quinta-feira, 2 de junho de 2011

Voo 2352 UM COMANDANTE DE IDEIAS FIXAS (1)





António Dâmaso
Sargº.Môr Paraqª.
Azeitão





Legenda:
Porta de Armas do BCP 12, vista de fora (Foto do Álbum de memórias do BCP 12)



Legenda:Vista parcial da BA 12 e do BCP 12 (Foto do Álbum de memórias do BCP 12)

A actividade operacional do BCP 12 tinha sido muito intensa naqueles primeiros 7 meses de 1973, o dia da Unidade que se comemorava em 11 de Abril, só se comemorou em finais de Julho quando a última Companhia regressou de Gadamael Porto, isto se errado não estou, as fotos seguintes são uma cortesia para os Especiais que serviram no BCP 12.


Legenda:
O Comandante discursando no dia da Unidade (Foto H BCP 12)

Legenda:Foto de família dos Sargentos do BCP 12 em 1973 (Foto A Dâmaso)

Legenda:Oficiais e Sargentos da CCP 121 em Julho de 1973 (Foto A Dâmaso)


FÉRIAS MUITO DIFÍCEIS DE CONSEGUIR

Não vou aqui apontar os defeitos e virtudes do Senhor até porque, infelizmente já faleceu há muito tempo vitimado por doença.
Depois de ter estado nos infernos de Guidage e Gadamael Porto, arriscando a vida e a saúde, os perigos dos tiros e das gradas tinham ficado para trás, mas as sequelas continuaram a acompanhar-me, cheguei a Bissalanca onde me espreitavam outros perigos não menos nefastos.
“Meti passaporte” para vir cá de férias programadas para dois meses antes, entretanto fiquei estupefacto quando fui chamado ao Comandante do Batalhão, que me disse que eu não vinha de férias porque não me assinava o passaporte e que me ia dar uma “porrada”, (castigo) por eu me ter negado a ir para o mato.
Pensei no que constava no jornal de caserna, que o Comandante dava ordem ao médico para não dar baixas, os pára-quedistas estavam proibidos de adoecer e eu não só desrespeitei essa regra como ainda o desafiei quando requeri uma junta médica.
Aquilo caiu-me mesmo muito mal, fartei-me de lhe dizer que se não fui foi porque realmente não estava em condições, pois até lhe tinha requerido uma junta médica, mas ele continuava a bater na mesma tecla, vi que havia ali uma teimosia, a descambar perigosamente em meu desfavor, sai de lá com umas ideias não muito abonatórias em relação à sua integridade física.
“Porradas”, para mim estava-me nas tintas para elas, o pior eram os seus efeitos, sendo o primeiro o corte das férias que eu estava tanto necessitado e segundo as diuturnidades.
Fui desabafar com o Primeiro-sargento mais antigo da classe, nos pára-quedistas o posto mais alto na classe de Sargentos era Primeiro Sargento, que me acalmou e aconselhou a ir procurar o médico que me tinha assistido em Cacine, assim fiz mas não foi tarefa fácil.

Depois de muitas voltas, fui descobri-lo no Hospital Civil como Anestesista, lá me passou um atestado em como eu estive realmente doente e que me tinha assistido, medicado e indicado um período de convalescença, reconheci a assinatura no notário e fui levar o atestado.
Quando ia levar o atestado à Secretaria do Comando vi um capitão “desenfiado”, chegava a uma esquina espreitava em todas as direcções e depois corria para outra, utilizando o mesmo procedimento até chegar ao local de trabalho, perguntei a alguém que estava por perto se ele se tinha “passado” ou se estava a treinar para algum exercício, foi-me dito que tinha medo do comandante e utilizava o sistema para não se cruzar com ele.
Assisti ainda a outra cena entre o Comandante do BCP 12 e um oficial de Gadamael Porto, responsável pelos géneros enquanto lá estivemos, durante um ataque tinha caído uma granada no Depósito de Géneros, ficando tudo à mão de recolher e muitos militares exímios em golpes de mão, aproveitaram a oportunidade para o saque e fizeram uma limpeza, o citado oficial estava a reclamar o pagamento dos prejuízos, mas teve uma resposta amarga, que certamente não esperava e que foi mais ou menos esta:

-“Desenrasque-se e desapareça-me daqui seu cobarde, senão ainda lhe dou uma porrada!”

Ao oficial não restou outra alternativa senão desaparecer mesmo.
Julgo que o desenrascanço dele foi ter de fazer um auto de abate dos géneros, uma vez fui incumbido de proceder a um auto de abate de umas conservas das rações de combate, que estavam opadas e fartei-me de dar voltas e mais voltas, isto na F.A. não sei como se processava no Exército.
Entretanto, o Comando da Companhia tinha mudado e o 2.º pelotão tinha ficado sem comandante, o Comandante da Companhia entregou-me o comando do 2.º pelotão, que até ali tinha sido dele.

Legenda:No comando do 2.º Pelotão da CCP 121 do BCP 12 (Foto A Dâmaso)

Nesta função participei na Operação Topázio Poderoso em 21 a 22JUL73 na Zona de Cubonge, onde participaram CCP 121, CCP 122, CCP 123 a 4 GC, 3.º/B CAÇ. 4612, Pel. CAÇ. Nat. 58 e Pel. Mil. 302, se não estou em erro, tratou-se de montar segurança quando o Ministro do Ultramar foi a Bissorã inaugurar uma estrada e uma escola.
Nesta operação houve a lamentar a morte de mais um elemento do 3.º Pelotão, o Carvalhinho que era enfermeiro, tinha prestado os primeiros socorros ao Peixoto em Cuféu (Guidage) e depois ajudado no enterro, desta chegou a vez de ele passar a voar mais alto, era um excelente rapaz muito abnegado.
O Comandante do Batalhão, contrariado por não ter por onde me pegar para me punir, acabou por assinar o passaporte, mas foi só quando lhe apeteceu e obrigou-me a vir no mesmo avião que ele, em 10 de Agosto, depois daquilo a que tinha estado submetido, não sentia lá grande simpatia por ele e vice-versa, mas só com o prazer de vir de férias valeu o sacrifício, assim que o DC 6 levantou voo senti-me muito melhor, para trás tinham ficado momentos muito difíceis.

Legenda:Um avião DC 6 da FAP estacionado numa placa de uma Base Aérea


Saudações Aeronáuticas

A. Dâmaso

VB: Bom Dia,Dâmaso.
Julgo poder identificar o nome do personagem que evocas, mas manterei o sigilo por ti iniciado, estive com ele algumas vezes em Teixeira Pinto.
As tuas histórias vividas na primeira pessoa, são de facto um grande enriquecimento para este nosso espaço, pena é que mais camaradas nossos com excelentes passagens também não possam ou não queiram colaborar
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