quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

766 HISTÓRIAS DE ACELERÓMETROS E AS CADEIRAS MARTIN.BAKERS.



Miguel Pessoa
Ten.Pilav. (Hoje Cor.Pilav.Reformado) Guiné
Lisboa


Caro Victor
Como habitualmente estive a percorrer o blogue e chamou-me a atenção o texto do companheiro João Carlos Silva (Post 757) sobre os acelerómetros(*) e cadeiras de ejecção, e isso fez-me lembrar um pormenor curioso dos tempos da Guiné pós-Strela.
Face à nova ameaça e à necessidade de se efectuar recuperações mais agressivas (significando isto mais G's(**) metidos no avião na saída dos passes...) foi recomendado aos pilotos que "apertassem" no mínimo 3 ou 4 Gs nessas manobras (já não me lembro do valor exacto, que os neurónios já estão a ficar gastos) para garantir uma operação minimamente segura.
Depois de um Fiat ter sido abatido em Copá (em 31JAN74), por supostamente o piloto ter "facilitado" um pouco na recuperação (permitindo, pelo pouco aperto exercido, a perseguição do míssil e o impacto directo deste no avião), o Comandante do GO, para garantir que o pessoal acatava minimamente essas instruções, decidiu mandar frenar os acelerómetros.
Assim, com arame de frenar, antes de cada missão era bloqueado o botão que punha os ponteiros a zero; quando aterrávamos o acelerómetro mantinha a indicação do número máximo de Gs metidos durante o voo (mesmo que nós quisessemos "limpar" a leitura registada).
O registo das leituras era levado diariamente ao Comandante do Grupo.
E os pilotos que não tivessem cumprido a regra arriscavam-se a ser chamados ao GO para explicar o facto e eventualmente levar uma "rabecada", por terem sido descuidados.
Não me lembro de alguma vez ter sido chamado por causa disto, que ordens destas eu cumpria-as sempre e com todo o meu empenho...
Já agora, sobre a cadeira de ejecção Martin-Baker: Naquela época a cadeira ero do tipo 0/90, i.e., era efectiva com um mínimo de 0' (pés) de altitude e 90 nós de velocidade e, accionada, aplicava uma carga de 18 Gs instantâneos no corpo do piloto - por isso a compressão de vértebras que por vezes provocava.
Como curiosidade lembro-me que além de ter "visto as estrelas" na altura, mais tarde tive que mandar arranjar o meu relógio, devido ao facto de o ponteiro do cronómetro parar na marca dos 25 segundos, por ter ficado dobrado... (Acredite quem quiser, que isto é mesmo verdade!). Reparado, o relógio ainda hoje trabalha e queixa-se menos das costas do que eu...
Um abraço.
Miguel Pessoa



(*)Instrumento que mede
acelerações submetidas
ao avião


(**)1 G é igual a 9,8m/s