João Carlos Silva
MMA, BA6
Sobreda da Caparica
Companheiro Víctor, Companheiros da Linha da Frente,
Foram os primeiros da então novel Força Aérea Portuguesa, pois tinha acabado de ser criada, em 1 de Julho de 1952, através da fusão da Aeronáutica Militar com a Aviação Naval.
Foram esses jovens do início dos anos 50, os primeiros (enquadrados pelos elementos das Aviação Naval e Militar (*) que através da sua capacidade técnica e dedicação contribuíram para o funcionamento dessa nova organização chamada Força Aérea Portuguesa.
Foram eles que com o seu aprumo, dedicação, trabalho, conhecimentos técnicos e irreverência da juventude, lançaram as bases de uma classe profissional, no seio da “nossa” FAP, muito respeitada e considerada (inclusivamente na vida civil).
Foram os primeiros Especialistas da Força Aérea Portuguesa, os Precursores dos Especialistas na FAP.
Se tive o desejo de ingressar na “nossa” FAP como Cabo Especialista e muita honra tive de a servir da melhor maneira que pude, aos mais antigos também o devo e hoje especialmente a minha singela homenagem aos nossos Precursores na FAP.
Depois de sair da "nossa" FAP em 1982 estive algo afastado, mas, há alguns anos comecei a procurar "coisas" desses tempos através da Internet e uma das fontes de informação que me prendeu foi um site chamado Aeronáutica e Espaço http://aerodino.no.sapo.pt/ de Aniceto Ferreira de Carvalho.
Para quem não conhece, o Aniceto Carvalho é nosso companheiro Especialista e foi dos precursores, isto é, ingressou na FAP em 1952 como aluno mecânico de avião.
Dei por muito bem empregues as horas de leitura, absorvido pela informação, fascinado pelas histórias, pelo Helldiver (*) (só o nome mete respeito) e pelo "mistério" de como seria a vida de um Zé Especial nesses idos dos anos 50. No que respeita ao site por ele criado, louvo a sua dedicação e paixão pela causa da aviação e da FAP em particular e especialmente quero agradecer-lhe os momentos fantásticos que o site me proporcionou (e continua a proporcionar) aprendendo a vivência dos jovens Especialistas nos anos 50.
Após ter estabelecido contacto com o Aniceto, prontamente respondeu, autorizando a retirar qualquer escrito que me chamasse mais a atenção e disponibilizando-se para qualquer contacto que achássemos necessário. Desta forma, não resisto a partilhar com a Linha da Frente um dos seus muitos textos, assim, com a devida vénia:
Mar da Palha
Tínhamos chegado no dia anterior ao então Centro de Aviação Sacadura Cabral (**). Primeiro dia de Dezembro de 1953. Era feriado. No dia seguinte iríamos ter a oportunidade de mostrar o que tínhamos aprendido durante um ano de curso na Escola Militar de Aeronáutica.
Foi a primeira vez que o vi. Logo à entrada, mal acabara de ultrapassar a porta do hangar: Azul-marinho pesado, fosco, a dar ideia de empinado na roda de cauda, as asas dobradas por cima da fuselagem, o motor lá em cima, enorme, parecia inacessível.
Não era um avião bonito. Grande, robusto, desajeitado, o Helldiver (***) era, no entanto, um verdadeiro avião de guerra. E eu, embora com 18 anos era militar de carreira. O Helldiver estava a fascinar-me. Lembro-me de ter pensado: “O tipo de aparelho que eu gostaria de trabalhar”.
Sem saber porquê, mas sem ser pelo número de ordem, nem pela classificação no curso, alguns minutos depois tinha sido um dos indigitados a receber as primeiras luzes no pesado bombardeiro de mergulho.
A esquadra tinha cerca de 20 Helldiveres, dos quais uma boa parte voava todos os dias, com um ou dois normalmente em manutenção.
Comigo, com mais três pequenos “sábios” como eu acabadinhos de sair do curso, dois furriéis ex-cabos da Aviação Naval, e o 2º. sargento Pinho a chefiar, o “staff” da manutenção dos Helldiveres ficou completo.
No papel, claro. Quando os dois furriéis repararam que já tinham quem fizesse o trabalho por eles nunca mais ninguém os viu… de nada adiantou ao sargento esganiçar-se em cima da asa a chamar por eles.
Não havia nada a fazer. Tínhamos de aprender… E depressa.
