quinta-feira, 29 de abril de 2010

VOO 1658 A COISA ESTÁ PRETA.





António Loureiro

Fur.Mil.PA

Figueira da Foz




Dá-me licença senhor Comandante


Caros camaradas

As últimas notícias não são nada animadoras, a ser verdade o que nos vai entrando pela casa dentro através dos noticiários, o recreio parece estar a acabar.
O meu pragmatismo há muito que me foi acendendo as luzes de alarme de nível baixo, mas agora já vai acendendo de tempos a tempos o nível de muito baixo e a ser assim, se não houver medidas correctivas imediatas, dentro de pouco tempo o equipamento vai parar.
Não há muitos dias, o nosso Comandante V.Barata , corajosamente, deu o mote, e desiludam-se os mais românticos, assobiar e olhar para o lado não é solução, todos, rigorosamente todos, estamos em perigo.
Mais uma vez, a nossa tão sacrificada geração, um dia destes vai acordar em sobressalto.
Vozes entendidas que até há muito pouco tempo se mantiveram caladas, e vamos respeitar os seus motivos, já ousam engrossar o coro dos que, sempre que têm oportunidade, começam a gritar: olha o vermelho pá, põe-te esperto e esse vermelho não tem nada a ver com o Benfica, com a Esquerda ou com o Tinto, antes fosse, é com o nível muito Baixo.
O piloto já reparou que corre sérios riscos de não ter capacidade para chegar à pista por falta de combustível, o seu campo de actuação começa cada vez a ser mais limitado, corrigiu a razão de descida, colocou motor nas rotações mais adequadas com vista a poupar o máximo possível sem comprometer a segurança.
A pista, tão longe e ali tão perto, o suor escorre-lhe pela cara a baixo e já lhe saboreou o salgado, mentalmente, vai fazendo uma revisão aos procedimentos e começa pouco a pouco e equacionar o plano B.
Fez tudo o que tinha a fazer: comunicou com a Torre de Controlo a contar a situação que por sua vez tomou as medidas adequadas e a aeronave está a comportar-se bem, resta-lhe a fé e a esperança, últimas coisas a morrerem, bem lá no fundo, o piloto corajoso e aventureiro, vai cantarolando uma musiquinha qualquer que lhe veio à cabeça porque afinal, mesmo que dificilmente, ele acha que se irá safar de mais aquele aperto.
A dado momento o motor, tal como ele esperava, parou por falta de combustível, mas nem tudo está perdido, com mais uma correcçãozinha, à altitude a que se encontra, ainda lhe permite fazer o pouco que lhe falta sem entrar em perda e quando toca finalmente com as rodas do trem na pista, ele respira fundo e vocifera meia dúzia de asneirolas e sente-se bem, mesmo que alagado em suor.
Está vivinho da costa e a aeronave, coisa bela e doce, está intacta, grande máquina.
Só espero que nós, mesmo que não tão competentes como este piloto, tenhamos engenho e arte para nos safarmos da situação grave em que nos encontramos sem entrar em perda, a verdade é que também já começo a suar.
Caros amigos, desiludam-se, ninguém está fora, alguém pagou a papinha que tu comeste ao almoço.
A solidariedade é um acto magnífico até teres para dar, quando já não tiveres nada, não há "milagres, acaba a solidariedade.
Não liguem, hoje estou de mau humor e apetece-me morder em alguém, vou-me embora, vou arranjar o barco para me libertar.

1 abração a todos os nobres pilotos desta magnífica aeronave.

VB: Está à vontade Loureiro,as verdades são para ser ditas,embora que alguns ainda se divirtam com elas. Houve realmente muitos heróis no 25 de Abril,mas repara bem,e é bom que todos nós façamos uma reflexão sobre isto,na situação de que desfrutam hoje. Revoltados? Foi só até a adquirirem o seu tacho.