquete, andebol e futebol de salão em alguns clubes mas mais na UDIB, com páras era o mesmo mas criaram as equipas que julgavam no ASA recentemente criado, os Asa ganhavam quase tudo, com a continuação começaram haver umas bocas, até que descambou e deu no que deu.
Nessa altura só existiam duas Companhias de páras operacionais a 121 e 122, depois de um jogo houve meia dúzia de páras que foram barbaramente espancados pelos fusos, depois os páras sentiram-se na obrigação de tirar a desforra.
Lembro-me da existência de uma formatura, para tentar acalmar os ânimos mas não resultou, segundo um dos intervenientes, o Pedra Dura um individuo com cabedal e depois de picado pelos outros, disse ter sido ofendido por um fuso que lhe chamou filho da pu.. e lhe cuspiu na cara, então respondeu com uma cabeçada e um murro que o outro aterrou de imediato, isto foi o rastilho, os páras tinham ido preparados alguns com aparelhos de gesso no punho, para fazerem mais mossa e levaram tudo pela frente.
Depois alguns fusos fugiram para o Quartel e foram buscar as armas emboscaram e começaram a disparar para quem tivesse farda de pára, causaram duas baixas mortais, dois páras que não estavam envolvidos apenas tiveram o azar de estar no local errado na hora errada, aí os páras ficaram possessos tentaram ir buscar as armas, mas o oficial dia cumpriu a sua obrigação e não deixou sair nenhuma arma, a coisa ficou por ali.
Nessa noite eu estava de mecânico dia, deixei um papel na porta a dizer onde estava e fui para o clube de Sargentos da BA 12 e estive a jogar dados e ramy com outros sargentos de serviço, ainda bem que passei um pouco ao lado da confusão.
Um dos Unimogs que fazia o transporte de pessoal, quando andava a recolher páras feridos, ficou com o para-brisas furado e vários buracos na chapa, a sorte do condutor foi ser magricela e de baixa estatura, pelo que não foi atingido.
Na tropa quando aconteciam casos destes, levantamentos de rancho, outros, procura-se arranjar um bode expiatório que e´severamente punido e assunto fica por ali, este desgraçado foi entregue à PIDE e segundo ele, foi brutalmente espancado várias vezes que lhe fracturaram algumas vértebras, causa-me alguma estranheza porquê os chefes militares deixaram este soldado entregue à sua sorte.
Mais recentemente na Margem Sul do Tejo, um fuzo abateu a tiro um pára, após lhe ter feito uma espera, não lhe dando qualquer possibilidade de defesa, alegando que este o tinha ameaçado de morte, cenas destas entristecem-me ensombrando o espírito de camaradagem existente entre nós, enfim como se costuma dizer,"há sempre alguém que borra a pintura".
Saudações inter-armas.
Dâmaso
VB. Pois é Dâmaso,foi a irreverência da idade e o empurrar-nos para uma merda de uma guerra que só servia alguns.
Nós,os Especialistas,também éramos conhecidos pelos parafusos por causa do bivaque que nos uniformizava.