O Pinho era um “artista”, levava-nos onde queria: Ensinava-nos como se fazia, virava as costas, regressava depois a verificar se tudo estava feito como ele tinha mandado. Liberdade, responsabilidade. Resultou. Meses depois éramos nós que púnhamos os aviões na rua, e… o máximo!... que lhes fazíamos o ponto fixo após a inspecção. Pelo meio, paródia, claro… até na hora de trabalho: Tudo valia a pena por um voo no lugar de trás do Helldiver a rapar praia fora ou a visitar a família na parvónia.
Em finais de 1956 os Helldiveres regressaram a Aveiro de onde tinham saído quatro anos antes. Nós partimos para outra.
Autor: Aniceto Carvalho no site Aeronáutica e Espaço http://aerodino.no.sapo.pt/ (direitos reservados)
MMA, BA6
Sobreda da Caparica
Companheiro Víctor, Companheiros da Linha da Frente,
Foram os primeiros da então novel Força Aérea Portuguesa, pois tinha acabado de ser criada, em 1 de Julho de 1952, através da fusão da Aeronáutica Militar com a Aviação Naval.
Foram esses jovens do início dos anos 50, os primeiros (enquadrados pelos elementos das Aviação Naval e Militar (*) que através da sua capacidade técnica e dedicação contribuíram para o funcionamento dessa nova organização chamada Força Aérea Portuguesa.
Foram eles que com o seu aprumo, dedicação, trabalho, conhecimentos técnicos e irreverência da juventude, lançaram as bases de uma classe profissional, no seio da “nossa” FAP, muito respeitada e considerada (inclusivamente na vida civil).
Foram os primeiros Especialistas da Força Aérea Portuguesa, os Precursores dos Especialistas na FAP.
Se tive o desejo de ingressar na “nossa” FAP como Cabo Especialista e muita honra tive de a servir da melhor maneira que pude, aos mais antigos também o devo e hoje especialmente a minha singela homenagem aos nossos Precursores na FAP.
Depois de sair da "nossa" FAP em 1982 estive algo afastado, mas, há alguns anos comecei a procurar "coisas" desses tempos através da Internet e uma das fontes de informação que me prendeu foi um site chamado Aeronáutica e Espaço http://aerodino.no.sapo.pt/ de Aniceto Ferreira de Carvalho.
Para quem não conhece, o Aniceto Carvalho é nosso companheiro Especialista e foi dos precursores, isto é, ingressou na FAP em 1952 como aluno mecânico de avião.
Dei por muito bem empregues as horas de leitura, absorvido pela informação, fascinado pelas histórias, pelo Helldiver (*) (só o nome mete respeito) e pelo "mistério" de como seria a vida de um Zé Especial nesses idos dos anos 50. No que respeita ao site por ele criado, louvo a sua dedicação e paixão pela causa da aviação e da FAP em particular e especialmente quero agradecer-lhe os momentos fantásticos que o site me proporcionou (e continua a proporcionar) aprendendo a vivência dos jovens Especialistas nos anos 50.
Após ter estabelecido contacto com o Aniceto, prontamente respondeu, autorizando a retirar qualquer escrito que me chamasse mais a atenção e disponibilizando-se para qualquer contacto que achássemos necessário. Desta forma, não resisto a partilhar com a Linha da Frente um dos seus muitos textos, assim, com a devida vénia:
Mar da Palha
Tínhamos chegado no dia anterior ao então Centro de Aviação Sacadura Cabral (**). Primeiro dia de Dezembro de 1953. Era feriado. No dia seguinte iríamos ter a oportunidade de mostrar o que tínhamos aprendido durante um ano de curso na Escola Militar de Aeronáutica.
Foi a primeira vez que o vi. Logo à entrada, mal acabara de ultrapassar a porta do hangar: Azul-marinho pesado, fosco, a dar ideia de empinado na roda de cauda, as asas dobradas por cima da fuselagem, o motor lá em cima, enorme, parecia inacessível.
Não era um avião bonito. Grande, robusto, desajeitado, o Helldiver (***) era, no entanto, um verdadeiro avião de guerra. E eu, embora com 18 anos era militar de carreira. O Helldiver estava a fascinar-me. Lembro-me de ter pensado: “O tipo de aparelho que eu gostaria de trabalhar”.
Sem saber porquê, mas sem ser pelo número de ordem, nem pela classificação no curso, alguns minutos depois tinha sido um dos indigitados a receber as primeiras luzes no pesado bombardeiro de mergulho.
A esquadra tinha cerca de 20 Helldiveres, dos quais uma boa parte voava todos os dias, com um ou dois normalmente em manutenção.
Comigo, com mais três pequenos “sábios” como eu acabadinhos de sair do curso, dois furriéis ex-cabos da Aviação Naval, e o 2º. sargento Pinho a chefiar, o “staff” da manutenção dos Helldiveres ficou completo.
