quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

780 O CAIANO FALOU COM O LUIS GRAÇA.



Luís Graça
Fur.Mil. Exercito Guiné
Editor do Blogue" Luís Graça e Camaradas da Guiné"
Lisboa


VB.Sobre o acidente do Allouet III ocorrido na Guiné em 25 de Julho de 1970,diversas versões já foram apresentadas e discutidas.
Surge-nos agora,através do Luís Graça,o depoimento do Jorge Caiano Esp.MMA,mecânico e tripulante de um dos Helis que voava em formação com o acidentado,o depoimento de quem viveu o sinistro:



No passado dia 31 de Janeiro, sábado, por volta da hora do almoço, recebi um telefonema do Jorge Caiano (espero ter ouvido bem o nome) que era o mecânico do heli do Alf Pilav Manso, no dia 25 de Julho de 1970... Ele informou-me que tinha chegado ao conhecimento do nosso blogue através do blogue do Victor Barata...
O Caiano vive no Canadá, na região de Toronto, desde 1974. É, portanto, um português da diáspora. Nascido em Louriçal, Pombal, foi cedo viver para Aveiro. Tem hoje cerca de 60 anos.
Na tropa, era mecânico da FAP, esteve na BA12, Bissalanca, cerca de 22 meses (1969/70). Regressou em Novembro de 1970.
Prometeu mandar-me um mail. Não está muito familiarizado com a Internet. E eu prometi resumir, no nosso blogue, a conversa que tive com ele ao telefone. Manda um abraço para todos os camaradas da FAP e em especial para os pilotos Félix e Coelho, que ele conheceu em Bissalanca e com quem voou (mais com o Coelho do que com o Félix).
Eis, no essencial, a conversa que ele teve comigo, ao telefone, sobre o trágico acidente do ALL III, que causou seis vítimas mortais:
Por decisão do comandante da esquadrilha, o Cap Pilav Cubas, e aparentemente por uma questão de peso, o Caiano seguiu com ele e não com o Alf Manso, na viagem de regresso a Bissau... (Em princípio, era aos mecânicos que competia avaliar o peso dos helis. Mas neste caso, o Jorge teve que seguir as ordens do seu comandante).
Ia o Manso à esquerda, o Cubas ao meio, o Coelho, à direita. Os três helis voavam em formação quando foram apanhados por uma tempestade tropical. Havia muito pouca visibilidade. Mas deu para ele, Jorge Canao, se aperceber de uma pequena explosão ("uma chama") no interior do heli do Manso. Segundo a sua teoria, o passageiro ao lado do piloto (um dos deputados ? o oficial do Exército ?) deve ter accionado a alavanca do gás (sic). Por inadvertência ou pânico...
O Manso, que era periquito (tinha chegado há dois meses), deve ter perdido o controlo da situação...
O Jorge Caiano foi testemunha deste caso em tribunal militar. E lembra que, a partir daí, a FAP proibiu que os passageiros viajassem, nos helis, ao lado do piloto, no lugar do mecânico. Os oficiais do Exército (e s0bretudo os oficiais superiores) gostavam muito desse lugar por que tinha uma vista panorâmica. Via-se muito melhor a paisagem....


O heli do Manso despenhou-se no Rio Mansoa,, "por volta das 15 horas", do dia 25 de Julho de 1970 (não parece ter dúvidas sobre a data), tendo morrido ou desaparecido 4 deputados da Nação (incluindo o Dr. Pinto Leite, chefe da chamada ala liberal), além do Manso e de um oficial do exército do QG. Um dos deputados era o guineense Pinto Bull, que também tinha um filho, mecânico da FAP, a cumprir o serviço militar na Guiné (Bissalanca,a BA12). Por sua vez, a mulher do piloto era pressuposto chegar de Lisboa, no dia seguinte.
O Jorge confessa que deve a vida ao destino, à troca de lugar, imposta pelo Cap Pilav Cubas. Essa foi a razão por que ainda hoje está vivo, diz ele, do outro lado do telefone... E acredita que o destino marca a hora. Este acidente de guerra marcou-o para toda a vida.
O Jorge vive perto do Toronto. Responde-me que a crise também já chegou lá. É amigo de alguns tipos da minha terra, Lourinhã, como o Manuel do Rosário (que ainda é meu parente afastado e do meu tempo de escola) e do José Jorge.

VB. Obrigado Luís por nos fazeres chegar este email do Caiano.
Pois sabíamos que ele tinha partido em tempos para fora do país,não sabendo concretamente para onde.
Este acidente revestiu-se,por aquilo que já foi falado,de diversas versões sendo que uma delas é comum,as condições climatéricas.