segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Voo 2092 BOAS FESTAS...




Hélder de Sousa
Fur. Transmissões (Exercº)
Setúbal



BOAS FESTAS …..

Agora que o Natal já passou, espero que tenha abrandado o frenesim dos votos de ‘boas festas’, do ‘Bom Natal’, das prendas, de toda a carga mais ou menos sentimentalista desenvolvida a partir do acontecimento comemorado.

Não pensem que sou insensível à época, não senhor! Também costumo munir-me dos meus melhores sentimentos e procuro ‘espalhar’ o amor, a compreensão, a fraternidade, a solidariedade. Para aqueles que foram meus companheiros na ‘aventura africana’ digo-lhes que também tive dois Natais na Guiné, o primeiro em 1970, no interior, em Piche, e o outro, em 1971, já em Bissau. Foram dois momentos distintos na forma e no conteúdo, com posturas diferentes, com reacções diferentes, mas para relatar noutra ocasião e em local próprio.

Sei que o Natal é a época em que o ‘povo cristão’ comemora o nascimento de Deus, feito Homem. É o momento que ‘marca’ o cumprimento das promessas de Deus enviando o seu Filho para nos salvar, para redimir o Homem dos seus pecados, para nos transmitir a esperança de que depois do período de trevas em que a humanidade viveu ia abrir-se uma época de luz permitindo a salvação.

E é isto que é renovado todos os anos. A esperança dum tempo melhor, a partir duma redenção, originada pelo nascimento do ‘Menino Jesus’. E é isto que todos os anos é largamente esquecido em detrimento do consumismo e das palavras de circunstância. Ou seja, numa larga maioria de situações, o ‘motivo’ da Festa não é convidado para a mesma e isso desagrada-me.

Sei também que antes do cristianismo, os povos, principalmente aqueles com rituais ligados aos fenómenos da Natureza, aos movimentos solares, também comemoravam uma situação semelhante no sentido da ‘vitória da luz sobre as trevas’, consubstanciada naquele fenómeno que conhecemos por ‘solstício’. Neste caso, o solstício de Inverno, ocorrido sensivelmente na época do Natal cristão, também ilustra o momento em que as trevas atingem o seu máximo sendo que depois haverá todo um crescimento da luz, do calor, da Vida. Comemoravam o momento em que a esperança renascia com a certeza que iriam caminhar para tempos melhores.

Sei, por isso, que o cristianismo triunfante fez muito bem em ‘enquadrar’ essas práticas ancestrais dando a lição (raramente aproveitada por outros em situações em que o deveriam ter feito) de como se deve aproveitar aquilo que é a tradição, aquilo que está arreigado no sentir do povo, para lhe dar um novo enquadramento, uma nova visão, ou justificação, para uma mesma ‘razão de ser’.

Depois disto espero que os meus queridos amigos, os meus ‘irmãos’, os meus camaradas e até também ‘os outros’, compreendam porque não fui pródigo em mensagens e outras manifestações do género, correntes nesta época. E espero que dessa compreensão resulte a concordância.

Dentro da mesma linha, perfila-se agora o “Bom Ano Novo”. Só podem estar a brincar….

O que é preciso, mais do que votos de ‘Feliz Ano Novo’, ‘tudo de bom’, ‘todos os sonhos realizados’, ‘muita Paz, Saúde e Prosperidade’, etc., é coragem para persistir na vontade de contribuir para mudar o que se acha que está mal.

Não basta ‘vociferar’, chamar nomes feios aos que nos desgovernam. Há que não desistir de lutar. Volta a fazer sentido “ousar lutar para ousar vencer” mas é necessário muito cuidado para não se cair nas teias daqueles que espreitam e manipulam para aproveitar certos ‘voluntarismos’.

Não tenho ‘receitas’ para vencer a descrença e voltar a ‘levantar a cabeça’. Mas digo-vos que às vezes encontro alento na leitura dum poema de Brecht que diz “…ouvimos dizer que estás cansado…”, ou ouvindo com o som bem alto, pelo menos na parte final, uma canção chamada “The Boxer” de Simon & Garefunkel, ou o “Hey Jude”, dos Beatles, “Cry Baby” da Janis Joplin, também ajuda Mozart, a ‘Abertura’ da 1812 de Tchaikovsky, Elgar, etc. Que cada qual encontre o seu ‘motor de arranque’. Que temos a perder? Acham que ‘os mercados’ vão reagir negativamente ao nosso empenho para resistir a estes ‘tempos de perdição’?

Para terminar com uma nota positiva, queria deixar aqui uma espécie de prece aos meus Irmãos, aos meus Amigos e aos meus Camaradas, quer se encontrem em terra, no mar ou no ar, em que lhes desejo um pronto restabelecimento dos seus males e um rápido regresso a casa, se for esse o seu desejo.

“Feliz Ano Novo”!.

Hélder Sousa