No papel, claro. Quando os dois furriéis repararam que já tinham quem fizesse o trabalho por eles nunca mais ninguém os viu… de nada adiantou ao sargento esganiçar-se em cima da asa a chamar por eles.
Não havia nada a fazer. Tínhamos de aprender… E depressa.
O Pinho era um “artista”, levava-nos onde queria: Ensinava-nos como se fazia, virava as costas, regressava depois a verificar se tudo estava feito como ele tinha mandado. Liberdade, responsabilidade. Resultou. Meses depois éramos nós que púnhamos os aviões na rua, e… o máximo!... que lhes fazíamos o ponto fixo após a inspecção. Pelo meio, paródia, claro… até na hora de trabalho: Tudo valia a pena por um voo no lugar de trás do Helldiver a rapar praia fora ou a visitar a família na parvónia.
Em finais de 1956 os Helldiveres regressaram a Aveiro de onde tinham saído quatro anos antes. Nós partimos para outra.
Autor: Aniceto Carvalho no site Aeronáutica e Espaço http://aerodino.no.sapo.pt/ (direitos reservados)
Helldiver SB2C-5 sobre o Mar da Palha. Na ponta da asa direita, à frente, o extremo da Base Aérea 6.
Fotos: Aeronáutica e Espaço de Aniceto Carvalho http://aerodino.no.sapo.pt/
(direitos reservados)
Ainda vou querer saber mais detalhes relacionados com o impressionante nome deste avião de guerra.
Este meu pequeno texto para os meus precursores na FAP, em memória dos que infelizmente já nos deixaram e, aos presentes, os votos de boa saúde e que espero vê-los a comemorarem os 60 anos de incorporação, está quase. Seguramente que os restantes Operacionais da Linha da Frente partilham deste meu voto.
Saudações Especiais a todos os Companheiros e Visitantes da Tertúlia da Linha da Frente,
João Carlos Silva, MMA, Jaguares (FIAT G-91), 2ª/79
Notas de JC e fonte http://aerodino.no.sapo.pt/:
(*) Nestas armas os pioneiros da aviação militar em Portugal, tendo nós um maravilhoso exemplo no nosso Especialista de Honra Vergílio Lemos da incorporarão de 1939.
(**) Actualmente Base Aérea nº 6 (desde 12 de Junho de 1954)
(***) Curtiss Helldiver SB2C-5 – Bombardeiro de mergulho
Ainda vou querer saber mais detalhes relacionados com o impressionante nome deste avião de guerra.
Este meu pequeno texto para os meus precursores na FAP, em memória dos que infelizmente já nos deixaram e, aos presentes, os votos de boa saúde e que espero vê-los a comemorarem os 60 anos de incorporação, está quase. Seguramente que os restantes Operacionais da Linha da Frente partilham deste meu voto.
Saudações Especiais a todos os Companheiros e Visitantes da Tertúlia da Linha da Frente,
João Carlos Silva, MMA, Jaguares (FIAT G-91), 2ª/79
Notas de JC e fonte http://aerodino.no.sapo.pt/:
(*) Nestas armas os pioneiros da aviação militar em Portugal, tendo nós um maravilhoso exemplo no nosso Especialista de Honra Vergílio Lemos da incorporarão de 1939.
(**) Actualmente Base Aérea nº 6 (desde 12 de Junho de 1954)
(***) Curtiss Helldiver SB2C-5 – Bombardeiro de mergulho
Especificações:
Monomotor, bilugar;
Motor, Wright Cyclone, GR-2600-20, radial, de 14 cilindros, com 1900 hp de potência;
Dimensões: Envergadura, 14,80 metros; comprimento, 11,20 metros; área alar, 39,20 m2;
Performances: Velocidade máxima, 450 Km/h; Raio de Acção, 1700 Km;
Pesos: Equipado, 6500 Kg;
Armamento:
O Helldiver podia carregar até 500 quilos de bombas na barriga, mais 500 quilos nas asas; dois ou quatro canhões de 20mm montados nas asas; duas metralhadoras de 0,30 para defesa de ataque por trás no lugar do artilheiro; e quatro foguetes de polegada em cada asa.
Na Aviação Militar Portuguesa:
Na Aviação Militar Portuguesa:
Em 1950 foram adquiridos 24 destes aparelhos para a Aviação Naval. Inicialmente colocados em São Jacinto, transferidos para o Montijo em 1952, transitaram para a Força Aérea Portuguesa no mesmo ano. Após 4 anos de operação na Base Aérea 6, os Helldivers regressaram a São Jacinto em finais de 1956. Dos três acidentes registados na unidade do Mar da Palha, um dos quais fatal, nenhum foi causado por deficiência do avião.