domingo, 3 de abril de 2011

Voo 2226 A MINHA PASSAGEM POR NOVA LAMEGO.




José Ribeiro
Esp.OPC.
Lisboa




Bom Domingo, amigo, Victor.

Em relação ao voo 2223, do camarada de armas, Six, estive na ex-BA12 de 9 de Outubro de 1968 a 14 de Julho de 1970 (21 mês), sendo que exerci sempre as funções de operador de comunicações, junto Centro de Operações "Placa". Quando regressei à Metrópole, voltei a ser colocado no Estado Maior da Força Aérea, na Avenida da Liberdade, Lisboa.

Somente saí da Base Aérea, para outras localidades uma vez, excluindo Safim "comer os saborosos camarões", Tabanca de Bissalanda e Bissau, onde eu e mais camaradas deixava de visitar, uma cervejaria onde me deliciava com as "fabulosas ostras" e umas "bazucas".
Foi o capitão Nico que me fez sair da área já referida, apesar de não ter gostado muito dessa "cena" devido ao risco que se corria e eu não estava nada interessado em arriscar, aliás, não era essa a minha missão, mas tive que ir. Fui num Dakota até ex-Nova Lamego, onde passamos a noite, indo primeiramente ao posto de comunicações, onde já estavam colocados o Castro e o Jesus, dois operadores de comunicações. Não me lembro quem lá estaria antes. Disseram-se se alguma vez atacassem o posto ía tudo pelos ares, já que lá havia diversas barris com combustível junto a ele. No dia seguinte fomos a Guidaje levar abastecimentos, mas não conseguimos aterrar devido a um ataque que estava a acontecer, lembro-me que tivemos que; mandar os abastecimentos do Dakota para a pista e regressamos a Nova Lamego.

Legenda: Vista aérea do Gabu, Nova Lamego.

Seguidamente passamos por Bafatá e logo a seguir BA12. Nessa altura já constava que os "turras" possuíam mísseis, especialmente na mata de Morés, acho que deveria se escrever assim. Lembro-me também, das grandes operações feitas e dos seus efeitos. Pelas minhas mãos passaram muitos relatórios das forças aplicadas e dos resultados, que não poderei divulgar mas que é do conhecimento dos actuantes e não só.

A partir de uma certa altura, por falta de mecânicos de rádio, passei a fazer serviço na Central de Rádio (duas vezes por mês), cuja companhia obrigatória era, duas G3 e umas granadas. Logicamente que não dormia nada (passava pelas brasas). Ouvia os artistas a passar na noite e a falar aquela língua que não percebia, logo por instinto pegava na amiga e metia uma granada no bolso "olha o pêlo". Não tinha medo mas era muito novo para morrer. O facto dos operadores de comunicações irem fazer esse serviço devia-se a facto de não estarem disponíveis os mecânicos de rádio. Sei que antes esteve lá um, mas nunca fiquei a saber para onde tinha sido deslocado, sendo que as funções que me eram cometidas era as de ligar e desligar os emissores/receptores e ajustar as frequências. Eu, por causa das radiações, ligava e desligava os emissores com o cabo de uma vassoura "não arriscava muito". Lembro-me da morte de um grande amigo na altura de armamento e equipamento e o piloto no heli, em Bafatá, se não estou em erro.
Devido ao longo tempo passado, já não me lembro dos nomes dos camaradas de armas que comigo lá passaram um pouco de tempo da nossa mocidade, afinal para nada. Acho que foste a um almoço em Leiria, mas não te reconheci "são muitos anos passados", mas ainda me lembro de vários episódios passados na dita cuja base, mas é difícil descrevê-los ao pormenor. Lembro-me do Nobre, que encontrei em Angola, em 1973. Tinha uma bomba de gasolina ou era sócio, entretanto, deu-se o 25 de Abril e nunca mais o vi. Esse amigo, era um artista, quando ía visitar a palhota junto à Base tinha azar, porque tinha que se deslocar à enfermaria de imediato para tomar umas penicilinas. Chegou ao ponto de se querer enforcar. Eu e outro camarada (não me lembro o nome), fizemos a forca com o arame para secar a roupa. Não é que ele queria lá meter a cabeça. Tivemos que dar um pontapé às caixas de cerveja, senão estava-mos "fritos", Elvas era ali mesmo, tão longe e tão perto.
Tive lá na altura um primo da minha idade, já falecido devido a uma queda "tinha no corpo alojados estilhaços". Foi isso que o levou à morte. Outro amigo da minha terra, estava em Guileje, quando vou a Barcelos estou com ele "passou nessa altura, as passas do Algarve", mas safou-se. Como sabes, todos os dias era atacado, era o dia-a-dia. Nessa altura ía ao CO falar com o capitão Nico, sendo que numa altura dei-me ordem para contactar o falecido general Neto, no sentido de autorizar a sua ida até lá no Fiat G-91, engraçado era que logo que levantava voo deixava de se ouvir o ataque, como sabes em Bissau, ouviam-se muito bem os ataques. Eu desconfiava que havia informadores infiltrados na Base.
Amigo, Victor, se achares conveniente publicita este e-mail.
Cumprimentos especiais e amigos.
JLRibeiro

Voos de Ligação:
Voo 2223 O Destacamento de Nova Lamego - Antonio Six