quarta-feira, 31 de março de 2010

VOO 1569 SÓZINHO NO MEIO DE TANTA GENTE.



António Loureiro

Fur.Polícia Aérea
Figueira da Foz




QUERO DESEJAR A TODOS OS ZÉS E SUAS RESPECTIVAS FAMÍLIAS, UMA SANTA QUADRA PASCAL.

O1- Esta semana fui a Coimbra e como quase sempre, fui ao Cemitério da Conchada pôr umas flores ao meu defunto irmão e fazer alguns momentos de reflexão.
Porque por razões fisiológicas não posso apanhar sol na carola, fico constipado, tratei de fazer o trajecto junto à parede Sul para me proteger.Por ironia do destino, é precisamente naquela parede que se encontram pequenas urnas com os restos mortais de variadíssimas pessoas, para mim desconhecidas.
Como a curiosidade às vezes também atrapalha, foi precisamente o que me aconteceu, quando dei com os olhos na fotografia de numa de um jovem militar falecido na guerra do Ultramar.
Como não podia deixar de ser, parei em respeito por aquele camarada que caiu em defesa do solo Pátrio, fazendo quase que instantaneamente, um rebobinar da fita temporal gravada no meu subconsciente, transportado-me aos anos da nossa juventude irreverente mas corajosa.

Legenda:Cemitério da Conchada,Coimbra.
Foto de Arquivo

Qual não é o meu espanto, porque passei a ficar mais atento, reparo noutro e outro e mais outro e mais uma série deles que, para mal dos seus pecados, tiveram o mesmo triste destino e assim, não teem a possibilidade de fazer o dito rebobinamento.
Porque com a idade ficamos mais "piegas", as lágrimas acabaram por tomar conta dos olhos e comecei a sentir um nó na garganta e uma estranha sensação de desconforto, misturado com uma revolta interior que me tolhia a capacidade de andar, ao ponto de nem responder aos chamamentos da minha mulher que, como todas, de imediato se apercebeu que algo de desagradável se estava a passar comigo, (eu tive uma grave depressão há não muitos anos).
Logo que me senti com o mínimo de capacidades físicas, retirei-me daquele local com o coração despedaçado, não pela morte daqueles que, como nós, conheceram o odor da terra quente, mas pela falta de consideração e respeito que um punhado de "portugueses" movidos por razões que a razão desconhece, em determinada altura, arvorando-se em representantes legítimos cuja legitimidade não lhes tinha sido dada, ressaibiados pelo insucesso dos primórdios dos anos sessenta, logo que lhes "cheirou" a possibilidade de concluirem o projecto interrompido, sem a dignidade que um assunto de tamanha importância e melindre exigia, chamaram a si a responsabilidade de o resolver, não com sentido patriótico, mas sim como um ajuste de contas com o passado, metendo despodoramente os pés pelas mãos.
Estou-me nas tintas para a evocação das justificações para o injustificável, bem como para o argumento mais do que esfarrapado, das ditas pressões internacionais porque tudo isso, como dizem os brasileiros, é conversa mole para adormecer boi.Uma coisa sabemos nós, é que a maior parte desses "senhores", com as suas habilidades, passaram a viver à grande e à francesa, não mais fazendo do que um blá, blá, blá sentados à manjedoura de um Estado injusto, sorvendo os parcos recursos que outros sabe-se lá com que sacrifícios, vão conseguindo criar, tais sanguessugas em forma de gente.
Como a mentira é muito linda enquanto a verdade não chega, aos poucos, lá vão caindo dos seus "altares sagrados" forrados a ouro, a que nunca deviam ter tido acesso.Tais iluminados, cada vez mais subtil e desenvergonhadamente, tudo fazem para nos passar por trouxas, desvalorizando a todo o custo o esforço feito por toda uma juventude que, galhardamente, cumpriram de forma exemplar a sua missão.
Hoje, mais maduros, podemos e devemos pôr a questão:
Será que não tínhamos condições para fazer melhor? Pior, certamente era impossível.

O2-Ao ler a mensagem do voo 1563 sobre a aventura do nosso grande camarada Miguel Pessoa, bravo piloto que, mesmo com a inoperacionalidade da sua aeronave causada pelo fogo inimigo soube desenvencilhar-se de uma situação deveras difícil, pondo em prática os procedimentos de emergência que lhes tinham sido ministrados pela Escola que, de maneira sustentada, nos formatou e nos deixa cada vez mais orgulhosos por termos tido o privilégio de ter pertencido à gloriosa Força Aérea Portuguesa.

Legenda: Dia 26 de Março de 1973,depois de localizado na mata após ter sido "abonado",o Miguel é evacuado de helicóptero para a Base Aérea 12,para de imediato seguir para o Hospital Militar de Bissau.Na imagem pode ver-se a sua chegada à base,transportado em maca pela enfermeira Giselda, que é hoje a sua mulher,e da Esqª./Dirª. Crespo,o fotografo e o companheiro que está em tronco nú,não me lembro o nome,o outro é o Maurício. Repare-se no utensílio que o Miguel transporta,uma garrafa de espumante!
Foto:Miguel Pessoa

O seu casamento com uma mulher do "calibre" da Enfermeira Paraquedista Giselda, também amante do AR, tinha e tem tudo para dar certo, foi a cereja sobre o bolo, que Deus vos dê toda a felicidade que merecem.
Também a manifestação de carinho demonstrada por toda aquela grande família dos ZÉS, foi mais do que merecida, e podes acreditar que passaste a fazer parte da minha galeria de heróis.

O3-Não chego aos calcanhares do Marcelino, mas também tenho das "boas", tiveste 1 dia e eu estive 8, talvez um dia também tenha coragem para publicar o que já escrevi sobre isso.
Mas como há sempre uma parte ruim nestas coisas, é bom que não fiquemos acéfalos e não nos esqueçamos do grande Marcelino da Mata, a quem de maneira respeitosa me vergo, pelo seu carácter guerreiro, coragem e abnegação, soube demonstrar de maneira inequívoca que, para além de Guineu, também sabia que era e é português de corpo inteiro, a quem Portugal muito deve pelo seu exemplo de lealdade.
Apesar do seu passado heróico, não lhe queria estar na pele, não que tenha feito algo de errado mas porque, também ele, como muitos outros, fruto dos tais "iluminados" a quem antes me referi, assobiando e olhando para o lado, foram os responsáveis pelo "abate" indiscriminado de muitos dos seus nobres guerreiros que tinham nascido sob a soberania da Bandeira das Quinas.

Alguém escreveu:
HAVEMOS DE CHORAR OS MORTOS SE OS VIVOS OS NÃO MERECEREM.
Infelizmente, mais próximo do que muitos imaginam, muitas lágrimas ainda vão correr.
Como ironicamente dizia o 1º.Sarg. Gato (mais tarde Cap.) alentejano de gema, desditosa Pátria que tais filhos tem. (filhos digo eu, para ser simpático, porque o que ele chamava era muito mais acutilante e mordaz)
1 abração