Miguel Pessoa
Cor. Pilav. Refº. Guiné
Lisboa
Caros Victor e João Carlos
Acabei de enviar para o blogue "Tabanca Grande" um texto em que comento algumas posições de diversos bloguistas sobre o contributo do pessoal miliciano (nomeadamente os furriéis) versus o pessoal do quadro, no decorrer da guerra na Guiné.
Preocupou-me essencialmente a generalização daquela apreciação para a totalidade dos militares que prestaram serviço na Guiné, correndo-se o risco de se ver tudo pela óptica daqueles que cumpriram o seu serviço no Exército, com pouco espaço de manobra para os outros Ramos.
Sendo o texto dirigido essencialmente àquele blogue, mas tratando-se de matéria que poderá interessar ao pessoal da Força Aérea em geral, deixo à vossa consideração a possibilidade de publicarem este texto no Blogue dos Especialistas da BA12, parecendo-me conveniente, nesse caso, a inclusão desta nota introdutória.
Um abraço. Miguel Pessoa.
"DEFENDENDO A MINHA DAMA"
Nestes últimos tempos tenho seguido com a devida atenção os textos e os subsequentes comentários feitos por alguns bloguistas relativamente ao contributo dos militares milicianos no decorrer da guerra que travámos nas antigas colónias, comparando-o com o que aos militares do quadro diz respeito.
Atenção e tristeza pois, sendo alguém que desenvolveu a sua actividade profissional como oficial do quadro das Forças Armadas (não fazendo aqui qualquer distinção do Ramo em que desenvolvi essa actividade), custa-me ouvir estes comentários depreciativos sobre um grupo profissional ao qual pertenci (ou, melhor dizendo, hei-de pertencer até ao último dia).
Não irei fazer a defesa do grupo a quem maioritariamente esses comentários se dirigem, e que me parecem passar ao lado da Força Aérea: Primeiro, por desconhecimento dos factos aqui reportados; segundo, porque não fui para tal mandatado por ninguém dos outros Ramos, pensando eu que quem se sentir injustamente atingido com essas observações poderá sempre ter a possibilidade de as rebater neste espaço.
Apenas direi que estas apreciações correm sempre o risco de ser generalizadas, entrando-se em situações de inevitáveis injustiças, ao tomar-se a parte pelo todo, embrulhando na mesma "folha" os que cumpriram e os que conseguiram uma vida bem menos atribulada.
Posto este meu comentário inicial, e face ao risco de uma possível generalização, tenho que deixar-vos umas palavras em defesa da honra da minha Dama - a Força Aérea Portuguesa. Sei que arrisco "ouvir" alguns comentários menos abonatórios, mas se é verdade que não gosto de "comprar" guerras desnecessárias, também não costumo fugir a elas. E penso que esta ocasião justifica que eu corra esses riscos.
A Base Aérea 12 tinha naturalmente uma organização hierárquica bem definida, em que cada um, aos diversos níveis, sabia perfeitamente o que lhe competia fazer. Quando se tratava da actividade de voo, a situação era um pouco diferente. As Esquadras de Voo dispunham naturalmente de efectivos estabelecidos para o cumprimento da missão; mas, por escassez de meios humanos e também por existirem na Unidade pilotos dos escalões hierárquicos superiores devidamente qualificados nas aeronaves existentes, aqueles ficavam adidos a uma das Esquadras para efeitos de voo.
Acabei de enviar para o blogue "Tabanca Grande" um texto em que comento algumas posições de diversos bloguistas sobre o contributo do pessoal miliciano (nomeadamente os furriéis) versus o pessoal do quadro, no decorrer da guerra na Guiné.
Preocupou-me essencialmente a generalização daquela apreciação para a totalidade dos militares que prestaram serviço na Guiné, correndo-se o risco de se ver tudo pela óptica daqueles que cumpriram o seu serviço no Exército, com pouco espaço de manobra para os outros Ramos.
Sendo o texto dirigido essencialmente àquele blogue, mas tratando-se de matéria que poderá interessar ao pessoal da Força Aérea em geral, deixo à vossa consideração a possibilidade de publicarem este texto no Blogue dos Especialistas da BA12, parecendo-me conveniente, nesse caso, a inclusão desta nota introdutória.
Um abraço. Miguel Pessoa.
"DEFENDENDO A MINHA DAMA"
Nestes últimos tempos tenho seguido com a devida atenção os textos e os subsequentes comentários feitos por alguns bloguistas relativamente ao contributo dos militares milicianos no decorrer da guerra que travámos nas antigas colónias, comparando-o com o que aos militares do quadro diz respeito.
Atenção e tristeza pois, sendo alguém que desenvolveu a sua actividade profissional como oficial do quadro das Forças Armadas (não fazendo aqui qualquer distinção do Ramo em que desenvolvi essa actividade), custa-me ouvir estes comentários depreciativos sobre um grupo profissional ao qual pertenci (ou, melhor dizendo, hei-de pertencer até ao último dia).
