quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

VOO 1453 AS ENCOMENDAS TÃO DESEJADAS QUE...NUNCA CHEGARAM!


António Damaso
Sargº.Môr Paraquedista Guiné
Odemira


Boa noite Comandante Barata e respectivo Estado Maior.
Como já tenho autorização para aterrar, vou-me fazer à pista.
ENCOMENDAS

Hoje deu-me para falar de encomendas.
Quem é que durante a vida não foi solicitado para entregar uma encomenda a um amigo, ou mesmo um desconhecido?
Tinha dois pára-quedistas do meu Concelho que foram em 1963, para a BA12 Bissalanca, digo tinha porque infelizmente um há cerca de 10 anos que partiu.
Eu era de 1961 e eles de 1963, encontramo-nos em Tancos e acompanhei-os até partirem para a Guiné, fomos trocando correspondência até eu embarcar para Angola no final do ano de 1964, como sabia que o avião fazia escala em Bissalanca, um pediu-me para lhe levar uma boina nova e o outro como eu tinha passado por casa dos pais, deram-me um pacote com chouriços de carne de porco preto para lhe entregar.


Legenda:O DC-6 estacionado na placa.

O DC 6 aterrou em Bissalanca pouco depois das 6 da manhã, fui a correr à BA12 junto das camaratas onde estavam instalados, tinha acabado de tocar para formatura do pequeno-almoço, um como era aprumadinho já estava formado, outro como era muito descontraído, tinha por alcunha o “Sorna” foi o último a formar, apareceu com uns chinelos de enfiar nos dedos dos pés e mereceu um reparo do sargento dia que lhe disse:
-Então Sr. Sorna, é sempre o último a formar?
O amigo António Jorge com a calma que o caracterizava, com um sorriso nos lábios respondeu:
-Ó meu sargento, alguém tem que ser o último.
Claro que o Sargento dia, conhecedor das características do bonacheirão do Sorna, deixou passar e nem sequer o brindou com uma completa de dez que era da praxe.
As encomendas foram entregues e eu segui a minha viagem para Angola.
De quando em vez vou encontrando o Sorna, que continua com a sua calma e boa disposição rimo-nos ao recordar esta e outras passagens.
Em 1967 estava eu na Guiné, um Civil que estava empregado na Casa Gouveia, soube que eu vinha de férias, pediu-me para lhe trazer uma encomenda, uma pele de jacaré, para a entregar em Lisboa, mais concretamente na Av. da Liberdade, utilizei transportes a minhas expensas, mas a encomenda foi entregue.
Em Março de 1973, estava eu destacado no Cantanhês em Caboxanque, fui a Cadique para depois partir daí para uma operação, tive tempo para ir ao bar improvisado da CCAÇ 4540, encontrei lá umas garrafas de Whisky mais baratas que o bagaço, comprei 6 que coloquei numa caixa de madeira e enderecei à minha pessoa, esta encomenda chegou ao destino antes de mim.
Em Agosto de 1973, depois de ter passado pelos infernos de Guidage e Gadamael Porto, vim cá de férias, tinha levado de Guidage 8 invólucros de granada de Obus, havia um camarada que das mesmas fazia uns candeeiros e uns aviões, fui de táxi a casa dele levar o material com a condição de me fazer um candeeiro e um avião, até hoje nunca mais vi nada, em vez de aviões, fiquei a ver navios, não fez mal porque tinha bons amigos na Marinha.
Não me recordo se foi em final de 1973 ou princípio de 1974, pedi a uma familiar para me enviar de cá uns óculos escuros e esta entendeu por bem mandar também uns chouriços caseiros, ficou combinado ir ao Figo Maduro e pedir a algum militar que embarcasse para a Guiné que fizesse a gentileza de me entregar a dita encomenda, houve um cavalheiro Especialista que se prontificou e deu o nome à minha irmã para eu depois o procurar.
Azar, como aconteceu a muita gente, o jovem não embarcou naquele dia, só embarcou no avião da semana seguinte.
Os camaradas deste, cheirou -lhes ao chouriço, só o cheiro fazia crescer água na boca, lá convenceram o rapaz de que o material se ia estragar, era um desperdício e que o melhor era tratarem dele quanto antes.
Na semana seguinte lá fui eu à procura do nosso amigo Especialista, este encavacado e eu não me recordo o que lhe disse, eu estava mais preocupado com os óculos, não pela importância monetária mas pela falta que me faziam.
Em 1974, já no final da comissão, arranjei uma caixa com várias garrafas de Whisky e outras coisas, pedi ao meu conterrâneo Barreiros que fazia parte da tripulação dos DC6, para a trazer e deixar no AB1, quando cheguei e fui lá à procura, estavam lá algumas mas da minha nem rasto.
Já agora, se alguém que ajudou a comer os chouriços do sargento ler isto, desportivamente diga se os mesmos eram bons?
Enfim, é caso para dizer, encomendas! …
Haja saúde e coza o forno!
Saudações Aeronáuticas
Dâmaso

VB: E pronto Dâmaso,os calções estão metidos,corte de motores e sejas bem vindo neste teu regresso à base. Estas ausências de voo não são muito benéficas para ti,não podes estar tanto tempo sem dares umas "voltinhas" neste espaço.
Que episódios nos contas Companheiro,realmente foste um azarento com os portadores de encomendas que merecias ser distinguido com a medalha de"bons serviços prestados"!