quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

764 OS ACIDENTES E O LUTO NA BA 12 EM ABRIL/73.


Victor Barata
Esp.Melec/Inst./Av. Guiné

Vouzela - Viseu
VB. Em Abril de 2007,enviei este artigo ao meu ilustre amigo Luís Graça sobre a "maré negra" que nós (FAP) atravessamos na Guiné em Abril/73,semanas antes da "Retirada do Guileje",hoje tão discutida com diversas opiniões:

Sobre o assunto relacionado com a morte do Fur Pil Av.Baltazar, no dia 13 de Março último enviei-te uma resenha dos trágicos acontecimentos aéreos da Guiné, mas tu, pelo que vejo, não te recordas. Acredito, pois o teu esforço e boa vontade são para mim um grande orgulho de camarada de Guiné.
Já agora aproveito para esclarecer que o Baltazar não faleceu no dia 8 de Abril de 4 de 1973 , mas sim no dia 6, pelo menos é este o registo que tenho na minha caderneta de voo.
Como te digo nesse email que não publicaste, fui eu que fui fazer a evacuação dos seus restos mortais.
Ainda quanto ao que me perguntas: voei algumas horas com o Baltazar, tendo ele se mostrado sempre um piloto qualificado. Obviamente que existe sempre uma fase de adaptação ao chegar-se a um quadro de guerra...
Obrigado, se não for antes até ao dia 28 de Abril de 2007, em Pombal.
"É preciso ir fardado ou...vimos com farda!
"Um abraço.
Victor Barata
O Luís respondeu-me assim:
Victor, já ficou tudo esclarecido entre nós: o teu mail de 13 de Março nunca me chegou à caixa do correio, pelo simples facto de te teres enganado no meu endereço.
Também não recebi as fotos para a fotogaleria da tertúlia.
Reproduzo agora esse mail, para conhecimento dos nossos amigos e camaradas:

Luís:
Depois que te enviei as fotos (de ontem, como militar, e de hoje, como civil) - que ainda não foram publicadas mas espero que tenham chegado,pois posso não ter feito a operação bem feita e pensar que enviei e não ter chegado - nunca mais te contactei...
Hoje resolvi contar uma passagem na Guiné.
Se entenderes que é matéria para publicar, publica...
O risco aéreo no teatro operacional de guerra da Guiné foi sempre um ir e não voltar, não só pela vertente da luta que diariamente era travada, como também pelo acidentado geográfico.
Apesar de plana, a Guiné tinha a cota mais alta, de 300 metros, em Madina de Boé!
O nosso maior inimigo, de todos os tempos, foi visto pela primeira vez no dia 29 de Março [?]de 1973 em Compada, pelo Ten Coronel Pilav. Brito, Comandante do Grupo Operacional da BA12 e pelo Ten.Pilav. Pessoa: chamava-se míssel terra-ar STRELLA!
Quis o destino que estes dois homens fossem as primeira vítimas desta peça de fogo, primeiro em 20 de Março de 1973, o Te. Pilav. Pessoa que se ejectou juntamente com a sua cadeira de cabine e desceu de paraquedas, vindo a ser encontrado no dia seguinte pelo grupo de Marcelino da Mata,com participação do então Ten Cor Almeida Bruno(julgo que na altura tinha esta patente)e o Cap paraquedista António Ramos, adjunto de campo do Gen Spínola.
Pior fim, em 28 de Março de 1973, teve o Ten Cor Brito: faleceu!
Precisamente aquele que nunca acreditou na existência de tal arma, dizia que era um RPG,veio a tombar quando fazia uma missão de bombardeamento,se a memória não me atraiçoa... Era um grande Homem,Comandante e Piloto,senhor de invejáveis capacidades...
Enfim, criou-se clima de consternação no seio do Grupo Operacional.
Mas eis que surge o macabro dia 5 de Abril de 1973, que nos dita novamente, e em tão curto espaço de tempo,o LUTO! Faleceram o Fur Pil Av Baltazar em DO27 e Maj Pil Av Montovani em T6, e é dado com desaparecido o Fur Pil Av Ferreira em DO27!
Recordo ter evacuado os restos mortais do Fur Pil Av Baltazar de manhã e, à tarde, fui a Bissau. A esposa estava na paragem do autocarro sem nada saber,as lágrimas correram-me pela cara a baixo: Que vida perdida aos 20 anos!
O Fur Pil Av Ferreira,ouvi dizer que tinha sido entregue com a independência da Guiné.
Será que algum camarada da nossa Tertúlia me poderá confirmar esta excelente notícia?
Sei que ele era de Paços de Ferreira.
Estava instalada a instabilidade no seio da comunidade da base, ligada ao Grupo Operacional: pilotos,mecânicos e atiradores de helicanhão.
Recordo que houve uma certa repulsa às saídas e, como tal, havia que fazer algo para nos motivar e dizer que era a vida onde estávamos inseridos.
Era Comandante da BA12 o Cor Pilav Gualdino Moura Pinto (já falecido). O 2º Comandante era o Ten Cor Pilav José Lemos Ferreira.
Aquele, com as virtudes que lhe eram reconhecidas de um GRANDE COMANDANTE,de imediato reuniu os pilotos das esquadras ,para fazer um ponto de situação, dizendo que também estavam todos a defender a mesma causa.
Tanto assim que durante esta reunião foi solicitada uma evacuação à Zona e foi ele mesmo fazê-la!
Este SENHOR foi punido pelo Gen Spínola, motivando o seu pedido de passagem á reserva, seguindo depois uma nova carreira como Comandante da TAP.
Cumpríamos as nossas missões mais arriscadas com a certeza de estarem a contribuir para a sobrevivência dos camaradas que,em terra,no mato,nos rios, enfrentavam o inimigo,defendendo a ordem que a razão nem sempre compreendia, e muitas vezes actuando-se por iniciativa própria.
Obrigado, Luís.
Um Abraço
Victor Barata