Não irei fazer a defesa do grupo a quem maioritariamente esses comentários se dirigem, e que me parecem passar ao lado da Força Aérea: Primeiro, por desconhecimento dos factos aqui reportados; segundo, porque não fui para tal mandatado por ninguém dos outros Ramos, pensando eu que quem se sentir injustamente atingido com essas observações poderá sempre ter a possibilidade de as rebater neste espaço.
Apenas direi que estas apreciações correm sempre o risco de ser generalizadas, entrando-se em situações de inevitáveis injustiças, ao tomar-se a parte pelo todo, embrulhando na mesma "folha" os que cumpriram e os que conseguiram uma vida bem menos atribulada.
Posto este meu comentário inicial, e face ao risco de uma possível generalização, tenho que deixar-vos umas palavras em defesa da honra da minha Dama - a Força Aérea Portuguesa. Sei que arrisco "ouvir" alguns comentários menos abonatórios, mas se é verdade que não gosto de "comprar" guerras desnecessárias, também não costumo fugir a elas. E penso que esta ocasião justifica que eu corra esses riscos.
A Base Aérea 12 tinha naturalmente uma organização hierárquica bem definida, em que cada um, aos diversos níveis, sabia perfeitamente o que lhe competia fazer. Quando se tratava da actividade de voo, a situação era um pouco diferente. As Esquadras de Voo dispunham naturalmente de efectivos estabelecidos para o cumprimento da missão; mas, por escassez de meios humanos e também por existirem na Unidade pilotos dos escalões hierárquicos superiores devidamente qualificados nas aeronaves existentes, aqueles ficavam adidos a uma das Esquadras para efeitos de voo.

Legenda:Pilotos do efectivo da Base Aérea nº12,onde se pode observar,no centro com uma taça na mão,o saudoso Cor.Pilav.Moura Pinto,Com.da Zona Aérea de Cabo Verde e Guiné,que já nos deixou.
Foto:Miguel Pessoa(direitos reservados)
Já tive a oportunidade de aqui o referir, mas relembro que na Esqª 121 (Fiats, DO-27 e T-6) voavam regularmente o Comandante da Zona Aérea de Cabo Verde e Guiné, o Comandante da BA12, o Comandante do Grupo Operacional 1201, o Oficial de Operações do GO1201 e um Oficial Superior colocado no Quartel General como oficial de ligação da Força Aérea. Os postos destes militares variavam entre Coronel e Major.
Quando integrados nas missões da Esquadra, era possível ver esses oficiais voarem sob as ordens de oficiais menos graduados pois, mais importante que a antiguidade do posto, interessava a experiência do piloto no Teatro de Operações. No meu caso pessoal, cheguei a voar integrado em formações chefiadas por alferes milicianos e, no oposto, chefiei formações em que voavam capitães antigos e tenentes-coronéis. E não era por isso que eram postas em causa as competências e autoridade de cada um no desempenho de funções em terra.
Assim, os riscos em voo eram democraticamente repartidos por todos os que voavam na Esquadra, fossem coronéis, tenentes-coronéis, majores, capitães, tenentes (todos do quadro) ou tenentes, alferes e furriéis (todos estes milicianos).
Um exemplo dramático disto é o facto de no decorrer de missões, no ano de 1973, terem sido mortalmente atingidos oficiais superiores adidos à Esqª 121, o Ten.Cor.Brito, comandante do GO1201, e o Maj. Mantovanni Filipe, oficial com funções no Quartel General, tendo ainda, por outro lado, perdido a vida Furriéis Milicianos colocados na Esquadra, como o Fur. Baltazar da Silva e o Fur. Ferreira. Isto para além de 3 oficiais do quadro que se ejectaram com sucesso no decorrer do mesmo ano.
É, pois, em nome de todos aqueles que, abdicando de eventuais mordomias, dedicaram todo o seu esforço - e nalguns casos a vida - ao apoio à Esqª 121, que deixo aqui este esclarecimentos. (*)
Miguel Pessoa
(*) Tentando evitar fazer chalaça com esta frase, direi que na maioria dos casos o ar condicionado, mencionado naqueles textos, serviu na maior parte das vezes para amenizar as altas temperaturas sofridas dentro do cockpit do Fiat G-91.
JC: Miguel Pessoa, contra factos não há argumentos. Excelente exemplo de “Team Work” e dedicação até ao sacrifício da própria vida, independentemente do posto, sem pôr em causa a organização e o desempenho das responsabilidades a que cada um correspondiam, na persecução do objectivo do cumprimento da missão. Prova provada de que as generalizações são injustas, para não dizer perigosas.
Na minha opinião, a tua (nossa) Dama foi superiormente defendida.
Saudações Especiais