terça-feira, 8 de junho de 2010

VOO 1767 A SAGA CONTINUA (VI)





Ovídio Sá

Esp.EABT
Chaves


A SAGA (Continua)

Para todos vai o meu abraço na generalidade, o meu particular vai sim direitinho para o Nosso Comando da tertúlia, pela Sua abnegação em defesa da causa que Se propôs.

Em Maquela do Zombo, quando eu me encontrava neste destacamento para fazer a conferência de material pois ia processar-se a mudança de comando, resolvemos de dia, ir à caça à noite. Após os convites, os preparativos para tal e eis que saímos noite escura visto ser o ideal para a caçada, a qual, pensávamos nós, “vai dar pano para mangas amanhã”.

Como estava combinado, foi toda a classe alta deste destacamento a qual se compunha: dois Oficiais, substituído e substituto, dois Sargentos, o que estava a tomar conta da Messe, eu, um Zé que não sei qual e o condutor da viatura que era o Jeep do Sarg. da Messe. Como não percebia nada de pontaria, pois uma vez estavam poisados mais de trinta pardais distraídos, num cevadouro de migalhas de pão, o rapaz atira, com chumbo miudinho e ficam mortos apenas seis, quando eu estava escondido a uns dez onze metros e à vontade. Era de tal natureza atirador que quando andava na recruta ainda era usada a “mauser” a qual dava um coice do demo então, para que ela não me batesse na cara, apontava normalmente não obstante, virasse de seguida a face para o outro lado, disparando sem sequer ver o alvo. Desculpem este aparte mas achei ser necessário.

Claro que para mim, na nocturna caçada, estava reservada a missão de controlar

a cada instante a viatura, assim como os olhos da caça grossa que eram autênticas lanternas acesas. Em marcha lenta, quando se via o bater da rama das árvores em ambos os lados do jeep, lá estava o “farolineiro” eu, minuciando seja o lado esquerdo, seja o direito e, quando algo de anormal via, dizia-lho aos que iam já com as armas prontas e fazia um traço com a luz em frente da viatura e assim o condutor parava. Só que numa destas paragens em que se viam com nitidez dois faróis a olhar para nós, fixo o meu farol nos olhos do bicho, ouve-se um tiro e vê-se ou ouve-se o animal correr para aquele que era o nosso sentido então, não ligando ao sinal de luzes, ouve-se uma voz – Avança … Avança -. O condutor não está com mais aquelas e arranca, mas sem nós os que estávamos no varandim do jeep. Eu quase me desmaio pois cai-me em cima o Formosinho, Sarg. da Messe e olhando na escuridão vejo a lanterna que eu, sem querer deixei da mão, rodopiar sobre a minha vista rapidamente. Pensei que estava numa estrada muito movimentada e que era luz de uma Ambulância que me transportava para o hospital. Com esta queda começam os nossos dissabores. O Formosinho, o mais forte de todos nós, torceu um pé e para tudo estar conforme, o jeep teimou e nunca mais andou. Sem saber onde estávamos, de noite, escuro como breu, apenas com uma lanterna, com o Formosinho a precisar de apoio substituindo-nos um de cada vez em tal mister, após uns bons Quilómetros e todos com o nariz bem levantado descortinámos uma luz. Embora estivéssemos em guerra, para lá nos dirigimos. Deparamos então com uma “picada” que tinha os rodados ainda frescos da passagem de uma viatura. Deve ser um aquartelamento militar que está aí. Se pensámos nisso, num ápice tivemos a certeza, começando imediatamente em altos gritos. – Sentinela, não atire somos militares da F Aérea e, assim nos aproximámos do quartel e entrámos já que a porta estava aberta sem ninguém a guardá-la o mesmo acontecendo com a sentinela que havíamos chamado. Tinham sido raptados pelo in? Não! Dirigimo-nos para o local de onde ouvíamos algumas vozes e descobrimos o porquê de não haver sentinela, ninguém que estivesse à porta de armas e a razão do tal parlatório. Estavam todos no forno que estava a cozer. Foram connosco bastante simpáticos e por eles nos foi dito que, com toda a certeza, após a narração da nossa aventura, tínhamos entrado em território Congolês. Para terminar, logo que o bicho foi bem morto, comprometeram-se e cumpriram levando-nos de regresso ao nosso Aeródromo, 31 de Maquela do Zombo numa camioneta, bem sentados e melhor guardados que o quartel onde eles permaneciam.

Se é certo que quando ainda jovem pensava na nossa guerra ultramarina, nunca pensei que um dia seria personagem que nela entrasse e quando lia o jornal de notícias que em casa assinávamos, lia com alguma frequência que mais um morto engrossava a fila dos desastrados. Se é certo que antes de ler a notícia, em sentido pejorativo de imediato os presentes diziam:

- Mais um que morreu de acidente!

Hoje, passados mais de quarenta anos, dou ao jornalista plena razão, porque se alguém morria, que não eram assim tão poucos, alguns era por morte natural e outros acidentados, como se elucida o passado neste aquartelamento

Como aquela vez em que passava a ronda como Sarg. Dia à Formação (SDF) e encontro um soldado a dormir, fora da torre, sentado, com a G3 encostada e que por precaução recolho.

Pouco inteligentes me pareciam aqueles a quem na época apelidávamos de terroristas, uma vez que casos como os ora mencionados, todos os dias aconteciam.

O Zé especial EABT

Olvídio Sá Chaves

VB.Grande ausência Olvídio,provavelmente em manutenção?!...Bom,pelo vimos já estás operacional,como tal vamos aguardar a normalidade do teu tráfego.