segunda-feira, 19 de julho de 2010

Voo 1841 A PARTIDA E O REGRESSO(4) - FABRÍCIO MARCELINO4)





Fabrício Marcelino
Esp.MMA
Leiria




A MINHA VIAGEM PARA A GUINÉ


Embora já tivesse descrito esta viagem há uns anos,vou recontá-la,embora com outras palavras, atendendo ao pedido formulado pelo comandante.
Estávamos no dia 01 de Novembro de 1962,quando embarquei no então A.B.1 (Portela),por volta das 08h00,a bordo de um dos famosíssimos *Skymaster.

Legenda: Douglas C-54 Skymaster.
Foto: Américo Dimas (direitos reservados)
Como era habitual,o avião ia completamente cheio e, levava muito material,bastante necessário naquelas paragens de África.Decorridos cerca de 60 minutos, notámos o avião a fazer uma volta de 180º. Apercebemo-nos de que um motor estava parado e,com as hélices em paço de bandeira. Passados poucos minutos apareceu um dos mecânicos de bordo, o Silva,meu colega de curso, a confirmar a paragem do motor e, falta de comunicações. Por estes motivos tínhamos de regressar a Lisboa.Ficámos com algum receio, mas com certa confiança de que tudo iria correr bem.Algum tempo depois,verificámos que o outro motor do mesmo lado, tinha uma grande fuga de óleo bem visível.De algum receio passou a medo.Mais uma vez, o colega Silva entrou em acção, mas desta vez, para , distribuir a todos, os respectivos coletes de salvação,que passámos a envergar.Igualmente nos indicou os procedimentos a ter, caso o avião caísse.Assim, ficámos a saber onde se encontravam os barcos de salvação que estavam a bordo e, que nos mesmos se encontravam os rádios para pedir socorro, bem como, os sacos de pó anti-tubarão que devíamos,os que se salvassem,colocar de imediato em volta dos barcos.A nossa angústia, passou a ser maior, quando deixámos de sobrevoar o mar e passámos a voar sobre os "chaparros". A B.A.11 só foi inaugurada em 1964 e o aeroporto de Faro em 1965,daí que só nos restava ir para Lisboa.Uma vez aqui chegados,fizemos uma aterragem de emergência, com todo o aparato de bombeiros e ambulâncias atrás do avião na pista,mas finalmente tudo acabou bem.
Após o avião reparado,reentrámos no mesmo e, descolámos a meio da tarde.Aterrámos em Las Palmas, para reabastecer e chegámos a Bissalanca às 03h00 da manhã.Estava à nossa espera oficial de dia,para nos informar que, o Alf.Pilav.Geada entrava de oficial de dia,eu de mecânico de dia e, um colega nosso mecânico de rádio ,era o meu ajudante! Às 09h00 estávamos nós a render a parada,sem dormirmos e, sem conhecermos um metro que fosse do (A.B.2) nessa altura.
Dos vários aviões que recebi nesse dia,apareceu um DC 6, pilotado pelo Ten.Cor. ou Cor.Abecassis,penso ser este o nome.Logo que o avião foi colocado no lugar correcto, fiz sinal para parar os motores.Este deixou um a trabalhar durante o tempo que lhe apeteceu,apesar dos meus sinais para o parar.A certa altura deu-me um grito a perguntar quando é que eu mandava ligar o put put.Foi a primeira vez que recebi um DC 6 e, desconhecia, nessa altura,que tinha de ligar o referido put put, antes de desligar o último motor. No F-86 só era necessário o put put para o arranque,como sabem os colegas que com ele trabalharam.Pedi auxílio a um colega que já lá estava e, este disse-me onde estava e ajudou a ligar o mesmo.O todo poderoso piloto, ao descer do avião veio ter comigo com voz de pessoa mal formada e,mandou-me ir chamar o oficial de dia.Este ouviu as queixas do que tinha acontecido,aliás eu já tinha contado.O oficial de dia deu-lhe como resposta que eu não era o culpado,porque também ele estava de oficial de dia e não conhecia os cantos e que sem dormirmos, foi-nos imposto entrarmos de serviço, sem fazermos assistência.Mesmo assim, participou por escrito o sucedido, no livro de reclamações, existente no gabinete do oficial de dia,coisa que o Alf.Pilav.Geada (oficial de dia) nunca tinha visto.
Safei-me de uma porrada, graças ao grande comandante da nossa missão,o então Cap.Pilav.Almeida Brito.Paz à sua alma.

* Este avião que me levou à Guiné,caiu uns tempos depois em S.Tomé e Príncipe e, morreu toda a tripulação incluindo o saudoso colega Silva.Paz à sua alma também.

Fabrício Marcelino

Voos de Ligação:
Voo 1822 A Partida e o Regresso(1) - Carlos Nóbrega
Voo 1834 A Partida e o Regresso(2) - Jorge Mariano
Voo 1838 A Partida e o Regresso(3)- Jorge Narciso

VB. Bom-Dia,Marcelino. Eu penso que foram poucos os aviões que levantaram do AB 1( Figo Maduro) que não voltassem para trás.Comigo aconteceu duas vezes ao embarcar para a Guiné. Naquela época, a malta até gostava,mais umas horas ou dias se passava cá,mas isso era o sinonimo de grande responsabilidade dos nosso pilotos da FAP.