segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Voo 2121 OS CÃES.



Fernando Moutinho

Cap.Piloto
Alhandra


Estava a responder ao Felizardo sobre cães e acabei por lhe relatar algo passado. No final achei graça e, pensei: quem sabe se é uma história com interesse para Blog. Foi mais uma ocorrência provocada pela "nossa" experiência africana.

"De qualquer modo tive duas experiências traumáticas com câes. Diga-se de passagem que me afeiçoo a eles rapidamente.
Quando era miúdo tinha um rafeiro que adorava mas, um dia, apareceu envenenado. Sofri tal abalo que prometi a mim mesmo nunca mais ter outro.
Mas, em Angola, no Luso, apareceu-me um cachorrinho lindo e como o meu filho mais novo andava sempre a solicitar um, acabei por o trazer para Luanda.
Pouco depois, fim da comissão de serviço. A minha mulher e o meu filho regressaram mais cedo para preparar o novo ano lectivo porque eu só regressava em Outubro. Mas não podiam trazer o "perro" porque tinha sido decretada providência sanitária não se podendo transportar animais. Como vinha mais tarde pensei que, entretanto, seria levantada a proibição. Tal não ocorreu e a proibição manteve-se.
Como o regresso era no Boeing da FAP fiquei com um "belo" problema para resolver - como levar o animal (era pequeno). Teria de ser clandestinamente. Consultei um veterinário que me aconselhou a arranjar uma pequena caixa de cartão com furos e ser-lhe-ia dado sedativos para a viagem. Resolvi arriscar.
Começou a viagem mas, faltava cerca de 1 hora para chegar comecei a sentir o bicho a mexer-se e a ganir. Tinha-me metido numa alhada de todo o tamanho. Arrisquei. Fui falar com um membro da tripulação mas não o Cte de Bordo que era muito meu amigo, mas não tive coragem de o colocar perante um problema disciplinar tão grave. Falei com um cabo especialista (bem haja) . Expliquei-lhe a situação e se me poderia ajudar. Resolveu o problema. Num armário colocou-se lá o animal e aguardamos a aterragem. Tínhamos combinado que seria o último a sair para permitir retirar o animal do esconderijo e sair com ele. Como estava irrequieto atrasei-me para permitir afastar-me o mais possível do resto dos passageiros. Mas, como entrar em Figo Maduro? Pensei atrasar-me tanto que a vigilância se desfizesse. Felizmente não foi preciso porque, ao descer as escadas do avião, avisto do outro lado da cerca a minha mulher e o meu filho. Aí acerquei-me da mesma e atirei-lhes o animal por cima da cerca (rede). Tinha entregue a "encomenda".
Foi uma bela encrenca...
Agora compreender-se-á a minha relutância em ter mais cães."

Foi mais uma experiência que vivi que, hoje ao recordar ainda me causa angústia...

Um abraço

F.Moutinho

VB: Bom-dia Fernando, embora a intervenção tenha “borregado” e ainda me encontre a recuperar dessa situação, já está em marcha a nova intervenção que irá, certamente, correr bem.
Quanto ao transporte do canino, os ZÉS ESPECIAIS sempre foram colaborantes e companheiros, embora nem todos (muito poucos) pensem assim, já esqueceram o passado.