quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

646 RECORDAR JOSÉ EDUARDO LOPES COIMBRA.


Luís Filipe Santos
1ºCabº Enf. 1ª/68 Tete
Agualva - Cacém




Amigo Victor, como sempre que tenho um pouco para parar, e dar o meu contributo para que a história da FAP, seja contada e não esquecida, por aqueles a que a Guerra do Ultramar, nada lhes diz, e que querem passar um pagina em branco da nossa história recente, em que todos nós demos o nosso melhor, nas piores condições, com as nossa limitações no limite do aceitável a qualquer mortal comum.




José Eduardo Lopes Coimbra

Em Outubro de 1971, preparou-se um heli, para operar com o Canhão.
Era necessário um artilheiro para operar com ele.Ofereceu-se como voluntário o 1º Cabo MAE JOSÉ EDUARDO LOPES COIMBRA.
A semana, foi passando e os preparativos para o derradeiro dia estava para breve.
Todos nós notavamos um certo nervosismo da parte do Coimbra, dado que era a primeira vez, que ia operar com o canhão.
O Coimbra era um colega muito querido e estimado por todos os Zes, era um homem muito bem disposto, sempre com um ar alegre e , amigo do seu amigo, de boas maneiras para todos, com bom coração.
Fazia amigos em toda a parte a onde ia.
Um dos amigos mais chegado ao Coimbra, era o Victor Manuel Castelo Parreira, que era o mecânico de bordo do Heli canhão.
Ficou um pouco apreensivo em o Coimbra ir no heli e ele não, queria a toda a força, também ir e participar na operação que se ia desenrolar, e que era de alto risco.
O Comandante da base, na altura, salvo erro era o Ten. Cor. Pil Av. Victor João Lopes de Brito, tanto do comandante, como os pilotos da base e todos os colegas, eram unânimes, que o Parreira, não deveria voar nesse dia da operação, uma vez que do lado direito, a cadeira, era retirada, para assim o canhão e toda a sua envolvência, pudesse tomar toda essa área.
Fizeram-lhe ver que a sua segurança correria perigo caso algum percalço surgisse, mesmo assim, dizia: eu posso ser útil, e mesmo assim, posso viajar em cima da caixa das munições.
O Coimbra dizia-lhe: è pá não concordo contigo, gosto muito da tua companhia, mas é muito arriscado para ti porque não tem cinto de segurança.
Eu estou preso com um cinto, á fuselagem, para assim poder a qualquer momento, poder fazer a substituição do cano do canhão, mesmo assim é muito arriscado, quanto mais tu, que vais sem cinto de segurança.
Mesmo assim, levou a dele avante, e lá conseguiu o que queria, voar junto com o Coimbra.
A operação estava a desenrolar-se com êxito, estavam a operar no terreno, Paras, Fuzileiros e Infantaria.Havia um rio, que não posso precisar o seu nome, porque já lá vão muitos anos, penso que para os lados de Xipera ou Sadzo.
Numa das passagens do heli, rio a baixo rio acima, havia um cabo em aço que ficava uns metros acima da linha de água, cabo esse que servia para medir a linha de água, no tempo das chuvas, não estava assinalado na carta de voo.
Em pleno voo, o piloto, Alferes, penso que se chamava Carlos Cruz, ao aperceber-se do referido cabo, puxou o manche, para fazer uma rápida subida, mas estava muito perto e não teve a recuperação que pensava ter, o rotor, bateu no cabo, que o cortou de seguida e o heli caiu como uma pedra no leito do rio.
O piloto salvou-se - apenas tinha algumas escoriações.
O Coimbra e o Parreira, ambos sofreram fracturas de crânio e faleceram no local.
O Coimbra, foi retirado dos destroços e na margem do rio, as suas ultimas palavras: Dêem-me água.......!!!!
A noticia caiu com um raio no AB7, ficamos todos em estado de choque, vi colegas, alguns errantes de um lado para o outro como de Zombeis se tratassem, chorando a triste sorte destes colegas.
Eu também chorei, eram colegas muito amigos, que os perdi para sempre.
Que as suas almas repousem em paz.
Quem esteve la nesta data deve lembrar-se deste episódio.
Um abraço para todos.
Luís Santos
Ex 1º Cabo Enfermeiro AB7 Tete
VB. Luís,mais uma vez a tua sensibilidade para este tipo de situações,e que deves ter tantas,pois a tua especialidade de enfermeiro a isso te obrigava,te faz contar esta história de dois Companheiros que viste partir na flor da sua juventude.
Todos nós,infelizmente,participamos em acções destas,levantemos as mãos para Deus por nos ter protegido e que aqueles que levou para junto de si,os guarde no lugar que eles merecem.
Um nos encontraremos,Companheiros!
Até lá,Paz à vossas almas.