terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Voo 2159 TETE AGRESTE.




Augusto Ferreira
2º SargºMil.Melec./Inst./Av.

COIMBRA



TETE AGRESTE

Decorriam os anos 72/74 no AB7 - TETE em Moçambique, naquela terra do fim do mundo, onde se contavam pelos dedos da mão, as coisas boas que por lá haviam e como se não bastasse, o clima que nos rodeava, também tinha que ser agreste, para ajudar à festa.Calor sufocante de dia e de noite, não fossem as Manicas e as Laurentinas e algum engenho da nossa parte e teríamos ficado desidratados, ou quiçá em algumas alturas “ gratinados”. As imagens que se criaram, de que lá se estrelavam ovos nas asas dos T6G e de que as cabras até comiam papel, na altura de maiores calores e seca, não andavam muito longe da realidade.
Nos períodos de maiores temperaturas (que variavam entre os 35 e 45ºC),a vegetação rasteira desaparecia completamente e praticamente só os majestosos embondeiros, conseguiam manter as suas pequenas folhas. A única zona verde que existia por lá, era a nossa machamba, , que ficava logo à saída da porta de armas. Haviam por lá papaieiras, bananeiras e hortaliças, que eram para consumo interno, sendo tudo tratado pelo nosso pessoal.
Mas quando apareciam as primeiras chuvas, a natureza com se acordasse de um sono profundo, começava de imediato a povoar de verdura todo o espaço, dando a ideia de que o tempo que havia para o fazer, era curto. Concretamente o capim atingia alturas para cima dos dois metros e existiam um pouco por toda a parte.Não era fácil de noite, quando em serviço de ronda, ter que sair do Aeródromo para irmos até ás bombas de água, que nos alimentavam e que estavam instaladas nas margens do rio Revuboe, com três companheiros lá de serviço.
A uma distância de cerca de 2kms, com o capim a emparedar toda a estrada de um lado e do outro, em que a única iluminação existente era a da nossa viatura. Nós levávamos formalmente as G3 em posição de defesa, mas se houvesse alguma coisa…Nestes períodos surgiam grandes bandos de pássaros coloridos (idênticos aos nossos pardais), que pousavam no capim derreando-o, ou nas árvores que existiam dentro do aeródromo. Havia pessoal com alguma disponibilidade, que se sentava debaixo das árvores, com espingarda de 9mm e cada vez que pousava um bando, a cada disparo para a copa, caíam sempre seis ou sete pássaros. Ao final da tarde quando chegávamos ao bar, já lá havia uma tachada deles fritos ou guisados, para acompanhar com as cervejas da colheita do ano.
Depois já se está a adivinhar, com o ZÉ LEAL sempre inserido nestas actividades, era viola e cantorias até ao limite das gargantas e da noite.
Estou a enviar uma foto aérea da cidade de de TETE daqueles tempos, outra próximo do AB7 e uma tirada na machamba.


Uma última tirada em frente ao hangar, com três companheiros nossos que seguram um cordão, com dezenas de pássaros enfiados nele. O Neto, o Eliseu e Vasconcelos.
Não será porventura um quadro bonito, mas retrata a realidade de uma determinada época.Dali estas pequenas aves seguiriam para as mãos dos especialistas em petiscos.
Por agora é tudo, termino enviando o habitual abraço para todos os Zés Especiais da nossa Linha da Frente e amigos que nos visitam.
Para o Comandante Victor Barata que já iniciou alguns voos de treino, os desejos da sua rápida recuperação.

Até breve

Augusto Ferreira